Aos prantos, Jairinho falou que o hospital errou no atendimento e se disse inocenteSandro Vox

Rio - O depoimento do ex-vereador Dr. Jairinho, realizado nessa segunda-feira (13), no plenário do Segundo Tribunal do Júri (STJ-RJ), durou mais de sete horas e foi marcado por uma série de acontecimentos e pedidos feitos pela defesa.

De manhã, uma discussão de cerca de 15 minutos atrasou a oitiva de julgamento. Marcada para às 9h30, a audiência só foi iniciada depois das 11h30, devido a um debate entre os advogados de defesa e a juíza Elizabeth Machado Louro. Segundo o advogado Claudio Dalledone, a magistrada o proibiu de transitar pelo plenário.

A alegação do advogado de Jairinho afirmou que a juíza lhe chamou de "deselegante" e "cínico". Dalledone acrescentou que move uma ação no Conselho Nacional de Justiça contra a magistrada.

No início da sessão, uma equipe de oito advogados de Jairinho se postou de pé no plenário, ao lado do réu. A juíza solicitou que o grupo se sentasse à bancada, mas os advogados resistiram. A discussão durou cerca de 20 minutos até que a defesa do réu concordasse com a ordem da magistrada.

Apenas às 11h52, a juíza concedeu a palavra a Jairinho. O ex-vereador pediu para fazer uma explanação antes de ser interrogado, o que não foi concedido pela juíza, em seguida, afirmou que só responderia às perguntas da defesa. O ex-vereador iniciou 11h56 a explanação que pretendia, já que a sua advogada Flávia Fróes solicitou que ele fizesse um relato livre.

Em sua fala, Jairinho jurou por Deus que não agrediu Henry. "Eu juro por Deus que nunca encostei em nenhuma criança. Sou nascido e criado em Bangu, meus pais são casados há 50 anos. Minha família é pautada no amor. Eu nunca apanhei do meu pai e da minha mãe", afirmou.


O ex-vereador negou envolvimento na morte de Henry e, em certo momento, pediu para a juíza Elizabeth Machado Louro fizesse "um teste de lógica" com ele e suplicou para ter acesso às imagens das câmeras de segurança do Hospital Barra D’Or.

"O Henry era muito branco. Se ele tivesse chegado (no hospital) machucado, todo mundo ia ver. Ele não tinha nenhum sinal de agressão. É humanamente impossível chegar com uma criança com hematomas e ninguém perceber. O Conselho Tutelar ia ser chamado na mesma hora", afirmou.
A alegação seria de que Henry teria lesões internas, como apontou o atestado de óbito, pelo fato dele ter passado por uma massagem cardíaca de duas horas na unidade de saúde.

"No hospital o Henry tinha acesso venoso em todas as partes do corpo. Ali era um lugar de grande porte. Se eu levasse ele, por exemplo, para o Souza Aguiar, eles não fariam duas horas de massagem de ressuscitação, pode ter certeza", disse.

Aos prantos, o ex-vereador falou que o hospital errou no atendimento, se disse inocente e alegou de que não teria feito nada com Henry.

"Eu juro por Deus, pela minha alma, pelo meu filho de nove anos que é minha paixão. Eu não fiz nada com o Henry. Pelo amor de Deus, o que está acontecendo?", perguntou.

Perto do fim de seu interrogatório, deteve-se em questionar o laudo da necropsia feito pelo perito Leonardo Tauil. O ex-vereador afirmou que o documento é falso, já que Tauil não viu o corpo de Henry.

"Ele mente. Ele não viu o corpo. Quando temos um pneumotórax, e o pulmão está encostado do lado direito, e ele descreve que o pulmão está contundido, ele (perito) está mentindo. Com vamos acreditar que ele viu a laceração hepática, se nós temos a prova incontestável, que ele não viu o corpo?", afirmou.

Flávia Fróes, uma das advogadas de Jairinho, disse que não tem dúvidas de que o exame de raio-X feito em Henry esclarecerá que seu cliente é inocente: "É interesse de todos saber se o menino Henry foi assassinado, se morreu acidentalmente, ou se foi devido ao atendimento médico."

Flávia afirmou ainda que Henry não chegou sem vida ao hospital. "O prontuário médico hospitalar não diz que ele (Henry) chegou morto. As próprias médicas não disseram isso em depoimento", disse.

Próximo ao fim do interrogatório, Jairinho disse que está perdendo a vontade de viver e pediu por justiça.

"Estou perdendo a vontade de viver. Peço por favor que façam justiça. Eu não aguento mais, nem minha família. Eu vou sair daqui hoje e parece que vou morrer", finalizou.

Durante o depoimento de Jairinho, a juíza Elizabeth Machado Louro acatou os pedidos da defesa de busca e apreensão das imagens das câmeras de monitoramento Hospital Barra D’Or. O prazo para entrega do material se inicia nesta terça-feira (14). À época, a direção da unidade de saúde alegou que toda a documentação relacionada ao atendimento prestado a Henry foi entregue às autoridades.

Elizabeth determinou também a entrega do segundo raio-X feito em Henry; o depoimento do radiologista, auxiliares de necropsia e da enfermeira; a realização da reprodução simulada no hospital; checagem do horário que consta na câmera do elevador do prédio onde eles (Jairinho e Monique) moravam; a escala de plantão e certificado dos profissionais de saúde do hospital.

O prazo para a elaboração desse material é de cinco dias a partir desta terça-feira (14).