A estudante de Ciências Sociais, Alícia Cristina, 19, foi uma das que se mobilizaram no domingo para informar a universidade das ameaçasBeatriz Perez/ Agência O DIA

Rio - Após dois dias afastados das atividades acadêmicas por questões de segurança, estudantes e funcionários da Unirio retornaram aos campi da Urca nesta quarta-feira. Os portões ficaram fechados na segunda e na terça-feira depois de um aluno ter ameaçado um atentado contra a unidade. Nesta quarta-feira (22), policiais da 10ª DP (Botafogo) colhem o depoimento de sete colegas do jovem, que está com o pai em Minas Gerais. 
O prédio do curso de Sistemas de Informação, no Centro de Ciências Exatas e Tecnologia, onde o autor das ameaças estuda, estava com o movimento muito abaixo do normal. O portão deste campus, na Avenida Pasteur, 458, que costuma ficar aberto, nesta quarta (22) estava fechado. Um aviso indicava que pedestres deveriam entrar pelo Centro de Letras e Artes, na mesma rua, número 436.
O portão do Campus 458, da Unirio na Urca, permaneceu fechado nesta terça-feira - Beatriz Perez/ Agência O DIA
O portão do Campus 458, da Unirio na Urca, permaneceu fechado nesta terça-feiraBeatriz Perez/ Agência O DIA



A estudante de Ciências Sociais, Alícia Cristina, 19, foi uma das que se mobilizaram no domingo para informar a universidade das ameaças. Ela contou que só voltou para a faculdade após acompanhar o trabalho das autoridades.
"Rapidamente nos mobilizamos e acionamos grupo de professores. Foram dias de susto. A gente ficou meio receoso e deixamos claro que só voltaríamos à universidade quando as autoridades tomasse alguma atitude, quando tudo se resolvesse. Ele não é mais uma ameaça. Agora tem como voltar", avaliou.
Estudante de Ciências Biológicas, Marcos Felipe Fernandes, 25, retornou 'com um pé atrás' à Unirio nesta terça-feira (22) - Beatriz Perez/ Agência O DIA
Estudante de Ciências Biológicas, Marcos Felipe Fernandes, 25, retornou 'com um pé atrás' à Unirio nesta terça-feira (22)Beatriz Perez/ Agência O DIA


Estudante de Ciências Biológicas, Marcos Felipe Fernandes, 25, soube por meio de uma nota da reitoria o que havia acontecido. Ele disse que retornou nesta quarta-feira à universidade "com um pé atrás". Mas, avaliou como correta a postura da universidade de suspender as aulas.

"Foi um absurdo. Suspender as aulas era o mínimo. A gente fica pensando em uma possível ameaça. Pode ter outra pessoa assim também. Ficamos com um pouco de pé atrás. Viemos (para a faculdade), mas ainda com um pouco de medo”, comentou Marcos, que ressaltou o estresse acrescido dos alunos que já estavam preocupados com a carga de trabalho e provas para entregar.

Algumas atividades foram adiadas por conta do incidente. No domingo, circulou entre os alunos um aviso de cuidado após o estudante do curso de Sistemas de Informação publicar um vídeo, posteriormente apagado, afirmando que iria cometer um atentado contra a unidade.

Uma festa junina que estava sendo preparada para esta quinta-feira pelos alunos do curso de Teatro foi adiada por precaução. Os colegas Mariana Nunes, 18, e Paulo Vitor de Oliveira, 19, tiveram uma prova remarcada para semana que vem. Eles contam que se sentem com medo após o incidente.

"A gente está com medo. Tenso com tudo que aconteceu. Assim que ele voltar, a gente não tem mais a certeza de ter um dia normal. Ele pode surtar outra vez sem avisar na internet e ter um desastre", comentou Mariana.
Preocupado, Paulo Vitor de Oliveira, 19, falou para a mãe que não havia ido à aula por sintomas de covid-19 - Beatriz Perez/ Agência O DIA
Preocupado, Paulo Vitor de Oliveira, 19, falou para a mãe que não havia ido à aula por sintomas de covid-19Beatriz Perez/ Agência O DIA


Paulo contou que ficou assustado com a situação e decidiu até mentir para a mãe para preservá-la. "Eu menti para a minha mãe. Falei que faltei por dois dias por causa de covid em vez de falar que o filho dela está indo para uma faculdade que alguém ameaçou matar todo mundo. Só que ela descobriu e ficou nervosa", afirmou o estudante.
Estudante de História, Diego Lopes, 23, defende que as atividades acadêmicas sejam retomadas - Beatriz Perez/ Agência O DIA
Estudante de História, Diego Lopes, 23, defende que as atividades acadêmicas sejam retomadasBeatriz Perez/ Agência O DIA


Estudante de História, Diego Lopes, 23, chegou nesta quarta-feira à Unirio dividido. Ele afirmou que ao mesmo tempo que não se sente seguro, também defende a retomada das atividades. "Difícil dizer que me sinto seguro. Foi um caso muito diferente, a gente não esperava que um aluno tivesse esse comportamento. Eu vi que a faculdade tomou as providências necessárias. Acho que faculdade não poderia ficar muito tempo parada por conta desse acontecimento, acho que fez o certo", afirmou.
Segurança reforçada
A Unirio afirmou na tarde de terça-feira (22) que além de acionar as autoridades competentes, também tomou algumas providências internas. Foi estabelecido contato com a família do estudante que realizou a ameaça e foi oferecido profissional especializado para o acolhimento e o acompanhamento pessoal e familiar. Também foi aberto um procedimento disciplinar apuratório interno para determinar as medida que serão aplicadas ao aluno.

O monitoramento por câmeras e a iluminação dos campi foram reforçados. Neste contexto, como medida adicional de controle de acesso à Universidade, a equipe de vigilância pode solicitar a identificação na entrada, com apresentação de carteiras de identidade, funcional ou de estudante.
O chefe de segurança da Unirio, Antonio Carlos Pinheiro, 51, afirmou que nunca havia enfrentado esse tipo de situação - Beatriz Perez/ Agência O DIA
O chefe de segurança da Unirio, Antonio Carlos Pinheiro, 51, afirmou que nunca havia enfrentado esse tipo de situaçãoBeatriz Perez/ Agência O DIA


Antonio Carlos Pinheiro, 51, é chefe de segurança da Unirio há 27 anos. Ele afirmou que nunca havia enfrentado esse tipo de situação. Na entrada do Campus 436 na manhã desta quarta-feira ele garantiu que a universidade está segura.

"Os alunos estão voltando normalmente. Agora a gente está cobrando só o crachá dos funcionários e dos alunos também. Foi só um susto, mas nada demais. Graças a Deus está tudo tranquilo. Nunca tinha visto isso acontecer. Já tinha visto em colégio. Mas na universidade, nunca tinha visto”, contou.
Pianista da universidade, Maria Luiza Lundbergh, 65, afirmou que a Unirio é uma comunidade de paz e amizade - Beatriz Perez/ Agência O DIA
Pianista da universidade, Maria Luiza Lundbergh, 65, afirmou que a Unirio é uma comunidade de paz e amizadeBeatriz Perez/ Agência O DIA


Pianista da universidade, Maria Luiza Lundbergh, 65, também conta que nunca havia visto situação parecida na universidade. Ela disse que ficou impactada pela suspensão das aulas por conta da ameaça. Mas, reforçou que a Unirio tem uma comunidade acadêmica de paz.

"Essas coisas a gente vê muito nos Estados Unidos, me impactou bastante. Eu fiquei arrasada. Mas, vida que segue. Vamos continuar. A grande maioria das pessoas são bacanas, querem o bem do outro. A Unirio é uma comunidade de muita paz e amizade", lembrou.
O casal Ursula e Antonio Carlos sentiu no bolso a suspensão das aulas esta semana - Beatriz Perez/ Agência O DIA
O casal Ursula e Antonio Carlos sentiu no bolso a suspensão das aulas esta semanaBeatriz Perez/ Agência O DIA


Quem também foram afetados pelo caso foram os vendedores de lanches da universidade. Ursula e Antonio Carlos montam todos os dias sua banca na entrada do campus da Urca. Na segunda e na terça-feira, no entanto, foram para não encontrar ninguém e retornar para casa. A venda de salgados, balas, bolo e café complementam a aposentadoria de Antonio e ajudam a pagar as contas e colocar comida na casa da família.

"Segunda-feira e ontem cheguei a vir com a mercadoria e dei meia-volta. Ficou meio difícil. É um ganha-pão. Um complemento diário que faz falta", contou Antônio. A esposa do vendedor ressalta o impacto do fechamento da universidade.

"Quando a universidade não funciona, é um dia que você perde de vendas. No momento, é o que está sustentando a gente. Acho que todo mundo está passando dificuldade por causa da pandemia. Tem muita gente desempregada. As coisas estão muito caras no mercado", afirmou Ursula Faria Vale de Almeida, 43.

O coordenador-geral do Diretório Central dos Estudantes da Unirio, Matheus Travassos, avaliou que a universidade fez uma boa comunicação do retorno das aulas e que não há relatos de dificuldades dos estudantes nesta quarta-feira. Ele elogiou que o bandeijão e o transporte entre os campus foram retomados.

"A gente fica triste pela situação toda. Mas, pelo menos ele já foi encaminhado pra Minas, vai voltar com tratamento (psiquiátrico). Avisaram ontem que as aulas iriam retornar, então até agora a gente não encontrou nenhum estudante com dificuldade de vir para a universidade", afirmou.   
Ficaram suspensas no início desta semana as atividades nos campi da Urca, são elas o Centro do Ciências Exatas e Tecnologia (CCET), o Centro de Letras e Artes (CLA), o Centro de Ciências Humanas e Sociais (CCH) e o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS), além da Biblioteca Central e do Restaurante Escola.
O caso é investigado pelas polícias Federal e Civil, além da Advocacia-Geral da União (AGU), informou a Unirio. Nesta quarta-feira (22), policiais civis cumpriram cinco mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao estudante no Rio de Janeiro e em Teresópolis, na Região Serrana. O delegado responsável pelo caso, Daniel Rosa, confirmou que o homem está na casa do pai, no Estado de Minas Gerais. "Hoje estamos ouvindo outros sete estudantes da Unirio do curso dele", acrescentou.