A estudante de Ciências Sociais, Alícia Cristina, 19, foi uma das que se mobilizaram no domingo para informar a universidade das ameaçasBeatriz Perez/ Agência O DIA
A estudante de Ciências Sociais, Alícia Cristina, 19, foi uma das que se mobilizaram no domingo para informar a universidade das ameaças. Ela contou que só voltou para a faculdade após acompanhar o trabalho das autoridades.
Estudante de Ciências Biológicas, Marcos Felipe Fernandes, 25, soube por meio de uma nota da reitoria o que havia acontecido. Ele disse que retornou nesta quarta-feira à universidade "com um pé atrás". Mas, avaliou como correta a postura da universidade de suspender as aulas.
"Foi um absurdo. Suspender as aulas era o mínimo. A gente fica pensando em uma possível ameaça. Pode ter outra pessoa assim também. Ficamos com um pouco de pé atrás. Viemos (para a faculdade), mas ainda com um pouco de medo”, comentou Marcos, que ressaltou o estresse acrescido dos alunos que já estavam preocupados com a carga de trabalho e provas para entregar.
Algumas atividades foram adiadas por conta do incidente. No domingo, circulou entre os alunos um aviso de cuidado após o estudante do curso de Sistemas de Informação publicar um vídeo, posteriormente apagado, afirmando que iria cometer um atentado contra a unidade.
Uma festa junina que estava sendo preparada para esta quinta-feira pelos alunos do curso de Teatro foi adiada por precaução. Os colegas Mariana Nunes, 18, e Paulo Vitor de Oliveira, 19, tiveram uma prova remarcada para semana que vem. Eles contam que se sentem com medo após o incidente.
"A gente está com medo. Tenso com tudo que aconteceu. Assim que ele voltar, a gente não tem mais a certeza de ter um dia normal. Ele pode surtar outra vez sem avisar na internet e ter um desastre", comentou Mariana.
Paulo contou que ficou assustado com a situação e decidiu até mentir para a mãe para preservá-la. "Eu menti para a minha mãe. Falei que faltei por dois dias por causa de covid em vez de falar que o filho dela está indo para uma faculdade que alguém ameaçou matar todo mundo. Só que ela descobriu e ficou nervosa", afirmou o estudante.
Estudante de História, Diego Lopes, 23, chegou nesta quarta-feira à Unirio dividido. Ele afirmou que ao mesmo tempo que não se sente seguro, também defende a retomada das atividades. "Difícil dizer que me sinto seguro. Foi um caso muito diferente, a gente não esperava que um aluno tivesse esse comportamento. Eu vi que a faculdade tomou as providências necessárias. Acho que faculdade não poderia ficar muito tempo parada por conta desse acontecimento, acho que fez o certo", afirmou.
O monitoramento por câmeras e a iluminação dos campi foram reforçados. Neste contexto, como medida adicional de controle de acesso à Universidade, a equipe de vigilância pode solicitar a identificação na entrada, com apresentação de carteiras de identidade, funcional ou de estudante.
Antonio Carlos Pinheiro, 51, é chefe de segurança da Unirio há 27 anos. Ele afirmou que nunca havia enfrentado esse tipo de situação. Na entrada do Campus 436 na manhã desta quarta-feira ele garantiu que a universidade está segura.
"Os alunos estão voltando normalmente. Agora a gente está cobrando só o crachá dos funcionários e dos alunos também. Foi só um susto, mas nada demais. Graças a Deus está tudo tranquilo. Nunca tinha visto isso acontecer. Já tinha visto em colégio. Mas na universidade, nunca tinha visto”, contou.
Pianista da universidade, Maria Luiza Lundbergh, 65, também conta que nunca havia visto situação parecida na universidade. Ela disse que ficou impactada pela suspensão das aulas por conta da ameaça. Mas, reforçou que a Unirio tem uma comunidade acadêmica de paz.
"Essas coisas a gente vê muito nos Estados Unidos, me impactou bastante. Eu fiquei arrasada. Mas, vida que segue. Vamos continuar. A grande maioria das pessoas são bacanas, querem o bem do outro. A Unirio é uma comunidade de muita paz e amizade", lembrou.
Quem também foram afetados pelo caso foram os vendedores de lanches da universidade. Ursula e Antonio Carlos montam todos os dias sua banca na entrada do campus da Urca. Na segunda e na terça-feira, no entanto, foram para não encontrar ninguém e retornar para casa. A venda de salgados, balas, bolo e café complementam a aposentadoria de Antonio e ajudam a pagar as contas e colocar comida na casa da família.
"Segunda-feira e ontem cheguei a vir com a mercadoria e dei meia-volta. Ficou meio difícil. É um ganha-pão. Um complemento diário que faz falta", contou Antônio. A esposa do vendedor ressalta o impacto do fechamento da universidade.
"Quando a universidade não funciona, é um dia que você perde de vendas. No momento, é o que está sustentando a gente. Acho que todo mundo está passando dificuldade por causa da pandemia. Tem muita gente desempregada. As coisas estão muito caras no mercado", afirmou Ursula Faria Vale de Almeida, 43.
O coordenador-geral do Diretório Central dos Estudantes da Unirio, Matheus Travassos, avaliou que a universidade fez uma boa comunicação do retorno das aulas e que não há relatos de dificuldades dos estudantes nesta quarta-feira. Ele elogiou que o bandeijão e o transporte entre os campus foram retomados.
"A gente fica triste pela situação toda. Mas, pelo menos ele já foi encaminhado pra Minas, vai voltar com tratamento (psiquiátrico). Avisaram ontem que as aulas iriam retornar, então até agora a gente não encontrou nenhum estudante com dificuldade de vir para a universidade", afirmou.
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