A estudante Camillie Pereira diz que sofreu ofensas preconceituosas de taxista Arquivo Pessoal

Rio - Desde o último domingo (10), a estudante Camillie Pereira, de 19 anos, escuta por diversas vezes ao dia uma frase que se repete no seu ouvido: "Sua Filha da P**, tô aqui na porta, sua macaca. Não tô à disposição de macaca". A estudante acusa o taxista Luiz Henrique Câmara Figueira, de 55 anos, de proferir injúrias raciais na noite de domingo. As ofensas teriam ocorrido quando a jovem saía de uma festa no Méier, Zona Norte da cidade, após ela ter consultado o aplicativo de táxi da Prefeitura do Rio. A estudante, porém, preferiu ir com um motorista de outro aplicativo devido ao menor preço da corrida.

Abalada com o ocorrido, Camillie disse que ao ouvir as palavras da pessoa do outro lado da rua sentiu como se tivesse levado um tapa no rosto: "Fiquei trêmula, minha nuca doía, eu me bati. Foi horrível", conta a estudante. De acordo com Camillie, as ofensas foram testemunhadas pelo motorista de outro aplicativo que a levava acompanhada da mãe, também negra. Após as ofensas, a vítima procurou uma viatura policial, que abordou o taxista suspeito de fazer as ofensas.

O taxista, a mãe da jovem, Camille e o motorista do outro aplicativo foram levados pelos policiais militares para a 26ª DP (Todos os Santos), onde o caso foi classificado como "Injúria por preconceito", na madrugada de segunda-feira (11). A Polícia Civil informou que as investigações estão em andamento.

"Ele negou tudo. Disse que me ligou, mas não falou nada daquilo (as ofensas). Mas, de dentro da delegacia, eu liguei para o número que me ligou e o telefone dele (o taxista) tocava". Segundo a estudante, ela é nascida e criada em uma favela na Zona Norte da cidade, da qual se mudou recentemente. E, por muitas vezes, na escola, sofria preconceito. "Eram coisas mais leves, nunca desse jeito".

Segundo Camillie, ao chegar ao local onde estava, o taxista teria perguntado à mãe dela sobre ela. A família acredita que a pessoa que fez as ofensas visualizou as duas mulheres negras (mãe e filha), antes de fazer as ofensas. A moça, que sonha em cursar faculdade de geologia, já gravou músicas de rapper ao lado do pai, Fernando Pereira, o Nando-E, que, além de músico, também é taxista. Ele conta que já teve corridas canceladas por passageiros, ao chegar no local, mas que nunca agiu com ofensas e grosserias.
"Fizemos denúncias à Secretaria Municipal de Transporte a ao aplicativo de táxi da prefeitura. Não busco um processo contra ele (o taxista), estou apenas defendendo a minha filha. Entendo a profissão dele, mas isso não o dá o direito de ofender as pessoas. Somos crias da favela, negros e passamos por situações de preconceito constantemente", diz o pai da jovem lembrando que ela sofre com atos de preconceito desde a infância.
Problemas externados em rapper
Ao lado do pai, Camille gravou uma música falando sobre os problemas enfrentados pelas favelas. Além disso, a jovem já gravou clipe com outras meninas falando sobre o empoderamento feminino e das lutas das mulheres. "Sua atitude sempre me consome", diz um trecho da música que afirma: "Machistas e racistas não passarão".
O outro lado da história
Procurado pelo Dia, o taxista suspeito de ter feito as ofensas nega a versão contada pela estudante. "Eu liguei para ela na hora em que cheguei à porta do clube para avisar que havia chegado. Ela chamou uma corrida pelo App. Por isso, liguei. Só para ilustrar, minha mulher é uma negra. Não faço ideia do que aconteceu. De verdade. Espero que se elucide", disse o taxista em um primeiro momento.
Em seguida, Figueira se mostrou irritado com a situação: "Estive na delegacia, peguei o BO (boletim de ocorrência) e vou fazer andar. Nunca havia entrado em uma delegacia na condição de acusado. Injusto, eu nem havia visto ela. Sou casado com uma negra há 12 anos, uma mulher extremamente digna. Não sou nenhum analfabeto ou ignorante para xingar uma pessoa com injúrias raciais. Muito menos com as minhas raízes. Vou processá-la para que pense duas vezes antes de constranger um pai de família novamente".
Ao Dia, a Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) informou que o aplicativo Táxi.Rio Cidades é o intermediador de corridas entre taxistas e passageiros. Também afirmaram que prezam que os usuários tenham a melhor experiência possível na utilização na plataforma. A IplanRio, Empresa Municipal de Informática da Prefeitura do Rio, já está apurando os fatos com a Secretaria Municipal de Transportes, ouvindo o taxista e a passageira quanto ao caso relatado. Caso confirmadas as acusações, no âmbito do processo apuratório, a permissão do acusado será cassada. A Prefeitura orienta, caso alguém tenha outras denúncias sobre esse taxista, para encaminhar para o 1746.