Rio - Uma testemunha, que preferiu não se identificar, afirmou ao DIA que o suspeito morto na noite de segunda-feira (18), na Lapa, no Centro do Rio, não estava armado, ao contrário do que diz a Polícia Civil. A pessoa que estava no local no momento em que Emanuel Ramos de Oliveira, de 20 anos, foi baleado afirmou que os policiais atiraram à queima-roupa, sem que o jovem tivesse reação.
No entanto, agentes da 5ª DP (Mem de Sá) afirmam que o suspeito foi baleado ao tentar reagir à abordagem dos policiais, fazendo o movimento de que sacaria uma arma que estava na cintura. Ainda de acordo com a ocorrência policial, com Emanuel foi apreendido um simulacro de uma arma. O suspeito possui 15 anotações criminais, dentre elas tráfico de drogas e roubo.
"Ele estava desarmado e não resistiu à prisão. O policial simplesmente não quis prender, preferiu matar à queima-roupa com um tiro na cabeça. Se ele tinha ou não 15 anotações criminais, isso não importa. Era uma vida e estava desarmado, essa atitude policial não tem lógica. Nem o bandido mais perigoso do mundo merece morrer, quando já está mobilizado", afirma.
A testemunha relatou ainda que não viu nenhum confronto entre criminosos e policiais durante a ação. "Só se eles estavam trocando tiros com eles mesmos, porque o despreparo é nítido. Eu não vi ninguém armado e atirando, além da polícia. O que eu vi foi moradores de rua revidando com pedras". A Polícia Civil disse que não houve confronto na ocorrência.
Houve protesto de moradores nas ruas da região após a ação dos agentes. Um ônibus foi incendiado e barricadas de fogo foram colocadas nas vias. "Não entendi o porquê dessa covardia, já que a justiça está aí para prender e não para matar. Eles não tinham que tirar a vida do garoto. Tiraram por que é negro?", indagou uma moradora.
Advogada que ajudou família do suspeito foi agredida no IML
Já nesta terça-feira (19), a família de Emanuel esteve no Instituto Médico Legal (IML) do Rio para liberar o corpo do jovem. No entanto, segundo a advogada Vanessa Lima, que foi ao local a pedido da família para prestar apoio, ela foi agredida por um policial civil da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) no interior do IML.
"Por volta das 9h esse policial chamou a companheira do Emanuel e a mãe dele para serem ouvidas. Então eu fui atrás para que pudesse acompanhá-las, mas ele não deixou. Disse que eu não poderia entrar. Eu expliquei que era um direito da família ser assistida por um advogado durante o depoimento, mas ele não aceitou. Eu insisti em acompanhar a família e foi então que ele me pegou pelo braço, me levantou e me arrastou por cerca de um metro e me soltou. A família, então, também saiu comigo e disse que não iria depor. Em um outro momento esse mesmo policial voltou a insistir que elas prestassem depoimento. Eu voltei a perguntar se eu poderia entrar junto, mas ele não deixou, de novo. Eu o avisei que ele estava violando o direito da família", relata.
Vanessa acredita que se fosse um homem no lugar dela, o policial não teria agido daquela forma. Contou ainda que ouviu relatos de pessoas que já presenciaram outras atitudes violentas por parte do agente. "Eu fiquei muito abalada pela forma que eu fui tratada. Logo depois a mãe e companheira foram embora com medo de serem abordadas novamente por esse policial. Como o corpo de Emanuel ainda não tinha chegado ao IML, elas deixaram um irmão aguardando no lugar delas. O corpo chegou somente por volta das 13h", disse.
A advogada registrou uma queixa na Corregedoria Geral da Polícia Civil e passou por exame de corpo de delito nesta tarde. Vanessa ainda prestará depoimento sobre o ocorrido. O agente pode responder por vias de fato e abuso de autoridade. O advogado Rodrigo Mondego, vice-presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos e integrante da comissão temática da OAB-RJ, esteve no IML para dar suporte à advogada.
Em nota nesta terça-feira, a Civil informou que a investigação está em andamento na DHC. A perícia foi realizada no local e diligências estão em andamento.
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