Emanuel Ramos morreu baleadoDivulgação

Rio - O corpo de Emanuel Ramos de Oliveira, de 20 anos, será sepultado na tarde desta quarta-feira (20) no cemitério de Inhaúma, na Zona Norte. O jovem foi morto na noite de segunda-feira (18), por policiais civis durante uma operação na Lapa, no Centro do Rio.

Após a morte, moradores do entorno do bairro fizeram manifestações nas proximidades dos Arcos da Lapa. Um ônibus foi apedrejado e incendiado e barricadas com fogo foram colocadas em algumas ruas para impedir a passagem de carros e ônibus. Alguns carros e lojas comerciais também foram alvo de pedradas.

Moradores do bairro acusam a polícia de atirar contra os suspeitos de tráfico de drogas durante a operação sem haver troca de tiros. Testemunhas informaram que no momento da invasão dos agentes, crianças e famílias ficaram em meio aos disparos dentro do casarão, onde Emanuel foi morto.

"Pegaram ele na covardia, aqui cheio de criança, veio polícia disfarçado, começou a dar tiro aqui na rua, poderia ter baleado uma criança, deram cinco tiros na cara dele, deixaram ele caído na escada", disse uma das testemunhas.

"Não tinha arma nenhuma, tiraram a vida dele a troco de nada. Deram tiro no casarão com um monte de criança dentro, com um monte de família dentro", relatou outra testemunha.

Uma testemunha, que preferiu não se identificar, afirmou ao Dia que o suspeito não estava armado, contrariando o que foi dito pela polícia, e que havia se rendido sem resistir à prisão. "Ele estava desarmado e não resistiu à prisão. O policial simplesmente não quis prender, preferiu matar à queima-roupa com um tiro na cabeça. Se ele tinha ou não 15 anotações criminais, isso não importa. Era uma vida e estava desarmado, essa atitude policial não tem lógica. Nem o bandido mais perigoso do mundo merece morrer, quando já está mobilizado", afirma.

Porém, agentes da 5ª DP (Mem de Sá) afirmam que o suspeito foi baleado ao tentar reagir à abordagem dos policiais, fazendo o movimento de que sacaria uma arma que estava na cintura. Ainda de acordo com a ocorrência policial, com Emanuel foi apreendido um simulacro de uma arma. O suspeito possui 15 anotações criminais, dentre elas tráfico de drogas e roubo.

Além disso, a advogada Vanessa Lima, que acompanhou a família de Emanuel no Instituto Médico Legal (IML) do Rio para liberar o corpo do jovem, alega ter sido agredida por um policial civil da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) no interior do IML.

"Por volta das 9h esse policial chamou a companheira do Emanuel e a mãe dele para serem ouvidas. Então eu fui atrás para que pudesse acompanhá-las, mas ele não deixou. Disse que eu não poderia entrar. Eu expliquei que era um direito da família ser assistida por um advogado durante o depoimento, mas ele não aceitou. Eu insisti em acompanhar a família e foi então que ele me pegou pelo braço, me levantou e me arrastou por cerca de um metro e me soltou. A família, então, também saiu comigo e disse que não iria depor. Em um outro momento esse mesmo policial voltou a insistir que elas prestassem depoimento. Eu voltei a perguntar se eu poderia entrar junto, mas ele não deixou, de novo. Eu o avisei que ele estava violando o direito da família", relata.

Segundo Vanessa, ela ouviu relatos de pessoas que afirmam já ter presenciado o agente agir de forma violenta outras vezes. "Eu fiquei muito abalada pela forma que eu fui tratada. Logo depois a mãe e companheira foram embora com medo de serem abordadas novamente por esse policial", disse.

A advogada registrou uma queixa na Corregedoria Geral da Polícia Civil e passou por exame de corpo de delito nesta tarde. Vanessa ainda prestará depoimento sobre o ocorrido. O agente pode responder por vias de fato e abuso de autoridade. O advogado Rodrigo Mondego, vice-presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos e integrante da comissão temática da OAB-RJ, esteve no IML para dar suporte à advogada.

A Polícia Civil foi procurada e informou que a investigação está em andamento na DHC.