Sepultamento do advogado Victor Stephen, morto no Campo de Santana durante um assalto no Centro.Sandro Vox / Agência O Dia

Rio - Foi sepultado no fim da manhã desta segunda-feira (25) o corpo de Victor Stephen Coelho Pereira, de 27 anos, no Cemitério do Caju, Zona Norte do Rio. O advogado foi morto a facadas na madrugada do último sábado (23), nas imediações da Praça da República, no Centro, quando saía de uma festa com os amigos.
No início da manhã, familiares e amigos começaram a chegar no velório do jovem. Durante a despedida, a professora de Direito Internacional e ex-orientadora de Victor, Alexandria Alexim, lamentou que o advogado, definido por muitos como pacifista, acabou sendo vítima da criminalidade do Rio.

"Ele defendia tanto essa questão da paz mundial e ele morre justamente como consequência, como vítima, de uma situação inexplicável", desabafou. E completou, falando sobre a perda precoce. "Foi um crime bárbaro. Cada dia que passa nós ficamos mais revoltados e revoltadas com essa situação, porque uma pessoa jovem, com início de carreira, tinha um futuro brilhante pela frente como advogado, como pesquisador e parte dessa forma tão brutal, tão cruel, uma barbárie".

A principal linha de investigação da polícia é que Victor tenha sido atacado a facadas por criminosos durante um assalto, já que teve seus pertences roubados, quando voltava sozinho de uma festa, por volta das 3h da madrugada.

João Chamarelli, de 36 anos, amigo de Victor desde a faculdade, contou que era comum para os amigos se reunirem em festas às sextas-feiras. "A notícia que chegou até nós é que ele saiu do escritório, teria ido se reunir com os amigos, o que é prática comum, já fazíamos isso na universidade, nos reuníamos às sextas-feiras e depois caminhávamos para o metrô", disse.

Para ele, a morte de Victor é consequência da falta de policiamento e abandono da Região Central do Rio

"O Centro do Rio de Janeiro hoje vive num completo estado de vulnerabilidade. Vivemos um abandono, advento também da pandemia, que é onde vários prédios foram esvaziados, porém sentimos falta de uma intensificação da segurança pública. E a pergunta que a gente deixa para o governo é: Até quando isso continuará? Porque nós nos tornamos verdadeiros berços de mal feitores", desabafou.

João também comentou sobre a família de Victor, que preferiu não falar com a imprensa. Além disso, destacou que a vítima era um dos 'raros casos de unanimidade' onde quer que fosse.

"Eu acabei de encontrar a mãe dele, o irmão, estão todos muito abalados, os amigos estão chegando e é uma perda enorme para o meio acadêmico, para os amigos, mas sobretudo pra sociedade. Hoje nós estamos sepultando o que, vocês podem ter certeza, seria um grande expoente da paz nessa cidade e talvez da política. O Vitor era um daqueles raros casos de unanimidade, era uma figura única", disse ele.

Imagem essa que é reforçada por sua ex-orientadora. "O Victor sempre foi muito gentil, educado, carinhoso, ele era querido por todos os professores e todos os acadêmicos", relembrou.

Planos para carreira acadêmica
Victor havia se formado em 2020 no curso de direito pela Universidade Cândido Mendes. Destacado como 'pacifista' por amigos e professores, ele planejando, ao lado de Alexandria Alexim, fazer a publicação de seu trabalho de conclusão de curso em revistas de artigos acadêmicos.

"O Victor sempre foi um excelente acadêmico, um aluno brilhante, eu fui orientadora de monografia dele com o tema sobre os refugiados ambientais na África Subsaariana. E recentemente nós estávamos analisando e discutindo a publicação da monografia dele em várias revistas de artigos científicos", relembrou.

Recém aprovado na primeira fase da Ordem os Advogados do Brasil (OAB), ele tinha o sonho de fazer mestrado e doutorado no futuro.

"Ele queria continuar na carreira da advocacia, fazer um mestrado, eu acredito, porque mês passado, quando eu reiniciei as tratativas de publicar a monografia dele, eu falei: 'Vitor, essa publicação será importante se você quiser seguir na carreira acadêmica'. Mas o trabalho dele será publicado de forma póstuma e eu vou dar continuidade, revisar, fazer as compilações necessárias e iremos publicar o trabalho dele", explicou a professora.

O crime

Victor Stephen foi morto a facadas nas imediações da Praça da República, no Centro do Rio, perto da estação Saara do VLT, em frente à entrada lateral do Campo de Santana, durante a madrugada de sábado. Segundo testemunhas, ele havia saído para se divertir com amigos e foi vítima de um assalto quando voltava para casa. Após ser atacado, os criminosos ainda levaram sua carteira e o celular.

O corpo de Victor chegou sem identificação ao Instituto Médico Legal (IML). A vítima era advogado e morava no bairro de Vila Isabel, na Zona Norte do Rio. Ele completaria 28 anos no dia 1º de agosto.

De acordo com a Polícia Militar, agentes do 5ºBPM (Praça da Harmonia) estavam em patrulhamento quando foram acionados para verificar uma ocorrência na região. No local, os policiais encontraram uma pessoa caída no chão e uma equipe dos Bombeiros que já estava constatando a morte.

De acordo com a Polícia Civil, a Delegacia de Homicídios da Capital assumiu a investigação. Imagens de câmeras de segurança da região estão sendo analisadas e diligências seguem para elucidar o caso.
OAB lamenta morte de jovem advogado
A OAB-RJ publicou nota lamentando profundamente a morte do advogado Victor Stephen Coelho Pereira, de 27 anos, assassinado a facadas na Praça da República, no Centro do Rio, na madrugada do último sábado, dia 23.
A entidade afirma que acompanhará o caso e cobrará das autoridades celeridade nas investigações.