Durante o sepultamento, Lucimara Dias, mãe de Yzabelly estava muito emocionada e precisou ser amparada por outros familiaresVanessa Ataliba/Agência O DIA

Rio- “Eu preferia morrer do que ver a morte dos meus filhos”. O desabafo é de Lucimara Dias, mãe de Yzabelli de Oliveira, 18 anos, que encontrada morta, sem roupa, em uma área de mata, às margens de uma estrada em Maricá, nesta terça-feira (26). O corpo da vítima, que estava desaparecida há uma semana, foi enterrado nesta quarta-feira (27) no Cemitério São Miguel, em São Gonçalo.
Durante o sepultamento, Lucimara estava muito emocionada e precisou ser amparada por outros familiares. Aos gritos, ela afirmou não saber como seguir com a vida sem a sua filha. O pai da vítima, abalado, chegou a ficar, sozinho, diante da lápide de Yzabelli após o enterro. Ele não quis dar entrevistas.

“Sou uma mulher digna, trabalhadora. Todo mundo sabe da minha trajetória com os meus filhos. Se for preciso, eu dou a minha vida pela deles. Tenho dois filhos, tenho um neto... Ela não merecia isso, eu não merecia isso. Eu não esperei [notícias] dentro de casa, eu corri atrás. Sou uma mãe digna, eu mato e morro se for preciso pelos meus filhos. Agora, o que vai ser de mim sem a minha filha?”, lamentou Luciana.
A mãe da vítima também implorou por justiça e, indignada, contou que a filha iria comemorar 19 anos nas próximos semanas. “Dia 18 agora minha filha ia fazer 19 anos... ela estava escolhendo bolo. Quem é que vai cantar parabéns para minha filha nesse dia? Quem vai tirar essa dor do meu coração? Como vai ser daqui para frente sem a minha filha? Quantas vidas vai precisar para vocês (autoridades) agirem?”, desabafou.

A mãe da jovem fez, ainda, um apelo para que as autoridades não deixem que a filha dela seja mais um caso sem solução. “Hoje foi a minha filha. Amanhã vai ser a filha de outra pessoa e por aí se vai. O criminoso vai para trás das grades. Entra pela porta da frente e sai pela porta de trás. Autoridade, eu quero uma resposta. Não quero que minha filha seja mais um caso”, cobrou.
A cunhada da vítima, Karine, contou que ela estava acostumada a realizar o percurso de sua casa até a lanchonete. A cunhada lamentou a morte cruel da jovem e ainda abalada relatou que ela era uma pessoa adorável.

“Ela é uma menina trabalhadora, guerreira, adorável. Todo mundo gostava dela, não tinha rixa com ninguém”, lamentou.

Buscas

De acordo com a mãe, a filha saiu para comprar um lanche no distrito vizinho, em Inoã, entre 19h e 20h, do último dia 19, mas não retornou.

“Desde o primeiro momento eu fui pra delegacia de Maricá. Lá, disseram que não resolveriam o meu caso. Levantei às 4h30, saí de casa sem ninguém me ver e fui, com minha garra e coragem. Pedi socorro e falei para eles (polícia) se estavam esperando eu buscar o corpo da minha filha em algum lugar. Mais uma vez, fizeram pouco caso e não correram atrás. Minha filha saiu de casa para fazer um lanche, ela perguntou qual eu queria, eu disse: 'Filha, quando você chegar lá, me diz, que eu vou falar para você o sabor'. Quando foi 21h30, eu mandei a mensagem: 'Filha, onde você está?'. Ela não me respondeu mais, liguei e não consegui. Autoridade, cadê você? Depois de sete dias eu tive a resposta de vocês. Quantas vidas tem que morrer?. Várias pessoas diziam que estava aqui, ali, e a gente ia. Meu filho, primo, irmão, todos desesperados, todo mundo. Não ficamos em casa”, desabafou.
Lucimara contou ainda que no dia que a filha desapareceu, antes de sair de casa, ela havia arrumado a roupa para trabalhar no dia seguinte. Yzabelli trabalhava em um posto de gasolina. Ela era moradora de São Gonçalo, cidade vizinha.

“A minha filha era uma pessoa trabalhadora. Ela morava em São Gonçalo. Se ela tivesse aqui, não tinha acontecido isso. Eu tirei minha filha daqui para levar e trazer ela e agora eu estou enterrando. Se a gente tivesse dentro de uma comunidade, isso não tinha acontecido”, lamentou.
Movimento de Mulheres Juntas por Maricá
Líder do Movimento Mulheres Juntas por Maricá, a advogada Ingrid Menendes esteve no enterro e puxou junto aos familiares um grito de justiça por Yzabeli. "Esse crime que poderia ser evitado, foi uma tragédia anunciada", disse.

O Movimento reivindica um maior efetivo de policiais civis em Maricá, além de um Núcleo de Atendimento à Mulher e um IML no município. Nesta quinta (28), membros da ONG e familiares da vítima pretendem se reunir em forma de protesto em frente à 82ªDP (Maricá) em prol de justiça.
Casos chocantes

Em menos de dois meses, 11 casos de feminicídio foram registrados no estado do Rio. Apenas nesta terça-feira (26), além de Yzabelli, outras duas mulheres foram mortas. De acordo com o Tribunal de Justiça do Rio, o estado registrou do mês de janeiro a maio deste ano, 33 casos de feminicídio.
Sarah Jersey Pereira, de 23 anos, foi morta a tiros dentro de um apartamento , na Rua Tadeu Kosciusko, 74, no Centro do Rio, na madrugada desta terça-feira (26). O ex-companheiro da vítima confessou ter atirado várias vezes contra ela. Ele foi preso.

Letícia Dias foi encontrada morta durante a tarde desta terça-feira (26), na Avenida Almirante Tamandaré, em Piratininga, Região Oceânica de Niterói. O corpo tinha sinais de perfurações feitas por uma arma branca. De acordo com testemunhas, o autor do crime seria o ex-namorado da vítima, identificado como Flávio Fonseca, que fugiu.