O prefeito Eduardo Paes participou do primeiro balanço das demolições realizadas no combate ao crime organizado no Ministério Público do Rio de Janeiro.Sandro Vox / Agência O Dia

Rio- A demolição de construções irregulares no Rio deixou o crime organizado com um prejuízo de R$ 646 milhões, segundo o Ministério Público (MP). O anúncio foi realizado nesta terça-feira (9) na sede do órgão, no Centro, durante uma coletiva de imprensa após a demolição de um prédio de seis andares, avaliado em R$ 14 milhões, construído ilegalmente na Estrada de Jacarepaguá, na Muzema, Zona Oeste. Ao todo, o MP em conjunto com a Prefeitura do Rio demoliu 1313 construções irregulares no período de 1 ano e 8 meses. 

Segundo o prefeito do Rio, Eduardo Paes, essa é uma ação de inteligência e um espaço importante para atingir o poder financeiro das milícias.

“Olhando para a frente, digo que acabou a festa. Estamos asfixiando o poder financeiro da indústria imobiliária das milícias. O importante é que essas pessoas comecem a respeitar e entendam que vão tomar prejuízo. Não vão prosperar aqueles que apostarem numa apatia e imobilidade do poder público. Hoje, o imóvel que a Prefeitura e o MP demoliram na Muzema tinha uma avaliação de R$ 14 milhões”, disse Paes.


De acordo com os dados da Secretaria de Ordem Pública (Seop) e do Meio Ambiente, em 2021 houve a demolição de 660 construções. Já até o início de agosto deste ano 653 imóveis foram demolidos. Enquanto em 2020, o número era de apenas 282. Em 2019, 2018 e 2017 os números foram menores ainda, com 31, 37 e 9 prédios demolidos, respectivamente.

Somente a Seop realizou 1.001 demolições, com prejuízo estimado para o crime organizado de R$ 205 milhões, sendo que 65% delas foram na Zona Oeste, região com alto índice de irregularidades imobiliárias. Além disso, 65% dos imóveis demolidos estavam em área sob domínio da milícia. O órgão tem investido na melhoria da sua capacidade de identificação de novas construções, seja através de uma apuração refinada das denúncias feitas pela população, como também por meios de novas tecnologias, que incluem drones, ortofotos e imagens de satélites.
Já a Secretaria de Meio Ambiente, ao lado do MPRJ, também produziu resultados que ultrapassaram todos os registrados anteriormente. Nas operações em áreas de preservação ambiental ocorreram 313 demolições, com um total de 275.982 metros quadrados de área demolida, o que gerou um prejuízo estimado para o crime organizado de R$ 441 milhões.
As operações são realizadas pelo MPRJ em conjunto com as Secretarias Municipais de Ordem Pública (Seop) e de Meio Ambiente da Cidade (SMAC). A parceria também conta com as participações da força-tarefa do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado para enfrentamento à ocupação irregular do solo urbano (Gaeco/FT-OIS), com o auxílio da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI/MPRJ).
"O acordo de cooperação foi pensado para que houvesse um fluxo de informação mais ágil, em tempo real. Isso proporciona uma atuação imediata tanto na esfera penal quanto administrativa, com os desdobramentos judiciais que forem necessários. Estamos agora nos estruturando para que essa troca de informações, como o mapeamento dos locais e o trabalho de inteligência, permita um direcionamento melhor da Prefeitura e do MP no combate a essas organizações criminosas " disse o procurador-geral do MPRJ, Luciano Mattos.
Também participaram da coletiva, além do prefeito Eduardo Paes e do procurador-geral do MPRJ, Luciano Mattos, os secretários Breno Carnevale da Seop, Nilton Caldeira do Meio Ambiente, e o coordenador do GAECCO, Bruno Gangoni.
Operações
A Secretaria de Ordem Pública em conjunto com o MP realizou, na manhã desta terça-feira (9), a demolição de um prédio de seis andares, com 46 apartamentos, erguido ilegalmente na Muzema, na Zona Oeste. O imóvel na Rua Dália s/nº foi construído em um lote não regular e sem obedecer aos parâmetros determinados para o local, como afastamento, gabarito e taxa de ocupação. A construção, avaliada em R$ 14 milhões, já havia sido notificada e multada previamente.

O prédio estava localizado no interior do loteamento irregular, denominado Condomínio Figueiras do Itanhangá, situado na Estrada de Jacarepaguá, 370. E ficava a menos de 100 metros de onde, em 2019, houve o desabamento de dois prédios de cinco andares, que culminou com a morte de 24 pessoas. Há menos de um mês, a Prefeitura realizou uma outra operação no mesmo condomínio, quando derrubou um prédio de três andares avaliado em mais de R$ 3 milhões.