Moradores vivem rotina de violência e medo devido aos confrontos no Morro do FubáReprodução/Redes sociais

Rio - 'Fubaquistão', é assim que moradores do Morro do Fubá, na Zona Norte do Rio, passaram a se referir à comunidade depois de uma semana com intensos tiroteios e disputas por territórios. Mesmo após a morte do turista americano Joseph Trey Thomas, de 28 anos, baleado na guerra entre milicianos e traficantes do Comando Vermelho (CV), na terça-feira (9), a noite de sexta-feira (12) deu continuidade ao clima de tensão na região e novos disparos foram ouvidos. A Polícia Militar afirma que o policiamento no Morro do Fubá está reforçado e que equipes seguem ocupando a região desde a morte do turista.
Além de disparos ouvidos no alto do morro, moradores denunciam nas redes sociais que milicianos, que ocupam a parte baixa da comunidade, estariam retornando às cobranças de taxas de segurança para os comerciantes. "Nesse momento a milícia está fazendo a cobrança tranquilamente no Morro do Fubá, no local da Estradinha e o caveirão na Raia [local no interior da comunidade] fazendo a segurança deles", escreveu um morador.
Por volta das 7h50 de ontem (12), um outro morador relatou ter ouvido tiros e que os milicianos estariam tentando acessar a parte alta do Morro do Fubá para fazer o recolhimento da taxa de segurança semanal. Questionada sobre o retorno das atividades criminosas de milicianos, a PM ainda não se pronunciou.
Uma guerra que já dura oito meses
Desde janeiro deste ano, a região, que fica entre os bairros de Cascadura e Campinho, na Zona Norte do Rio, passou a ser palco de conflito entre milicianos e traficantes do Comando Vermelho. O local era chefiado pela milícia do 'Tico e Teco', comandada por Leonardo Luccas Pereira, o 'Leleo' ou 'Teco', mas foi invadido pelo Comando Vermelho, em janeiro deste ano, liderado pelo gerente do Morro do 18, Rafael Cardoso do Valle, o 'Baby', depois que as milícias do Campinho e do Morro do Fubá foram traídas por um ex-integrante. Agora, os traficantes dominam a parte alta da comunidade, mas a parte baixa segue sendo comandada pelos paramilitares. 
Um faxineiro de 42 anos que vive na Rua Alberto Silva, no Morro do Fubá, relata que há três meses a violência na região se intensificou. Morando com a mãe e os sete filhos, o homem conta que os tiroteios frequentes têm se tornado um transtorno na rotina da família, que fica impedida de estudar e trabalhar. "Um dia meu de falta, 'é' R$ 70 descontado. 'É' três pacotes de arroz e uma garrafa de óleo que eu consigo comprar", disse ele. Nesta quarta-feira (10), o homem vai precisar fazer hora-extra no trabalho, porque teve que se atrasar.

"Hoje mesmo eu já tomei uma chamada do meu patrão. Ele sabe, mas como eu sou novo na empresa, é aquele negócio, dá seu jeito para chegar no trabalho. Eu entendo, ele não vai pagar funcionário para não trabalhar. Minha filha, desde que começou essa guerra, está há duas semanas sem ir para a escola. Eles não vão para a escola, minha filha à noite não consegue ir para o curso. A gente está vivendo à mercê, é Deus por todos e todos sem ninguém. Já faltei ao trabalho, já perdi oportunidades de emprego, por não ter com quem deixar eles. Já teve polícia no meu portão, já teve gente baleada. Como vou sair?", desabafou o morador.
Ainda segundo o faxineiro, ele também já precisou dormir no trabalho diversas vezes para não ficar no meio do fogo cruzado na comunidade. Nessas ocasiões, ele costuma alertar os filhos para que não saiam nem para comprar pão, para evitar que eles sejam vítimas de balas perdidas. O morador afirmou ainda que tem vontade de se mudar do Morro do Fubá com a família para fugir da violência constante.