17/08/2022 - Protesto de amigos e familiares em frente a Penitenciária de Benfica em favor da liberdade e pela verdade sobre o caso da menina Manu, de 1 ano, morta em um acidente fatal em casa na última sexta feira. Mãe e madrasta são acusadas de maus-tratos. Foto: Vanessa Ataliba/Agência O DiaVanessa Ataliba/Agência O Dia

Rio - Familiares e amigos de Daniele dos Santos Bernardes e Amanda Cristina Ferreira Santana, companheiras acusadas de matar uma bebê de um ano no Complexo da Maré na última sexta-feira, 12, afirmam que as duas são inocentes.


Segundo a prima de Daniele, Thais Rocha, de 21 anos, as manchas roxas e marcas no corpo de Eloá Manuela Ferreira Santana, encontradas durante a perícia, são resultantes da tentativa de andar da criança e da mordida de uma bebê que também morava com ela, filha da irmã de Daniele. Um protesto foi organizado, nesta quarta-feira, 17, em Benfica, Zona Norte do Rio.

De acordo com a Polícia Civil, Eloá sofria maus-tratos e morreu por agressões. O laudo pericial apontou morte por traumatismo craniano e apontou hematomas nos joelhos e braços da criança. Daniele e Amanda refutam essa versão: afirmam que a criança, que é filha de Amanda, morreu após cair de um sofá.

Amanda e sua filha Eloá moravam com Daniele, na Maré. Na mesma residência moravam Daiane dos Santos Bernardis, irmã de Daniele, e sua filha de um ano e seis meses. Amanda estava no trabalho no momento em que ocorreu a lesão na cabeça de Eloá, que ficava aos cuidados de Daniele.

De acordo com Thais, Daniele não trabalhava porque descobriu um tumor no ovário esquerdo e ficou combinado que ela ficaria em casa cuidando das crianças, enquanto Amanda e Daiane sairiam para trabalhar. "Fui criada com Daniele e ela sempre teve um bom coração, muito boazinha com todos, chegava até esquecer dela mesma", disse. "Nós, como família, sabemos que ela não seria capaz de cometer essas atrocidades. Sabemos que ela não fez nada de mal com a menina, foi uma fatalidade, um acidente, não um assassinato", completou. "No laudo consta que Eloá chegou no hospital espancada, mas é mentira. A menina tinha sim hematomas, mas é aquilo, criança quando está aprendendo a andar, pequena, cai muito e se machuca muito também", explicou.

Thais contou à reportagem que tanto Amanda quanto Daniele sempre foram muito carinhosas com as crianças e as levavam para passear sempre que podiam. "Eloá convivia com outra criança, que é a filha da irmã de Daniele, e a menina está com mania de morder, riscar, essas coisas. A mancha que Eloá estava era de uma mordida de criança, dá para ver nitidamente", ressaltou. "O que estão falando, que ela batia e que a mãe era conivente, não é verdade. Temos foto, vídeo, grupos, testemunhas que podem provar e atestar que ela não sofreu maus-tratos. Amanda e Daniele sempre foram de brincar e passear com ela", concluiu.

Segundo a técnica de enfermagem e irmã de Daniele, Daiani, elas perderam os pais muito cedo e sempre foram muito unidas. "Minha irmã é o meu tudo. A gente era uma verdadeira família lá em casa. Claro, tínhamos problemas como todos, mas sempre fomos muito juntas", disse. "Graças a Daniele eu conseguia trabalhar. Eu não confio em deixar minha filha com ninguém, mas nela sim", ressaltou. Daiani contou que Daniele estava com uma operação marcada para retirar o tumor do ovário e iria para Minas Gerais nesta semana. "A passagem está comprada, está tudo certo e isso aconteceu. Consulta com médico que arranjamos marcada e agora?", questionou. "Ela jamais faria algo assim, vivíamos como família de verdade. O tratamento de Daniele com as crianças era indiscutível e até eu, comomãe, me sentia segunda opção porque na creche que minha filha estuda, todos conhecem ela. Inclusive, a creche vai emitir um comunicado a favor de Daniele porque até falar que minha filha foi maltratada por ela estão falando", explicou.

Daiani disse no momento que Daniele estava em casa com Eloá, sua filha estava na creche. "Ela estava se arrumando para buscar minha filha e colocou Eloá no sofá. Óbvio que a criança não subiu no sofá sozinha, Daniele deixou ela sentadinha lá porque Eloá sempre foi muito boazinha e comportada. Só que ela gostava de andar e achava que andava, se pendurava nas coisas para ficar de pé", contou. "Daniele foi no quarto pegar uma roupa e nessafração de segundo, nessa posição que estava Eloá, ela se debruçou no sofá, escorregou e bateu de cabeça no chão. Minha irmã tentou ajudar no desespero, deu água, sacudiu e correu para a UPA", completou. "Quando chegamos lá, muitasespeculações foram levadas adiante. Falaram que elas não demonstraram nada quando receberam a notícia de que Eloá não resistiu, mas minha irmã estava em choque e Amanda desesperada. Ela passou mal, precisou até de cadeira de rodas", concluiu.
A técnica de enfermagem explicou que vai precisar pedir demissão de um dos dois empregos porque não confia em ninguém cuidando da sua filha. "Daniele é meu tudo, é a minha família. Destruíram o nosso lar", finalizou.

De acordo com o advogado do caso, Antônio Praia, pode-se perceber, através de vídeos, que a criança era bem tratada e sua casa sempre limpa e organizada. "Eloá ficou no sofá e caiu. Quando caiu, bateu a parte frontal da cabeça no chão. Tanto que o laudo de conclusão do perito, o óbito se deu pelo impacto direto do crânio", disse. "Como o crânio dela ainda não estava totalmente fechado, abriu. Daniele verificou que a criança não chorou, então deu água, viu que estava com a respiração muito forte e imediatamente a levou para UPA. Os médicos tentaram reanimá-la, mas não foi possível", completou. Antônio informou que a audiência não entra no mérito de quem é aculpa. "Foi feito um pedido de soltura, mas a promotoria negou, tendo em vista que se baseou apenas em declaração de médicos e enfermeira, que disse que nenhuma criança de um ano morre por cair de um sofá", explicou.

Amanda tem uma filha de sete anos e, segundo Antônio, o artigo 318 do Código de Processo Penal, diz que mães que têm filhos abaixo de 12 anos podem ter prisão domiciliar. "A promotoria negou mesmo assim. Daniele está com um problema grave de saúde também, um tumor no ovário, mas o pedido de prisão domiciliar também foi negado", finalizou. Antônio declarou que seu próximo passo será o pedido de revogação de prisão na Vara de origem. "Caso venha uma negativa da primeira instância, eu entro com Habeas Corpus", finalizou.

Eloá foi enterrada no domingo, sem a presença da mãe, Amanda, que foi presa devido às marcas anteriores à morte no corpo da criança.