Enterro de Adriel Bastos, 24 anos no cemitério de Nova Iguaçú. Um dos 4 rapazes mortos pela milícia junto dos amigos. A mãe Andréa Barbosa (de óculos escuros e lenço vermelho na cabeça) Pedro Ivo

Rio - Sob forte emoção, familiares de Adriel Andrade Bastos, de 24 anos, se despediram do jovem na tarde desta quinta-feira (25), no Cemitério Municipal de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Devido ao estado do corpo, localizado na altura do KM 32 do Rio Capenga na terça-feira (23), não houve velório, somente o sepultamento. Os corpos dos amigos de infância Adriel e Matheus Costa da Silva, de 21 anos, foram encontrados por equipes do Corpo de Bombeiros. Eles e outros dois rapazes, identificados Douglas de Paula Pampolha dos Santos, 22, e Jhonatan Alef Gomes Francisco, 29, desapareceram no último dia 12. 
A mãe de Adriel, a promotora de vendas Andréa Andrade, de 48 anos, estava no enterro e disse que o filho era um bom menino e que não tinha envolvimento com o tráfico de drogas. Ainda abalada, ela contou que agora está um pouco mais aliviada pelo do corpo ter sido encontrado e enterrado de forma digna. Ao longo da cerimônia, cerca de 50 pessoas, entre eles amigos do jovem, cantaram um louvor que Adriel gostava em sua homenagem. A maioria dos familiares e colegas também usou uma blusa com a foto do rapaz.
Os jovens estavam a caminho de um shopping, em Nova Iguaçu, quando, segundo testemunhas, criminosos encapuzados e armados, usando dois veículos, interceptaram o carro de aplicativo que eles estavam e os sequestraram.
Mãe reconheceu corpo no IML
Andréa disse que reconheceu o filho por causa de tatuagem no pescoço. "Nós estávamos muito angustiados pela demora de encontrar o meu filho e os demais meninos. Ontem, quando eu assisti que tinham achado mais um corpo, eu criei uma esperança de que poderia ser o meu filho e falei com Deus que eu aceitava, que ele viesse para mim da maneira que fosse, para que a gente pudesse dar um enterro digno para ele (...) A gente quer muito que encontre, mas quando a gente sabe que encontrou e da maneira que encontrou, é muito doloroso. Você chegar num lugar e não poder ver a pessoa, reconhecer por foto, por uma tatuagem", lamentou ela momentos depois do reconhecimento, na quarta-feira (24).
Ainda segundo a mãe, Adriel estava morando em apartamento do conjunto habitacional do bairro Valverde, próximo do local onde foi sequestrado, e fazia planos para se mudar para mais próximo dela, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, neste mês. A mãe conta que no dia do crime, ele estava a caminho do shopping com os amigos, de onde seguiria para o Centro de Nova Iguaçu, para comprar uma bicicleta para a filha de 3 anos. O rapaz era motorista de aplicativo e ela pretendia dar um carro para que ele pudesse trabalhar. Ainda segundo a promotora, a tatuagem do jovem com os dizeres "seja forte e corajoso" descreve o filho.
"Foi assim que eu criei meu filho, para ser um homem forte e corajoso, um homem honrado, um homem que sempre respeitou os princípios, sempre respeitou a família. Ele era muito carinhoso comigo, me chamava de minha rainha. Foi uma crueldade tão tremenda, que eu nem sei explicar. Eu não consigo nem chamar essas pessoas de sere humano, porque eu acho que um ser humano não teria coragem de fazer o que fizeram com ele e o com os outros meninos. Eu só peço a Deus que quando eles olharem para um ente querido deles, eles venham a ver a imagem dos nossos filhos".