Vibramos com os degraus que já subimos, mas continuamos a caminhada porque novos níveis nos aguardamArte: Kiko

Desde que a voz de Mart'nália entrou no meu caminho e me apresentou 'Benditas', canção dela com Zélia Duncan, esses versos passaram a tocar na minha mente como um agradecimento constante. Vira e mexe, coloco para ouvi-los novamente no aplicativo. E fico cantarolando sozinha, tentando absorver cada vez mais aquela poesia.
A gratidão pelo que já alcancei é revigorante. Gosto de comemorar cada conquista, das menores às maiores, certa de que só o meu coração sabe o tamanho de cada uma delas. Às vezes, posso fazer festa por algo considerado pequeno demais ao olhar do outro, mas grandioso para o meu coração. Acredito que sejamos todos assim: cada um de nós sabe o real valor dos nossos próprios passos.
Mas a música 'Benditas' me faz reconhecer a importância do não vivido, que nos ajuda a levantar todos os dias. Vibramos com os degraus que já subimos, mas continuamos a caminhada porque novos níveis nos aguardam. Benditos sejam os "verdes ainda não maduros", como diz a canção, porque eles nos fazem acreditar que ainda há um mundo a ser desbravado pelo nosso desejo de viver. Aliás, é linda demais a transição de verdejar até maturar. Conjugação ainda mais bonita quando feita por nós mesmos.
Transitando pelos versos da canção, constatei que também sou feliz pelos "espaços que ainda procuro". Afinal, que graça haveria já ter visto tudo, saber tudo, dominar tudo e não ter mais nada a buscar? Sejam bem-vindas as crônicas que ainda não escrevi, as palavras que não descobri, os brindes que não fiz, os laços que não criei e os novos encontros com as mesmas pessoas. Sejam bem acolhidas as canções que ainda não ouvi — antigas para alguns, inéditas para mim. Ou as músicas que voltarei a escutar com as minhas almas futuras.
Sigo nessa fé em agradecer ao que virá, desejando que sejam "benditas as coisas que eu não sei". Afinal, são elas que nos trazem a humildade de perguntar, questionar e procurar. Como fiz com essa canção. Não me contentei em escutá-la somente uma vez e quis viajar pelos seus versos repetidamente. O que não conquistamos é o que nos mantém vivos. A gente se aventura enquanto há o que criar, conhecer, saber e pensar.
Ah! Bendito também o que nunca virá. E isso é só uma crença minha: nada é por acaso. Até o que não se concretiza.