2022-09-02 - Coletiva Museu Nacional, nesta sexta feira(02). Foto: Marcos Porto/Agência O DiaMarcos Porto/Agência O Dia

Rio - Exatos quatro anos depois de sofrer com um incêndio devastador, o Museu Nacional volta a abrir as portas para o público neste fim de semana. O anúncio foi feito, nesta sexta-feira (2), com a inauguração da fachada do Palácio de São Cristóvão, que estava em obras desde novembro do ano passado. A entrega faz parte da comemoração do Bicentenário da Independência e contará com programação para o público a partir deste sábado.

A estrutura da fachada foi completamente restaurada e é uma das entregas de um pacote de reformas iniciadas há quatro anos. Segundo o Projeto Museu Nacional Vive, cooperação entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ONU, Unesco e Instituto Cultural Vale, as obras já atingiram 75% do contratado. As reformas ainda previstas neste primeiro bloco devem ser concluídas até janeiro de 2023, mas obra só deve terminar em 2026.
"Quem diria que estaríamos aqui hoje, depois de quatros anos, daquilo que é a maior tragédia que aconteceu no cenário cultural e científico do país, entregando um pequeno pedaço. Abrindo um pequeno pedaço que é a reconstrução da fachada do bloco histórico do primeiro museu fundado no Brasil", comemorou Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional.
As obras de restauração da fachada do Palácio São Cristóvão começaram em novembro do ano passado. Até esse mês, os esforços da equipe da reforma estavam focados primeiro na escora das paredes do prédio histórico, depois na escavação e recuperação do acervo do museu no interior do palácio. A obra contou com a participação de 150 profissionais. Foram feitos trabalhos de alvenaria, reparos em esquadrias, ferragens e gradis.
De acordo com o grupo de trabalho do Projeto Museu Nacional Vive, todo o trabalho manteve as formas originais da fachada que existiam até setembro de 2018, quando o prédio foi atingido pelo incêndio.
"O amarelo ocre da fachada e o verde das portas são as mesmas cores do período imperial, ressaltando o compromisso do Projeto em preservar a identidade e a trajetória arquitetônica do palácio”, afirmou Kellner.

A entrega da fachada inicia as comemorações do Bicentenário da Independência e também uma programação com exposições, aulas e outras atrações marcadas para começar neste sábado (3).
"É emblemático e emocionante recebermos o público com atividades gratuitas, já podendo contemplar a fachada principal deste palácio, com sua imensurável relevância para a história do nosso país. É ainda um forte sinal de que estamos no rumo certo desta grandiosa reconstrução e de que vamos, com muito trabalho, parceria e coragem, devolver à sociedade este que é o primeiro museu e também a primeira instituição científica brasileira”, pontuou a reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho.
Reforma na Quinta
A reforma do jardim-terraço do Palácio São Francisco também foi entregue nesta sexta-feira pela Prefeitura do Rio. O prefeito Eduardo Paes esteve presente no local e falou sobre o trabalho de recuperação da área, que faz parte da Quinta da Boa Vista, importante área de lazer do subúrbio carioca, na Zona Norte.
"Isso aqui é um espaço muito importante. São Cristóvão é um bairro muito importante. A Quinta da Boa Vista estava muito abandonada, então todos os monumentos foram recuperados. Esse pátio aqui, esse jardim na frente do museu. Poder entregar esse quintal dos cariocas, que tem um simbolismo histórico tão especial, é bem importante", comenta o prefeito.
Nas obras na Quinta, feitas pela Secretaria de Conservação, foram restaurados32 vasos de argamassa e estuque, além de 48 postes históricos de ferro. Além disso, 250 balaústres foram recuperados, piso e parapeito foram trocados e foi feita a pintura de 800 metros quadrados de área.
Atividades do Museu Nacional
A partir deste sábado, o Museu Nacional volta a abrir suas portas para o público, que poderá conferir exposições, aulas e também apresentações musicais. Neste sábado, inicia a mostra Polo Minerais, Polos Esculturas e Polo Memória.
A primeira trará um acervo com pedras como quartzos, ametistas e o histórico e icônico meteorito Bandegó, que sobreviveu ao incêndio. Os minerais ficarão expostos na parte interna da fachada e poderão ser apreciados pelo público através das portas do palácio.
Já a exposição Esculturas, ficará instalada no jardim-terraço com oito esculturas em mármore carrara que ficavam no topo do Museu Nacional e foram restauradas. Segundo os organizadores da mostra, essa é a primeira vez que o público poderá ficar tão perto dessas obras.
Na Mostra Memórias, serão expostas fotografias que representam a trajetória do Museu Nacional ao longo da história. Todas as três exposições começam neste sábado e podem ir até fevereiro de 2023. O horário de visitação começa às 9h para todas, mas vai até às 17h (Mineirais) e 18h (Esculturas e Memórias).
As comemorações serão marcadas ainda por apresentações da Orquestra Sinfônica Brasileira, Companhia de BalletDalal Achcar e pelo Unicirco Marcos Frota, todos no dia 10. Outras ações também acontecem no dia 11.
ONG tem atuação questionada
A Associação Amigos do Museu nacional, responsável por gerir verbas públicas e doações destinadas às reformas do projeto Museu Nacional, arrecadou, ao todo, R$ 244 milhões para o projeto de reforma do Palácio de São Cristóvão. O valor consta no site da instituição.

Segundo editorial publicado no Jornal do Brasil, a atividade da ONG, contudo, é questionada por problemas encontrados entre 2013 e 2018. A associação já foi alvo de auditorias do Tribunal de Contas da União (TCU). O tribunal teria encontrado nos balancetes da ONG a compra de veículos, terrenos e até de uma lancha.

As aquisições teriam sido alvo de críticas inseridas no relatório. Segundo o documento, houve falta justificativas para tal ato com recursos captados pela associação. "A SAMN não conseguiu demonstrar onde foram investidos os recursos geridos a título de doação, aluguéis de espaço e projetos. Foram identificados, nos balancetes de 2013 a 2018 e na documentação encaminhada às peças 129-130, projetos de pesquisa, os quais propiciaram a aquisição de veículos, lancha, obras de arte, máquinas e equipamentos, terrenos etc., contudo, sem a devida justificativa de que foram aplicados ou beneficiaram as atividades e manutenção do MN”.