Horta de Madureira conta com 55 canteiros produtivos e outros 95 em desenvolvimentoDivulgação

A cidade do Rio vai sediar, pela primeira vez, o Fórum Global do Pacto de Política Alimentar Urbana de Milão, que chega à oitava edição e começa hoje e vai até quarta-feira na Cidade das Artes, Barra da Tijuca, Zona Oeste. São mais de 500 delegados, prefeitos e representantes de 162 cidades do mundo, como Paris, Copenhague, Chicago e Washington, reunidos para discutir soluções para políticas públicas e sistemas alimentares.
No mundo, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 828 milhões de pessoas são afetadas pela fome. No Brasil, segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), são 33,1 milhões de pessoas sem ter o que comer. Em relatório, divulgado este ano, a Rede aponta que 2,7 milhões de cariocas passam fome ( 8,16% dos famintos brasileiros), e mais da metade da população convive com algum grau de insegurança alimentar. 
 
 
O Pacto de Política Alimentar Urbana de Milão é um acordo internacional de prefeitos. É um tipo de declaração que lista 37 ações recomendadas e agrupadas em seis categorias. Para cada ação, existem indicadores específicos para monitorar os avanços na implementação do Pacto.
 
Com o cenário econômico e social agravados principalmente pela pandemia, algumas iniciativas foram desenvolvidas no Rio e outras já existentes foram intensificadas para combater a fome. Refeições, vale alimentação, hortas comunitárias e escolares foram criadas para suprir as necessidades de quem precisa.
O programa "Hortas Cariocas" é uma das ações de incentivo, criado há 16 anos pela Secretaria de Ambiente e Clima do Rio, com o objetivo de ajudar a reduzir a insegurança alimentar de famílias que vivem em vulnerabilidade social. Segundo a prefeitura, essas hortas estão presentes em 56 pontos da cidade, sendo 29 comunidades e 27 escolas da rede municipal. Além de produzir alimentos, a iniciativa tem também o intuito de combater o desperdício, proibir a ocupação irregular de áreas frágeis, criar espaços de convivência e capacitar os cariocas para empreender.
Nesses 16 anos de existência, o programa já produziu cerca de mil toneladas de alimentos e beneficiou mais de 60 mil famílias. Do total da produção, 50% foi distribuído para moradores de comunidades e a outra metade comercializada. Neste ano, de janeiro a setembro, a produção de alimentos já passou de 59 toneladas em todas as hortas, com 283 trabalhadores atuando.
No Parque Madureira Mestre Monarco, em Madureira, Zona Norte do Rio, a horta conta com 55 canteiros produtivos e 95 em desenvolvimento. A previsão é que sua expansão seja concluída em 2024. A prefeitura informou que a ideia é que a cidade tenha a maior horta urbana do mundo, com uma extensão equivalente a 15 campos de futebol.
Ivonete Maria dos Santos, de 63 anos, está entre as 283 pessoas que atuam no programa, ajudando a horta Dirce da Teixeira, no Jardim Anil, em Jacarepaguá, Zona Oeste. Ela contou que há sete anos passou por uma depressão muito forte e teve a plantação como um remédio. "Meu maior prazer é plantar, colher e saber que estou consumindo algo saudável, sem agrotóxicos, que eu mesma plantei", disse. "O amor que tenho pelo que faço se reflete na minha alma. Aqui eu esqueço dos meus problemas e reúno forças pra seguir em frente", disse.
Além das hortas comunitárias, tem também as escolares, que estão presentes em 276 unidades de ensino municipal. A Escola Municipal Alzira Araújo, em Campo Grande, Zona Oeste do Rio, tinha um terreno coberto de mato antigamente, mas hoje deu lugar a uma horta que auxilia no abastecimento da cozinha da escola. Diariamente, os legumes e verduras são plantados e colhidos pelos alunos do colégio. Além disso, a unidade também tem um jardim sensorial, com ervas aromáticas que serve de espaço terapêutico para os 31 alunos incluídos.
 
De acordo com a prefeitura, a alimentação dos alunos matriculados nas unidades escolares do município é preparada, em parte, com alimentos de origem orgânica, produzidos por agricultores familiares. Até o início de outubro, foram mais de 3.127.925 quilos de legumes, 8.835.233 quilos de frutas, 390.739 quilos de verduras, 1.897.003 quilos de arroz e 1.280.595 quilos de feijão.
Além das hortas e da produção de alimentos, o programa Prato Feito Carioca, criado em julho deste ano pela prefeitura, produz refeições para a população carente. Desde sua criação, já foram oferecidos 300 mil pratos de comida. Houve também a inauguração de Cozinhas Comunitárias Cariocas, onde, diariamente, são preparadas refeições para famílias em situação de extrema pobreza.
 
Os 47 Centros de Referência de Assistência Social (Cras) são responsáveis pela seleção do público para receber gratuitamente os pratos feitos pelas cozinhas. O critério é que as pessoas sejam inscritas no cadastro de programas sociais federais (CadÚnico) e tenham renda mensal de até R$ 105. Para quem é trabalhador informal, que recebe até R$ 210 por mês, a prefeitura entregou cinco mil cartões refeição Prato Feito Carioca, que possibilita comer em locais próximos ao trabalho. No próximo ano, está prevista a entrega de mais cinco mil.
Fernando de Melo dos Santos, de 39 anos, tem cinco filhos e é morador da comunidade da Pedreira, na Zona Norte do Rio. Com a Cozinha Comunitária de Costa Barros, também Zona Norte, ele está conseguindo alimentar sua família. "Não teríamos o que comer", disse. Para mudar sua realidade, Fernando fez um curso de barbeiro de uma ONG parceira do programa.
Com as refeições sendo oferecidas, muitas famílias conseguem usar seu dinheiro para trabalhar ou até mesmo empreender, para aumentar sua renda. É o caso de Raquel Marques Ferreira e Rosana, ambas da Zona Oeste do Rio, que estão passando pelo processo. Como suas famílias estão se alimentando nas Cozinhas Comunitárias, sobra um dinheiro para elas gerarem renda. Raquel, por exemplo, está revendendo produtos de higiene e lingerie, enquanto Rosana está produzindo suas próprias cocadas para vender. 
Pacto de Milão
O tema do evento é "Comida para Nutrir a Justiça Climática: soluções alimentares urbanas para um mundo mais justo". Além de prefeitos, autoridades representantes de cidades, profissionais de política alimentar, especialistas e pesquisadores se reunirão no Rio após um ano do último encontro na cidade de Barcelona, na Espanha, para discutir soluções e oportunidades eficazes para combater as mudanças climáticas por meio de políticas e sistemas de alimentação.
O Fórum também revelará os vencedores do Milan Pact Awards 2022 e apresentará os esforços que as cidades membros estão realizando para alcançar as recomendações dos Pactos.
Você pode gostar
Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.