Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) firma parceria com o Instituto Pretos NovosBrunno Dantas / TJRJ

Rio – Condenados a prestar serviços comunitários no Rio poderão colaborar com o trabalho do Instituto Pretos Novos (IPN), instituição responsável por sítio arqueológico que investiga enterros de milhares de escravizados, graças a convênio firmado entre o instituto e o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ). O presidente do TJRJ, desembargador Henrique Carlos de Andrade Figueira, visitou o instituto, nesta terça-feira (18), na Zona Portuária do Rio, para anunciar a parceria.
O objetivo é aliar a força do memorial que mostra a degradação que escravizados sofreram nos séculos XVIII e XIX à missão de pacificador social do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.
"A ideia é criar um caminho novo para as pessoas e auxiliar o Instituto Pretos Novos. É impossível ficar insensível ao que vimos aqui. É um capítulo triste da nossa história. Quem tem coração se sensibiliza com o que vimos hoje", disse o desembargador.
O trabalho arqueológico do instituto revela que mais de 40 mil escravizados recém-chegados à cidade do Rio foram enterrados de forma desumana na antiga Rua do Cemitério, hoje Rua Pedro Ernesto. Segundo estudos, os corpos foram torcidos, retorcidos, queimados, despedaçados e pulverizados pela ação da queima, além de jogados e amontoados.
Eram tempos em que a diáspora africana terminava com o assassinato de escravos, com seus restos mortais deixados em um terreno baldio, posteriormente aterrado. Casas foram construídas na área.
Foi em uma dessas casas, dois séculos depois, que Merced Guimarães e o marido encontraram pelo menos 28 ossadas ao reformarem o próprio imóvel, em 1996. Ao lado, ergueram o Instituto Pretos Novos, iniciando um trabalho museológico e arqueológico, em 2005. O IPN conta com exposições permanentes e temporárias, e com programa educativo dedicado a estudantes das redes pública e particular de ensino.
Hoje coordenadora do IPN, Merced vê com bons olhos a parceria com o TJRJ.
"É uma maravilha. Essas pessoas poderão nos ajudar e desempenhar diferentes papeis. Podem atuar como monitores, auxiliando nos trabalhos educativos do Instituto", afirmou.
Principal porto de entrada de africanos escravizados no Brasil e nas Américas, o Cais do Valongo passou a integrar a Lista do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 1º de março de 2017.
O juiz auxiliar da 2ª Vice-Presidência do TJRJ Marcelo Oliveira e o procurador de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Cláudio Henrique da Cruz Vianna também participaram da visita ao IPN.