Quarto dia de Julgamento, caso Flordelis. Na foto, Flordelis chegando no fórum. Marcos Porto/Agencia O Dia

Rio - O depoimento da primeira testemunha de defesa do julgamento de Flordelis dos Santos de Souza e outros quatro réus pela morte do pastor Anderson do Carmo, foi marcado por discussões entre os advogados Janira Rocha, Rodrigo Faucz, a juíza Nearis Arce e Tayane Dias, filha afetiva da ex-deputada, que começou a ser ouvida por volta das 13h. No júri, os demais réus julgados são Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica da ex-deputada; André Luiz de Oliveira e Marzy Teixeira da Silva, fihos afetivos; e Rayane dos Santos de Oliveira, neta.

A confusão ocorreu no momento em que a testemunha falaria sobre abusos sexuais cometidos por Anderson do Carmo e perguntou a advogada Janira Rocha se poderia responder. Nesse momento, a juíza Nearis Arce questionou a atitude de Tayane, que explicou que havia se referido a defensora porque não sabia se poderia falar sobre outra pessoa.

A magistrada então esclareceu que Tayane deveria ter falado com ela e não com a advogada. A promotora de Justiça do Ministério Publico do Rio, Mariáh Paixão, também se manifestou e disse que o depoimento não era "conversa de comadres". Mais cedo, a testemunha já havia sido repreendida por falar olhando para o Júri.

Ao retomar seu relato, Tayane afirmou que só soube dos supostos abusos sexuais após a morte do pastor, uma vez que a irmã Rafaela teria relatado que Anderson introduziu um dedo em suas partes íntimas enquanto ela dormia. Ela também contou que a vítima tinha o hábito de bater na bunda de Simone e abraçá-la por trás. "Eu não entendia na época, eu não via maldade", disse ela.
A testemunha também relatou que nunca foi vítima de violência sexual pelo pastor, mas que não sente mais saudades dele, por ter "descoberto" sobre os abusos supostamente cometidos pela vítima. Durante a oitiva, a filha ainda descreveu Flordelis como uma pessoa atenciosa e disse que Anderson era rigoroso e estressado, e que, por isso, havia dias em que não conseguia ficar próxima a ele.

"Tinha dia que acordava com o diabo no corpo, a ponto da gente não querer chegar perto", declarou ela.
Tayane ainda apontou outras situações de comportamento agressivo do pastor, sendo um deles quando soube que Anderson bateu em Flordelis e a empurrou da escada da casa. Ela, no entanto, informou que não estava presente quando a situação teria acontecido. A outra ocasião teria sido uma briga entre ele e Wagner Pimenta, o Misael, em que ele teria mordido André, quando o mesmo tentava separá-los.
O segundo a depor em defesa de Flordelis foi o médico oncologista Diogo Bagano Diniz, que atendeu Simone, filha biológica de Flordelis. Em um rápido depoimento, que durou cerca de 15 minutos, ele apenas citou que Simone, sua paciente, tem problemas de câncer de pele e que, por isso, poderia ter uma progressão de pena. O terceiro depoimento de defesa de Flordelis, Marzy e Rayane começou por volta das 16h35, com o o desembargador Siro Darlan. O Ministério Público do Rio tentou, em abril deste ano, desqualificar a participação dele no julgamento devido uma série de reportagens relacionadas a supostos atos de corrupção. No entanto, o desembargador foi inocentado das acusações mencionadas nas notícias divulgadas pela imprensa em 2020.
Dia do crime
Na oitiva, Tayane disse que dormia no momento em que o pastor foi assassinado e que ouviu apenas dois disparos. Apesar de estar na casa na ocasião, ela relatou que nunca foi intimada a prestar depoimento à Polícia Civil, mas que chegou a entregar seu celular quando agentes estiveram na residência.

Ao ser questionada porquê nunca procurou a polícia para relatar os acontecimentos, a testemunha disse que teve medo, por conta da abordagem agressiva com os membros da família. Segundo ela, um agente teria dito que uma das meninas da casa era "gostosinha". Nesse momento, a juíza afirmou que era um comportamento muito grave e pediu que ela informasse o nome do policial, no que Tayane respondeu que não sabia e que ouviu os parentes comentando sobre o episódio.
A testemunha ainda foi questionada se mandou uma mensagem para a irmã Raquel no momento em que ela prestava depoimento, pedindo que ela não falasse nada à polícia. Ao começar a explicar a situação, ela foi interrompido pela juíza, que afirmou que ela precisava confirmar ou negar e só depois poderia complementar. Tayane insistiu na justificativa, foi novamente repreendida e, por fim, disse que enviou a mensagem, mas pedindo para que ela não fosse ouvida sem um advogado.
Ao fim da oitiva, o advogado Rodrigo Faucz pediu a palavra a juíza e declarou que a testemunha foi desrespeitada durante o depoimento. Ela afirmou que, desde a segunda-feira, somente testemunhas de acusação foram ouvidas e não tiveram o mesmo tratamento. Ela citou a oitiva da delegada Bárbara Lomba como exemplo, dizendo que ela falou por 12 minutos corridos sem ser interrompida.
A juíza então disse que só interrompeu Tayane porque foi necessário e porque ela não estava respondendo às perguntas de forma adequada. Ela também destacou que as testemunhas de defesa ainda não haviam prestado depoimento porque não tinham sido arroladas pelos advogados. A advogada Janira Rocha também pediu a palavra e se queixou do comportamento da promotora Mariáh Paixão, por ter feito uma "dancinha" ao chamar a oitiva da filha afetiva de Flordelis de "conversa de comadres".
Testemunhas de acusação
Nesta quinta-feira (10) já haviam sido ouvidas as três últimas testemunhas de acusação, sendo; Érica dos Santos de Souza, filha afetiva de Flordelis; Rebeca Vitória Rangel, neta;  e a também filha afetiva Roberta dos Santos. 
Durante o terceiro dia de julgamento, quatro testemunhas de acusação foram ouvidas, sendo: Raquel da Silva, neta da ex-deputada e também filha de Carlos Ubiraci, um dos envolvidos no crime e já julgado; Dayane Freires, filha adotiva, que trabalhava como tesoureira na igreja; Daniel dos Santos de Souza, filho adotivo; e Luana Vedovi Rangel Pimenta, nora de Flordelis e casada com Wagner Pimenta, também conhecido como Misael, filho adotivo.
Na terça-feira (8), durante segundo dia de oitivas, prestaram depoimento o inspetor da DHNSGI, Tiago Vaz de Souza, que atuou nas investigações quando o delegado Allan Duarte assumiu o caso, e os filhos adotivos Alexsander Felipe Matos Mendes, o Luan, e Wagner Pimenta, batizado por ela como Misael.

Já durante o primeiro dia de julgamento, nesta segunda-feira (7), foram ouvidos a delegada Bárbara Lomba, que iniciou as investigações quando era titular da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG), o delegado Allan Duarte, responsável pela conclusão do inquérito e Regiane Ramos Cupti Rabello, chefe de Lucas dos Santos de Souza, um dos filhos adotivos da pastora, já condenado por participação no crime.
Acusações
Flordelis é acusada de ser a mandante do crime e poderá responder por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima), tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada.

Já a filha biológica, Simone dos Santos Rodrigues, e os filhos adotivos Marzy Teixeira da Silva e André Luiz de Oliveira poderão responder por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada. Enquanto, a neta Rayane dos Santos Oliveira, por homicídio triplamente qualificado e associação criminosa armada.