Ex-deputada Flordelis durante o julgamento no Tribunal do Júri, em Niterói, na Região Metropolitana do RioBrunno Dantas/TJRJ

Rio - A ex-deputada Flordelis dos Santos se retirou do Tribunal do Júri, no Fórum de Niterói, na tarde desta quinta-feira (10), chorando muito e pedindo perdão ao desembargador Siro Darlan de Oliveira, que prestava depoimento a pedido da defesa da ré. "Me perdoa, doutor. Me perdoa. Sou inocente", disse ela após Siro revelar que o pastor Anderson do Carmo, marido da ex-parlamentar, o ligou três dias antes de morrer. Flordelis e outros quatro réus são julgados pela morte do pastor Anderson do Carmo em 2019.
"O Anderson me telefonou. Segundo ele, a Flor queria falar comigo para que eu encaminhasse para ela leis que melhorassem e protegessem mais crianças e adolescentes. Nessa ocasião, no entanto, eu estava de viagem para a França, então eu não poderia. Pedi para ele me ligar em 30 dias", disse Siro, que exerceu o cargo de juiz, entre 1990 e 2005, na Vara da Infância e Adolescência do Rio.
"Todo o tratamento que vi foi social e socialmente me pareciam muito unidos. Uma das constatações que faço é desse telefonema três dias antes da morte. Então, acho que se eles não estivessem bem, não fariam essa ligação juntos, se não estivessem acordados", completou.
Antes deste fato, o desembargador iniciou o terceiro depoimento arrolado pela defesa dos réus contando como conheceu Flordelis: "Quando assumi a Vara da Infância, encontrei um mandado de busca e apreensão contra uma mulher, negra e favelada, que tinha sob sua guarda, ainda irregular, até então, 26 crianças".
Em seguida, ele descreveu a personalidade do pastor. "O Anderson passou por várias etapas. Conheci como filho, ele estava naquela lista inicial de 26 adolescentes, mas ele assumiu um papel de pai depois. Inicialmente ele era um passivo, um acolhido da Flor. Depois, ele passou a ser um 'gerentaço', o cara que decidia. O último encontro comigo foi o Anderson, não foi a Flor. Era ele que passou a comandar esse produto Flordelis", afirmou.
O Ministério Público do Rio tentou, em abril deste ano, desqualificar a participação do desembargador no julgamento devido uma série de reportagens relacionadas a supostos atos de corrupção. No entanto, Siro foi inocentado das acusações mencionadas nas notícias divulgadas pela imprensa em 2020, sendo liberado para depor nesta quinta-feira (10).
Em seguida foi a vez do médico perito, Sami Abder depor. Ele começou apontando alguns ferimentos encontrados no corpo de Anderson que estão citados no esquema de lesões, mas não aparecem nas fotos anexadas no inquérito. "Não temos como definir se foram trinta disparos, porque a lesão pode ter duas perfurações. Um mesmo disparo pode produzir uma, duas três e até quatro com entrada e saída. A descrição de trinta ferimentos não nos informa nada sobre o número de disparos. As feridas têm características, algumas são mais do que outras e olhando eu posso estabelecer com grau aceitável de acertabilidade se uma ferida é de entrada ou de saída".

Durante o depoimento do perito, a defesa apresentou imagens do esquema de lesões do corpo e também fotos das perfurações no tronco do pastor. A tentativa, a princípio, seria no intuito de descredibilizar o laudo pericial feito pelo Instituto Médico Legal (IML). "Este ferimento não está no mapa de lesões, então seria um engano na descrição de um ferimento que poderia estar em cima, ou na parte de baixo. Ambos também tem características de saída", explica o perito.
Depoimentos do quarto dia de julgamento
A primeira testemunha de acusação a depor nesta quinta-feira (10) no quarto dia de julgamento de Flordelis foi a filha afetiva, Roberta dos Santos, que afirmou ter certeza de que a ex-deputada foi a mandante do assassinato de Anderson do Carmo. Em seguida, a outra filha afetiva da ex-parlamentar, Érica dos Santos de Souza e a neta Rebeca Vitória Rangel, falaram em juízo.
No período da tarde, foi iniciado a fase de depoimentos das testemunhas de defesa dos réus julgados: Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica da ex-deputada; André Luiz de Oliveira e Marzy Teixeira da Silva, filhos afetivos; e Rayane dos Santos de Oliveira, neta.
A primeira a depor foi Tayane Dias, filha afetiva da ex-deputada, que começou a ser ouvida por volta das 13h. Sua fala foi marcada por um longe bate-boca entre os advogados Janira Rocha, Rodrigo Faucz, a juíza Nearis Arce e Tayane. A confusão ocorreu no momento em que a testemunha falaria sobre abusos sexuais cometidos por Anderson do Carmo e perguntou a advogada Janira Rocha se poderia responder. Nesse momento, a juíza Nearis Arce questionou a atitude de Tayane, que explicou que havia se referido a defensora porque não sabia se poderia falar sobre outra pessoa. A magistrada então esclareceu que Tayane deveria ter falado com ela e não com a advogada. 
O segundo a depor em defesa de Flordelis foi o médico oncologista Diogo Bagano Diniz, que atendeu Simone, filha biológica de Flordelis. Em um rápido depoimento, que durou cerca de 15 minutos, ele apenas citou que Simone, sua paciente, tem problemas de câncer de pele e que, por isso, poderia ter uma progressão de pena. O terceiro foi o desembargador Siro.