Rio - O psiquiatra forense Hewdy Lobo Ribeiro afirmou em seu depoimento no quinto dia do julgamento dos envolvidos na morte do pastor Anderson do Carmo, nesta sexta-feira (11), que Flordelis dos Santos de Souza, a filha afetiva Marzy Teixeira da Silva, e a neta Rayane dos Santos de Oliveira, não apresentam perfil psicopata. As três rés foram avaliadas pelo médico e outros especialistas no Hospital Psiquiátrico Penal Roberto Medeiros, no Complexo de Gericinó, após solicitação da defesa delas. Além do trio, também são julgados a filha biológica Simone dos Santos Rodrigues e o afetivo André Luiz de Oliveira, que não foram analisados.
De acordo com o psiquiatra, as avaliações foram realizadas com o objetivo de descobrir se a o perfil das acusadas condiz com as denúncias que foram atribuídas a elas. Nelas, foram analisadas a presença de doenças mentais, dependência química e de psicopatia, além de características da personalidade. Segundo Hewdy, em Flordelis foram detectados cinco transtornos mentais e em Marzy dois, enquanto Rayane não teve diagnóstico positivo. Nas entrevistas, ambas relataram episódios de contato impróprio do pastor Anderson Carmo.
Em Flordelis foram constatados os transtornos depressivo grave, com episódios de tentativa de suicídio; orgânico, que a consequência de doenças físicas ao longo da vida, como o episódio de acidente vascular isquêmico; de estresse crônico e de personalidade dependente; e síndrome de Estocolmo, quando há grande nível de vulnerabilidade e sofrimento. Entretanto, a avaliação não detectou personalidade psicopata. Na oitiva, o psiquiatra afirmou ainda que a ex-deputada relatou durante a avaliação ter sofrido abusos sexuais por parte de Anderson, como ter acordado e percebido contato indevido dele e sufocamento durante as relações sexuais.
Já os transtornos apontados na autópsia mental de Marzy são o afetivo bipolar e a síndrome de maus tratos. Segundo Hewdy, a filha afetiva "expressa as doenças de forma auto destrutiva" e que não tem características para ser autora de crimes contra a vida ou de ser uma pessoa violenta. O psiquiatra chegou a relatar um episódio em que ela tentou contra sua vida, ao atear fogo no próprio corpo. Na avaliação, a ré disse que houve tentativa de contato impróprio do pastor, mas que não chegou a ser vítima de violência sexual, mas de maus tratos, ao ser exposta por ele em episódios de furto na casa da família.
Em relação a Rayane, o especialista apontou que ela não apresenta doenças mentais, mas tem indícios de ansiedade, estresse, depressão e apresentou expressão emocional de tristeza, por conta da saudade do marido e dos filhos por estar presa, e quando falava sobre a morte do pastor Anderson do Carmo. De acordo com ele, a neta de Flordelis também não apresenta características para a participação em crimes e não tem perfil violento. Em seu relato, ela afirmou que houve contato indevido do pastor em uma situação no apartamento funcional da ex-deputada em Brasília, quando ela estava somente de toalha.
Ao ser questionado pelo Júri, Hewdy explicou que pessoas que não apresentam características de psicopatia também podem cometer crimes. A segunda oitiva, que teve início por volta das 12h, chegou ao fim às 14h08. Em seguida, houve um intervalo para o almoço.
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O primeiro depoimento do dia foi do psicólogo forense Sidnei Filho, que respondeu à perguntas técnicas da defesa e da acusação sobre o comportamento de mulheres e crianças vítimas de violência, dos agressores e sobre o relacionamento familiar em ambientes de abusos sexuais.
Durante o depoimento dele, a defesa exibiu vídeos de Ramon Oliveira, filho de Simone, e de Michele, filha afetiva de Flordelis, em que eles relatam situações de violência física e sexual na casa da família que teriam sido cometidos pelo pastor. Nas imagens, o primeiro contou que temia denunciar os abusos que sofria e lembrou de um episódio em que tomava banho e diz que "ele" - em referência a Anderson - ficou observando, sentado na pia do banheiro, o que o deixou constrangido.
Já a segunda, relatou que a mãe sofria agressões físicas e psicológicas por parte do marido, como episódios em que ela a mandava calar a boca, a pegava pela braço e que já teria quase derrubado a ex-deputada de uma escada. Michele afirmou ainda que parte dos familiares se casaram para poderem sair de casa e costumavam a alertar sobre Anderson, dizendo que ele "acabaria com vida e o psicológico" dela. Em outro momento, ela afirmou que costumava fugir da residência e chegou a ser questionada por Flordelis sobre o motivo, no que respondeu que sentia raiva de tudo e o tempo todo.
Desde o início do julgamento, a defesa dos réus vem tentando provar que o crime foi motivado pelos supostos abusos sexuais cometidos por Anderson contra Flordelis, Simone, Rayane e outros membros da família. Já a acusação defende que o pastor foi assassinado por razões de controle financeiro e posição de poder. O júri ainda precisa ouvir as oitivas de mais cinco testemunhas de defesa e a expectativa é de que o julgamento continue ao longo do fim de semana, podendo se tornar um dos maiores da história do país.
Outros depoimentos
Depuseram no quarto dia de julgamento, as três últimas testemunhas de acusação, que foram as filhas adotivas de Flordelis, Roberta Santos e Érica dos Santos de Souza, e a neta Rebeca Vitória Rangel. Em seguida, foram ouvidas testemunhas de defesa, sendo: médico oncologista Diogo Bagano Diniz, que atendeu Simone, filha biológica de Flordelis; o desembargador Siro Darlan; e o perito Sami Abder.
Durante o terceiro dia de julgamento, quatro testemunhas de acusação foram ouvidas, sendo: Raquel da Silva, neta da ex-deputada e também filha de Carlos Ubiraci, um dos envolvidos no crime e já julgado; Dayane Freires, filha adotiva, que trabalhava como tesoureira na igreja; Daniel dos Santos de Souza, filho adotivo; e Luana Vedovi Rangel Pimenta, nora de Flordelis e casada com Wagner Pimenta, também conhecido como Misael, filho adotivo.
Na terça-feira (8), durante segundo dia de oitivas, prestaram depoimento o inspetor da DHNSGI, Tiago Vaz de Souza, que atuou nas investigações quando o delegado Allan Duarte assumiu o caso, e os filhos adotivos Alexsander Felipe Matos Mendes, o Luan, e Wagner Pimenta, batizado por ela como Misael.
Já durante o primeiro dia de julgamento, nesta segunda-feira (7), foram ouvidos a delegada Bárbara Lomba, que iniciou as investigações quando era titular da Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG), o delegado Allan Duarte, responsável pela conclusão do inquérito e Regiane Ramos Cupti Rabello, chefe de Lucas dos Santos de Souza, um dos filhos adotivos da pastora, já condenado por participação no crime.
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