Giovane Saionara Ramos é a primeira mulher negra a assumir o comando do IserjPedro Ivo / Agência O Dia

Rio - Formada em administração, mineira de Santos Dumont e militante da educação e dos direitos humanos, a professora Giovane Saionara Ramos, de 55 anos, é a primeira mulher negra na direção do Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro (Iserj). Mestre em ensino em biociência de saúde, pelo Instituto Oswaldo Cruz, com doutorado em educação, pela Universidade de São Paulo (USP), Giovane destacou que há muitas demandas estruturais a serem enfrentadas pela instituição, como a falta de professores, e comunicação e interlocução entre os diversos segmentos que compõem a escola.
"A gente assumiu em meio a muitas demandas. Temos a questão da falta de comunicação, que as pessoas reclamavam muito; falta de professores, possibilidade de merenda para todos, interlocução entre os diversos segmentos e cuidar da estrutura da escola em geral. Precisamos checar o funcionamento de tudo, cuidar da inspetoria, vigilância, quadro de professores, ver como estão as bibliotecas", disse. Para a professora, os desafios de gerir o Iserj se concentram na área estrutural. "Temos que lutar pela verba também, ela nos ajudaria muito nesse sentido. Faltam concursos também, principalmente para a área de educação infantil". 
A nova diretora contou que sempre teve um olhar voltado para as lutas sociais — a vontade de ser professora veio através de trocas com outros profissionais da área, éticos e comprometidos com a escola e universidade públicas. "Ser mulher e mulher negra não é fácil. Constituí-me professora ciente da minha negritude, voltando sempre o olhar para aquelas e aqueles que vieram antes de mim, nos estudos e nas lutas. A gente segue defendendo e lutando para que nossas meninas e nossos meninos possam colorir todos os espaços. O racismo estrutural está aí, doloroso e degradante, afetando a saúde mental. Que a educação pública nos ajude a livrar a sociedade desse cancro", ressaltou.
Giovane, nascida em 1966, é a segunda mais velha de seus cinco irmãos e sempre foi apaixonada pelos estudos. "Todos nós estudamos. Não tivemos dificuldades na vida, mas tudo era com muita luta. Meu pai, que era contador, fez questão que estudássemos", disse.
Por causa de sua paixão, ela acabou influenciando sua filha de 28 anos, que se formou em Letras na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "Sempre fiz tudo por ela. Foi uma luta, mas quando olho para trás fico pensando em como ela cresceu e conseguiu ser o que é hoje. Minha filha diz que eu sou a inspiração dela, mas eu digo o contrário: ela que me inspira. Uma mulher forte, companheira, intelectualizada".
Um dos objetivos da professora, além de lidar com os desafios da instituição, é construir novas lideranças que deem seguimentos aos ideais desenvolvidos no colégio. "A minha intenção é que a gente crie lideranças para que possam dar prosseguimento ao nosso projeto. Eu acho que é preciso arejar o tempo todo. O nosso projeto de uma escola democrática foi escolhido. A democracia venceu. A igualdade venceu", finalizou.
História
A Escola Normal da Corte, que daria origem ao Instituto de Educação, foi criada em 1880 e instalada provisoriamente no Colégio Pedro II. O primeiro diretor interino foi Benjamim Constant Botelho de Magalhães e, após a instalação, foram matriculados 175 alunos.
A Escola Normal da Corte foi então transferida para a Escola Central, no Largo de São Francisco, em 1888, e depois para o prédio da atual Escola Técnica Rivádia Corrêa, ali ficando até 1914, quando passa para o prédio da Escola Pedro Varela, depois demolida pelas obras do Metrô.

O objetivo da Escola Normal em sua fundação era preparar os professores primários de 1° e 2° graus, com ensino gratuito, abrangendo dois cursos: o de ciências e letras e o de artes. O uniforme tradicional só seria instituído em 1915. A fachada do colégio já serviu de cenário para a série 'Anos Dourados'. Atualmente, o edifício é uma instituição ligada à Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), que vai da creche à educação superior.