Allan, de 29 anos, pediu férias do trabalho para acompanhar todos os jogos da Copa do MundoPedro Ivo / Agência O DIA

Rio - Para não perder os jogos e entrar no clima especial da Copa do Mundo, Allan Oliveira da Silva dos Santos, de 29 anos, pediu férias no trabalho. Desde a abertura do evento, o militar já assistiu a 44 partidas e chegou a acordar às 6h30, todos os dias, para acompanhar os quatro jogos diários da fase de grupos. Agora, ele divide a tela da televisão com a do celular para poder assistir de forma simultânea às partidas, sendo duas ao meio-dia e mais duas às 16h.


Fã do jogador Neymar, Allan aprendeu a gostar de futebol com o seu pai e o seu avô. "Eu lembro que na minha infância eu assistia a todos os jogos do Brasileirão, domingo e quarta-feira 21h. Mantenho esse costume até hoje", disse ele, que joga pelada três vezes por semana impreterivelmente com os amigos do trabalho. "Esse amor pelo futebol já vem de berço. Como a Copa do Mundo é de quatro em quatro anos, fica uma expectativa enorme para ver a seleção entrar em campo", acrescentou.

Para o vascaíno, essa é a melhor época do ano para encontrar amigos, comemorar e fazer churrasco. "Futebol é isso, é emoção, é virada. O time mais fraco ganhando do mais forte, ver os gols, as inúmeras viradas, tudo isso dá vontade de reunir o pessoal. Seja para rir, para chorar. Eu mesmo já chorei em jogo da seleção". Um dos momentos mais emblemáticos para ele foi quando o Brasil ganhou em 2002. "Eu vi aquela cena, da taça sendo levantada, aquela turma de jogadores excelentes, não deu para segurar as lágrimas. Eu era criança e essa cena ficou marcada". Allan já está fazendo planos com a sua mulher para poder acompanhar a próxima Copa de 2026 de perto, nos Estados Unidos.

Há mais de 10 anos, o engenheiro Carlos Fernando Kasemodel Zambrana, de 32 anos, passou pela Rua Pereira Nunes, em Vila Isabel, Zona Norte do Rio, e se encantou com a decoração brasileira para os jogos da Copa. No mesmo momento, perguntou se poderia ajudar a pintar e fazer parte do grupo. Desde então, ele participa da montagem do espaço durante o evento.

"Eu morava em uma rua próxima a Pereira Nunes e nas copas de 2002 e 2006 eu ajudei meu prédio a se enfeitar. Chegamos a colocar bandeirinha e até a fazer uns desenhos no próprio estacionamento dele. Em 2010 o pessoal desanimou, mas eu mantive esse espírito", contou. "Em 2010, passando pela rua, vi um pessoal enfeitando e tinha um amigo meu que estava ajudando. Perguntei então se eu poderia participar e cá estou até agora".

O futebol sempre foi a paixão de Carlos, que desde pequeno colecionava todos os álbuns de figurinha, inclusive da Copa. Neste ano, ele está conciliando os horários do trabalho com os dos jogos do Brasil e, como está sendo liberado, sempre assiste na Pereira Nunes, junto com o pessoal da decoração. "Meu chefe tem liberado antes dos jogos para a gente curtir e, diferente de alguns lugares, não preciso voltar. Então consigo aproveitar mais um pouco esse clima maravilhoso que é a Copa do Mundo", concluiu.

O organizador da Rua Pereira Nunes, Celso Mendes, 44, está à frente do projeto desde 1994, mas a tradição começou em 1982. "A gente faz a festa para os moradores, não é algo grande para atrair muita gente e ter confusão. Ali é um ambiente mais familiar, para as crianças e a gente acaba recebendo moradores de outros bairros também", afirmou ele. "Não é nada gigantesco como esses outros eventos que têm por aí. A nossa atração especial é a própria rua que está toda enfeitada, inclusive, ganhamos o concurso de rua mais bonita do Brasil", declarou.

A maior motivação para Celso é ver o povo ocupando os espaços abertos. "Para fazer a decoração, eu me organizo financeiramente para ficar três meses sem trabalhar só para receber o pessoal na rua e ornamentá-la", disse. "Eu quero mostrar para as pessoas que a cidade é do povo e que ele pode ser sim seguro, desde que a gente tome conta. Aqui, a nossa expectativa para a conquista do hexa é a melhor possível", finalizou.

A "Galera" da Pereira Nunes é um grupo de moradores que colocam a mão na massa para caprichar na decoração da rua para a Copa do Mundo. Já são mais de 40 anos de pintura e dez copas nas costas, com uma equipe fixa de 15 voluntários que ajudam.

A rua tem cerca de 150 metros de pintura de chão, 12 muros grafitados e 9 km de bandeiras presas nos postes. Parte da verba é viabilizada por Celso e a outra parte é contribuição dos moradores.
Aumento do movimento em bares e restaurantes 
De acordo com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes do Rio (Abrasel), estima-se que a movimentação nos estabelecimentos neste final de ano, junto com a Copa do Mundo, deve aumentar em 30% o faturamento do setor. "O fuso horário entre o Brasil e o Catar também ajuda nos resultados do setor. Como os jogos acontecem entre uma e quatro da tarde, depois do almoço e antes do Happy Hour, a aposta é que mais gente possa ser atraída", declarou a associação através de postagem em suas redes sociais. 
Ausência do Alzirão 
Neste ano, um dos tradicionais locais para assistir aos jogos da Copa do Mundo, o Alzirão, na Tijuca, Zona Norte do Rio, completa 44 anos. No entanto, os organizadores não conseguiram patrocínio a tempo e teve que dar a triste notícia aos moradores e frequentadores de que esse seria a primeira vez sem a festa. "É chato né? A mudança da diretoria foi muito em cima da hora e dificultou tudo. Houve uma negligencia total da diretoria anterior para se mexer, coisa que teria que ser feito ano passado", disse o atual presidente da Associação Recreativa e Cultural Turma do Alzirão, Ronaldo Saliba.
De acordo com Saliba, a nova direção assumiu faltando apenas 79 dias para a Copa e teve que começar do zero. Entretanto, ele não descarta a possibilidade de ter uma surpresa nas finais dos jogos, caso o Brasil passe nas fases. "O sentimento é de tristeza, mas a gente continua trabalhando, pedindo ajuda, separando possíveis patrocinadores. Enfim, não estamos parados. Talvez, quem sabe, tenhamos uma luz no fim do túnel? Seria uma surpresa agradável devolver essa festa para a rua", completou.