Campinho da UFRJ, Campus da Praia Vermelha, Botafogo, Zona SulMapio.Net / Reprodução

Rio – A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) informou, nesta terça-feira (6), que está finalizando a composição da Comissão de Sindicância para proceder com a publicação da Portaria e apurar as supostas irregularidades no Projeto de Extensão "Projeto Nova Geração Carioca: Futebol como veículo de transformação social", suspenso por tempo indeterminado, na última quinta-feira (1º). Não foram divulgadas datas, mas a expectativa é de que a comissão seja formalizada e aberta ainda nesta semana.

O projeto atuou em parceira com o Clube Atlético Barra da Tijuca, cujo sócio-administrador é Adilson Oliveira Coutinho Filho e o sócio e Diretor de Futebol é Luís Antônio Verdini. Ambos foram alvos da operação Smoke Free, deflagrada no último dia 23. Verdini foi preso, mas o contraventor conhecido como Adilsinho segue foragido da Justiça. Adilsinho detinha 99% da sociedade, enquanto Verdini ficava com a cota de 1%. A suspensão aconteceu após a denúncia realizada pelo jornal da Associação de Docentes da UFRJ (AdUFRJ).

A reitora da Universidade, Denise Pires, confirmou ao DIA que existe o projeto de extensão, aprovado pelo colegiado da Escola de Educação Física e Desportos (EFFD) e pela Pró-Reitoria de Extensão (PR5), e informou que, se houver indícios de ligação com o clube, essa ligação é extraoficial. "Essa relação pode ser extraoficial, pode ser do servidor com esse clube. A Universidade não tem nenhuma ligação oficial com esse clube. Toda ligação da Universidade com o setor privado, seja ele qual for, deve passar pelos colegiados. Nunca assinei nenhum projeto com esse clube. Pesquisei e não há nada nas bases de dados da Universidade", explicou.

Questionada sobre indícios de ilicitude envolvendo o técnico administrativo e coordenador do projeto Ernani da Silva Thomas, que nas redes sociais do time foi apresentado como coordenador das categorias de base, a reitora explicou que deverá ser apurada a ligação entre Ernani e o clube. "Obviamente, se existe mesmo um uso daquele espaço privado sem que tivesse havido nenhum tipo de protocolo, termo de cooperação assinado, isso é ilegal. Não se pode usar um espaço público sem que a Universidade saiba", concluiu.

Procurada, a diretora da EEFD Katya Gualter disse à reportagem que o projeto foi suspenso até que se possam apurar os fatos. Katya explicou que o "Nova geração Carioca" teve uma parceria com o clube, mas temporária e pontual, assim como já teve parceria com outros clubes em outros momentos, como o América Futebol Clube e o Mesquita Futebol Clube, de 2017 a 2019. A parceria com o Clube da Barra foi inserida em 2020, mas por conta da pandemia, só aconteceu efetivamente em 2022.

A diretora disse ainda que "todos foram pegos de surpresa", já que todas as parcerias funcionaram dentro da regularidade. A suspensão, ela afirma, deve-se justamente ao fato do clube parceiro do momento estar inserido em uma situação de ilicitude, embora destaque que não há atuação dos sócios dos clubes no projeto. "O professor Verdini não integra a equipe do projeto. Não integrou jamais", esclareceu.
Verdini se apresenta em uma rede social de trabalho como doutorando en Educação Fisica, Mestre em Educação Física e Professor de futebol da Universidade, além de profissional de futebol com passagem pela Seleção Brasileira sub-20 e Seleção Olímpica da Arábia Saudita.

O projeto, aprovado na UFRJ em 2016 e com início em 2017, tinha cunho socioeducativo e atendia 120 jovens de várias comunidades, amantes de futebol e que aspiram à carreira profissional na área. A ideia era que esses jovens pudessem estar entendendo o espaço da Universidade como potencial esportivo, além de abrir os horizontes para aqueles que buscam se profissionalizar, possibilitando que tenham caminhos para isso. As parcerias funcionavam então para levarem a experiência aos participantes de jogar por algum clube.

Apesar da parceria temporária e pontual, a professora reforçou que Adilsinho e Verdini jamais atuaram no projeto. "Não é verdade que o Adilsinho usava o campo de esportes da UFRJ. Adilsinho nunca usou o campo da UFRJ. O Verdini não tinha qualquer ingerência sobre o projeto", reforçou. Por conta da suspensão, diretora lembrou ainda que medidas alternativas estão sendo pensadas para que os jovens atendidos pelo projeto não sejam apartados das suas atividades.
O DIA tentou contato com Ernani para confirmar sua relação com o Clube Atlético Barra da Tijuca, entender mais sobre seu trabalho como coordenador do "Nova Geração Carioca" e para saber qual o grau da sua ligação com Verdini e Adilsinho, mas não teve resposta.