Até o momento, a equipe Técnica e Científica da Polícia Civil registrou 229 óbitos, sendo 136 mulheres, 93 homens e 43 menores em PetrópolisMarco Pereira
Foi num bate-papo de começo de um dia de trabalho que Rafael Souza, meu amigo jornalista, desabafou comigo e achei que valeria compartilhar com vocês aqui na coluna.
Rafael é petropolitano, noticiarista da Rádio Tupi e um dos caras mais cultos que conheci até hoje… Elogios e admiração à parte, sempre uma conversa com ele rende, mas dessa vez foi com uma carga emocional forte.
A gente olha as imagens, chora pela dor de quem fica, mas também tem esse lado que só eles, os filhos da cidade vão ter: o descolamento de perder todas as referências da cidade imperial.
Rafael, que no dia da tragédia atendia no seu consultório no Centro, (ah! Esqueci de mencionar que ele é também psicanalista) é um cara que adora suas rotinas.
Falo isso porque com a tragédia, os locais que ele pontualmente frequentava simplesmente desapareceram, suas referências de localização também foram com a lama, os destroços e as histórias daquele 15 de fevereiro.
“A retomada da vida tem sido marcante para o petropolitano, o cidadão passa por uma dificuldade de rever sua própria cidade. O mais importante do que explicar a história daquele local, além dos seus grandes nomes, das grandes marcas históricas, generais políticos, é dar muita importância à microanálise, que é a história individual do dia-a-dia”, afirma Rafael.
O que marca a nossa vida são os detalhes, as pequenas ações e por onde ele passa na vida… É o que dá a noção de identidade do sujeito. Então, depois de uma tragédia como essa, você não consegue mais frequentar os lugares de costume, como uma simples lanchonete que simplesmente desapareceu entre lamas e restos. Tudo isso se junta à dor das perdas e tragédias das famílias.
Rafael ressalta que do sapateiro ao café e até às lojas onde compra roupas para os filhos, nada sobrou.
Ele caminhou por alguns quarteirões e não viu mais os bancos das praças, algumas pontes que constroem aquela identidade, dos que nasceram ou moram por ali há algum tempo.
O olhar da perda traz uma angústia, uma náusea, uma inquietação de não pertencimento mais.
Sim, tudo pode ser refeito, economicamente a falta de financiamento e apoio já são eminentes.
Mas as tonalidades do dia-a-dia de Petrópolis, que ficaram mais obscuras e marrons depois do baixar do primeiro impacto, reforçam ainda mais o que a gente que não é de lá sente.
A dor de perder ou conhecer alguém que se foi em minutos numa chuva soma com essa perda patrimonial também importante.
Petrópolis não deveria ser só importante para o petropolitano, mas para todo brasileiro que minimamente sabe sobre a sua história… A historia da finada Petrópolis.
Gente, como essa geração é rápida… Ou eu que sou muito analógica?
Precisei de um celular antigo (Sim, não desapego dos antigos porque tenho medo de perder as fotos e não sei o que é “cloud”, nuvem…)
Guardo lá como se fossem álbuns, daqueles que toda mãe tem dentro do armário.
Eis que fui tentar desbloquear e travei o celular. Por um minuto e cada erro de senha esse tempo só aumentava, fiquei com medo de “soldados da Apple” surgirem do nada, achando que eu estava invadindo o sistema deles, quando na verdade minha cabeça só estava confusa e o antigo celular, mais travado.
Eis que tive a ideia: “Dudu (meu filho de nove anos), coloca a senha aí desse celular pra
Vai que…
Ele olhou a capa (pra identificar de qual ano eu usei aquilo) e virou. Tela desbloqueada pra mim! Juro, não entendi até agora como ele fez aquilo.
Detalhe: esse celular é da época que ele tinha cinco anos. (Ele jogava um jogo e tinha a senha)
Saudade de ter mente fresca!
Bora colocar o Pingo no I…
Nunca mais julgo minha mãe que limitou sua tecnologia a descongelar carne no tempo certo do microondas… A hora chega pra todo mundo!
(Esse computador que eu escrevo a coluna também travou por esses dias, e agora tem um poder secreto sobre mim, mas isso é assunto pra outra coluna ou pra minha sessão de terapia, hahaha)
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