Por luana.benedito
Rio - Este verão pode ser o último da Ilha Grande do modo como a conhecemos: irrestrita e gratuita. O governo do Rio, capitaneado pelo secretário estadual de Ambiente, André Corrêa, quer implementar uma parceria público-privada (PPP) na paradisíaca ilha de Angra dos Reis. A ideia, que teria como intuito preservar o local por meio do controle do turismo desrespeitoso, é rejeitada por organizações da sociedade civil, que pedem mais diálogo.
A PPP, projetada após estudos, pretende cobrar ingressos de visitantes, além de controlar os 17 acessos da ilha para garantir que a lotação máxima não seja ultrapassada.
Praia do Abraão%2C um dos cenários mais conhecidos da Ilha GrandeDivulgação

O presidente da Organização Para a Sustentabilidade da Ilha Grande (Osig), Nelson Palma, considera inadmissível o controle privado. “Queremos a ilha com as características que ela tem, não com características faraônicas. A forma como está sendo colocado o projeto é muito duvidoso. Não há diálogo.”

A Osig busca, via Ministério Público Federal, barrar a PPP. Representantes foram a Brasília em novembro para encontrar alternativas na Procuradoria-Geral da República. Na justificativa da rejeição ao projeto, o presidente classifica a Ilha Grande como um lugar único e irretocável em seu estilo. “Ilha assim, no mundo, só tem a nossa. Se transformar em algo urbano, acaba. Quem vem aqui procura o simples.”

Em junho, uma audiência pública abarrotou a Câmara dos Vereadores de Angra para discutir a questão. Organizações civis e governamentais se posicionaram contra o projeto. Alegam que tomaram ciência quando já estava pronto, sem abertura para a opinião da comunidade.

“A secretaria veio aqui noticiar a proposta, não deixou a gente participar da construção do modelo. Foi o que assustou”, aponta o presidente da Associação de Moradores do Abraão, Alberto Marins.

Praia do Abraão%2C um dos cenários mais conhecidos da Ilha GrandeDivulgação

“Nas reuniões que tivemos (depois) com eles, principalmente o secretário André Corrêa, falaram que o projeto era irreversível. A gente aceitava ou aceitava. Ficou uma coisa meio imposta. A comunidade reagiu. Somos contra esse modelo”. Marins explica, no entanto, que não se trata de ser contra qualquer modelo de privatização.

O problema, diz, é entregar toda a gestão de Ilha Grande para uma empresa. “A gente vê, sim, que é interessante, por exemplo, privatizar o serviço de coleta de lixo. Privatizar o serviço de saúde, de educação. Mas como células separadas.” 

Secretário é alvo de críticas

Secretário estadual de Ambiente quando foi anunciado o projeto de PPP, o deputado André Corrêa (PSD) é considerado por Nelson Palma o principal vilão da história. “Parece que sempre atrapalhou o meio ambiente”, critica. A secretaria, agora comandada por Antonio da Hora até o retorno de Corrêa, que reassumiu o cargo de deputado na Alerj para votar o pacote de medidas de contenção de despesas do governo estadual, informou que o processo de privatização será discutido ao longo do ano com os moradores da Ilha Grande, algo que Corrêa havia sinalizado em reunião com moradores. A reportagem tentou contato com o secretário, mas não foi atendida. 

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Reportagem do estagiário Caio Sartori