Segundo o organizador, Alberto Rodrigues, 'o evento promete reconfigurar a historiografia oficial local, que excluiu ao longo dos tempos as culturas e escritas de pessoas negras e povos originários' - Divulgação
Segundo o organizador, Alberto Rodrigues, 'o evento promete reconfigurar a historiografia oficial local, que excluiu ao longo dos tempos as culturas e escritas de pessoas negras e povos originários'Divulgação
Por Irma Lasmar
SÃO GONÇALO - Devido à pandemia de Covid-19, a organização do Festival Literário de São Gonçalo (Flisgo) segue com suas atividades na modalidade virtual, realizando de 19 a 21 de fevereiro o seminário on-line Escritas Pretas, com transmissão pelo canal Q-Cria! do YouTube. "O evento promete reconfigurar a historiografia oficial local, que excluiu ao longo dos tempos as culturas e escritas de pessoas negras e povos originários, fazendo com que efeitos da colonização obtivessem poder sob suas formas de expressão", diz o organizador Alberto Rodrigues.
O objetivo do seminário é difundir as escritas resistentes do povo negro desde sua origem até os dias atuais, em meio aos processos de invisibilidade. Nos três dias de evento, serão quase 12 horas diárias de programação com oficinas, mostras de arte e painéis, que provocarão reflexões sobre como a escrita perpassa em vários âmbitos da sociedade e como as camadas excluídas da estrutura social a utilizam no combate ao racismo.
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Escritas Pretas é uma ação afirmativa e inclusiva da autoria negra e indígena que dinamita preconceitos e estereótipos veiculados pela literatura canônica, consolidando um campo de estudos linguísticos para o literário que reconhece especificidades a partir da criação de redes de diferença fundamentadas na similaridade de experiências históricas, existenciais, identitárias, raciais e étnicas”, acrescenta Alberto, que além de produtor cultural é também poeta. "Além disso, procura-se também contribuir para a ampliação do processo da construção nacional multicultural e mostrar a importância da escrita negra/indígena nas diversas atividades da sociedade e de como a ausência da mesma enfraquece a construção da igualdade para a efetivação dos direitos humanos".

Segundo ele, as escritas simbolizam a jornada dos “21 Dias de Ativismo contra o Racismo” em março e o carnaval junto ao samba, que se tornaram uma forma de resistência da cultura negra. “É um resgate da ancestralidade, da diversidade, da valorização do povo preto quanto à sua história, recontando ou contando uma história que que foi invisibilizada”, explica.
No último dia, haverá uma grande saudação ao samba, com uma oficina sobre samba-enredo da Prof. Dra. Helena Teodoro, pesquisadora sobre a história da cultura africana e afro-brasileira. Ocorrerá também rodas de conversa que falará sobre escritas do samba e compositores de samba-enredo, que possui uma grande importância no resgate histórico. “Todos os painéis vão contar com pessoas negras e com pessoas indígenas. Hoje em dia, falta muito dessa representatividade e da inclusão do povo indígena, do lugar de fala deles. Vamos trazer o olhar de uma minoria social”, conta Alberto. 
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Além de Helena Teodoro, outros nomes fortes desta militância estarão presentes no evento, como o ator Licínio Januário, a atriz Sol Miranda, a ativista indígena Cristiane Papion, a escritora Ana Cruz, além de outros nomes a serem confirmados.

Para mais informações sobre o evento, basta acessar o Instagram @flisgo.

Confira a programação do evento:

19 de Fevereiro - Sexta-Feira

10h - Oficina de Escrita /13h -Mostra de Texto /15h - Abertura

16h – Painel: Escrita da Fé

Sinopse: Como a escrita/literatura interage com a fé, com o ancestral, e como a mesma pode combater o racismo religioso

18h – Painel: Historicidade da Escrita

Sinopse: Visibilizar grandes referências da escrita preta e indígena, apagadas pela mídia e desconhecida da população brasileira, apresentando projetos de pesquisas quanto a temporalidades históricas que indicam os “perigos de uma história única”

20h – Painel: A Lei escrita: Poder e Representatividade

Sinopse: A importância das políticas públicas de igualdade étnico-raciais e a representatividade negra e indígena nos espaços de poder, empenhada na construção de uma sociedade democrática e igualitária

20 de Fevereiro - Sábado

10h - Oficina / 13h - Mostra de arte indígena /15h - Entrevista

16h – Painel: Escritas e Arte

Sinopse: A importância da escrita e da arte para a construção de políticas culturais de combate ao racismo e promoção da igualdade racial e étnica

18h – Painel: Narrativas Negras e Indígenas: a perspectiva autoral e social

Sinopse: A relação entre os processos de escrita na denúncia e combate às desigualdades sociais. Impressões de leitura e o produto livro digital ou impresso

20h - Painel/ Educação e Racismo: Escrita negra e indígena como estratégia de intervenção.

Sinopse: A importância das leis 10639/03 e 11645/08 no processo educativo descolonizador, tendo em vista a criação de uma cultura da igualdade a través da atuação da escola

21 de Fevereiro - Domingo

10h – Oficina /13h - Mostra “Lembranças de um carnaval” /15h – Entrevista /16h – Painel: A escrita do samba