Associação Fluminense de Amparo aos Cegos: 90 anos transformando vidas
Afac comemora uma bela história de reabilitação e inclusão social, a ser contada em livro
Por Irma Lasmar
Instituição filantrópica mais antiga de Niterói e a única no estado do Rio a ter uma produção própria de bengalas, lentes esclerais e próteses oculares, a Associação Fluminense de Amparo aos Cegos (Afac) completará 90 anos de atividades no dia 1º de maio. E, para celebrar a data, a instituição planeja ampliar seus serviços para a população. Para isso, estão previstos a criação de um espaço cultural aberto ao público, a fundação de uma faculdade de ensino superior em Terapia Ocupacional e a ampliação do Centro de Estudos Louis Braille, que será voltado para pesquisa e inovação, algo inédito no município.
Os trâmites burocráticos para a implantação da faculdade, que funcionará na própria sede da instituição, no Fonseca, já estão em fase final de aprovação pelo Ministério da Educação. A previsão é de que até o fim deste semestre tudo esteja pronto, com possibilidade, inclusive, de realização do primeiro vestibular. O Instituto Superior da Afac (Isafac), assim denominado, também oferecerá cursos de extensão e pós-graduação. Já o Centro Louis Braille será redimensionado através de parcerias com as universidades, cuja meta é ser um polo de atividades técnico-científicas para atuar também em conjunto com a Isafac.
O espaço cultural, por sua vez, além de contar a história da instituição através de uma linha do tempo e apresentar as tecnologias "assistivas" (termo ainda novo, utilizado para identificar o arsenal de recursos e serviços que proporcionam habilidades funcionais de pessoas com deficiência e promovem independência e inclusão), também apresentará os primeiros equipamentos e utensílios para facilitação das atividades de vida cotidiana desenvolvidos para este segmento de público, tais como bengalas, órteses, prótese e adaptações. Ambas as iniciativas têm o propósito de atender a pessoa com deficiência, mas também estarão à disposição do público em geral e de pesquisadores.
Ainda dentro das comemorações dos 90 anos, estão previstos o lançamento de um livro contatando a história da instituição - com título provisório de Afac: 90 anos transformando vidas, em fase de finalização pela DB Editora - e um evento na Câmara de Vereadores de Niterói. Por conta da pandemia, os festejos deverão acontecer em dezembro, como explica a coordenadora técnica do Centro Especializado de Reabilitação da Afac, Joana Merat.
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“De fato a pandemia afetou o projeto, mas isso também é geral. Sendo possível, claro, queremos fazer um evento presencial. Então deixamos para dezembro. Afinal, são 90 anos de história. A ideia de ampliar as atividades veio da própria necessidade de inovação e adaptação aos novos tempos. Por exemplo, dentro da visão de sustentabilidade, implantamos um sistema de energia solar e agora vamos partir para o sistema de reúso da água. Temos sempre que procurar nos aprimorar em todos os campos”, diz Joana.
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Muita coisa mudou desde que Afac surgiu, por iniciativa de um grupo de homens de forte atuação na sociedade fluminense, os quais já possuíam a visão da importância da inclusão. O objetivo inicial era acolher a pessoa com deficiência visual e, ao mesmo tempo, dar a ela uma função social. Por isso, a primeira sede da instituição foi num galpão que também funcionava como fábrica de vassouras, no bairro da Boa Viagem. Ou seja, o espaço oferecia uma atividade laboral para o cego. Acompanhando as transformações mundiais na área da medicina e da assistência social, nos anos de 1990, seguindo as regras nacionais e internacionais de atendimento ao deficiente, a instituição redirecionou suas ações numa perspectiva totalmente inclusiva e virou um Centro de Habilitação e Reabilitação (CHR), deixando de funcionar como abrigo. O desalojamento dos residentes na entidade também gerou polêmica, insuflada pela imprensa da época e pelos beneficiados dos serviços, pois julgaram que a associação estivesse se eximindo de uma de suas responsabilidades, quando na verdade a mudança de perfil sinalizava a intenção de uma verdadeira reinserção dos cegos junto às próprias famílias.
Nos anos 2000, uma nova mudança: a transformação em Centro Especializado de Reabilitação II, o chamado CER-II, passando a promover atendimento também ao deficiente visual e intelectual com espectro autista. Com exceção da capital, a Afac presta serviço a todos os municípios fluminenses, atendendo mensalmente 675 pacientes e dispensando 56 recursos ópticos (bengalas, óculos, próteses e outros).
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