Volta Redonda - Com a intenção de fortalecer as políticas públicas voltadas para o atendimento de pessoas em situação de rua surgiu o projeto “Cidadão VR”. O programa é uma iniciativa da Secretaria Municipal de Ação Comunitária (SMAC) de Volta Redonda, em parceria com a SME (Secretaria Municipal de educação) e Fevre (Fundação Educacional de Volta Redonda).
O “Cidadão VR” teve início no último dia 10 e oferta capacitação profissional e aulas do 1º ao 9º Ano do Ensino Fundamental na modalidade EJA. Os participantes também têm direito a uma bolsa no valor de meio salário mínimo, transporte, três alimentações diárias (café da manhã, almoço e lanche da tarde), além de uniforme e Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).
Luciana Martins da Conceição, de 44 anos, uma das beneficiadas com o projeto contou que há nove anos renunciou da vida que tinha, com o emprego de merendeira na rede pública devido ao vício das drogas. Ela deixou dois filhos, gêmeos, e acabou nas ruas. Atualmente, vende balas e dorme em um abrigo da prefeitura, mas quer mudar esse quadro em breve.
“Tenho dificuldades, porque sou usuária de crack. É difícil. Às vezes bate abstinência, mas estou há um mês sem usar. Eu decidi viver de novo e com essa oportunidade que a prefeitura está me dando, quero me levantar. Meu futuro agora é sair daqui com uma profissão. Pretendo ser uma assistente social para poder ajudar pessoas na mesma situação em que eu me encontro. O papel que as meninas da SMAC e do Centro Pop fazem é muito bonito e quero retribuir”, disse Luciana.
Outro tendido pelo projeto é o Marcos, de 25 anos, que preferiu se identificar somente desta maneira. Ele contou que foi parar nas ruas há pouco tempo, mas que a decisão de recomeçar ocorreu depois de ficar preso por três anos por tráfico de drogas.
“Desde os 11 anos de idade vendia drogas e acabei experimentando. Mas já paguei tudo, não devo nada para a Justiça. É um recomeço. Caí de muito alto. O tráfico te dá muito, mas ele cobra mais ainda e te tira. E o que me tirou tudo foi a droga”, falou.
O rapaz relatou que estudou até o 7º Ano do Ensino Fundamental (antiga 6ª série) e não tem uma profissão, mas que espera sair do "Cidadão VR" diferente.
“Estou em busca de um sustento. Minha maior dificuldade hoje é ficar longe das drogas e o projeto tem me ajudado com isso. Quero mudar de vida, construir uma família, conquistar alguma coisa, ter um diploma. Nas ruas, a gente tem que matar um leão por dia, você não tem sossego”, declarou, revelando ter deixado a companheira grávida e que espera poder voltar para acompanhar o crescimento da filha.
Outra historia dentro do projeto é do Maurício dos Santos, de 48 anos, que foi parar nas ruas há quatro anos, afundado no vício das drogas. Deixou esposa e dois filhos, mas encontrou a chance de superar a dependência química e conquistar um lugar no mercado de trabalho através do projeto.
“Fui parar na rua para não pedir ajuda a ninguém, mas lá eu fui caindo em abismo atrás de abismo. É um sofrimento sem fim. Decidi ir para São Paulo e na ‘Cracolândia’ queriam me matar, porque eu não tinha o perfil do usuário. Pensavam que eu era policial ou algum infiltrado de outra facção criminosa. Vim andando de lá para não morrer, até que cheguei a Volta Redonda”, disse.
Maurício comentou que procurou o serviço da prefeitura depois de ficar por muito tempo calado com a sua dor. Durante esse tempo, ele encontrava alento nas drogas, porém após o uso excessivo, foi parar em um hospital.
“Cheguei a uma anemia profunda, depressivo, com problemas de pressão arterial que me causavam desmaios. E o Cais Aterrado me deu todo esse amparo, assim como o Centro Pop. Hoje eu me considero um cidadão de Volta Redonda. Renovei toda a minha documentação e estou muito feliz estudando. Os professores me ajudam e espero sair daqui pronto para reescrever uma nova história. Chega de decepcionar pessoas”, relatou apontando para o uniforme do projeto.
Segundo o secretário municipal de Ação Comunitária, Munir Francisco, o Cidadão VR é mais uma ação do governo municipal para diminuir o número de pessoas em situação de rua na cidade, e assim resgatar a cidadania delas.
“Através deste belíssimo projeto, vamos facilitar o acesso à escolarização, qualificação profissional e colocação no mercado de trabalho, para os usuários atendidos no Abrigo Seu Nadim e no Centro Pop. Eu só tenho que agradecer ao prefeito Neto, por abraçar todos os nossos projetos. Agradeço também aos nossos parceiros que acreditam nesta ação. Estamos felizes e emocionados por poder contribuir com mais uma política pública em prol da população que está em situação de rua”, pontuou Munir.
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