Desde a reabertura do comércio de rua, o Centro de Campos tem visto grande movimento - Jean Barreto
Desde a reabertura do comércio de rua, o Centro de Campos tem visto grande movimentoJean Barreto
Por Leonardo Maia
Campos — Bastou o primeiro dia de reabertura do comércio de rua para que as autoridades campistas fossem confrontadas com a realidade. Não será fácil seguir adiante com o plano de retomada da economia sem um elevado custo na expansão da pandemia do coronavírus. O Centro de Campos ficou abarrotado de gente no início da fase amarela, mesmo com os alertas do prefeito Rafael Diniz que o relaxamento das restrições não era sinal verde para as pessoas tomarem as ruas (veja galeria de fotos ao fim da reportagem).
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Aglomerações nas estreitas vias do antigo centro da cidade, filas em frente às lojas, e até pessoas sem máscaras foram vistas aqui e ali. Apesar da tentativa de controle de fluxo de clientes, do uso de álcool gel e de medição de temperatura. Muitos desses protocolos se mostraram incapazes de conter o ímpeto do cidadão que achou que a liberação do funcionamento das lojas magicamente significa o fim do coronavírus.
Na rua Barão do Amazonas, tradicional local do comércio popular de Campos, pessoas circulavam como se não houvesse amanhã (veja vídeo abaixo).
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“A população estava isolada há cerca de 100 dias e o fluxo na área central foi muito grande”, reconhece Fábio Bastos, subsecretário de Governo.
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A administração campista se mostrava consciente dos riscos, mas, depois de muito suportar a pressão pela flexibilização dos decretos da quarenta, cedeu, e determinou a liberação de inúmeras atividades econômicas não essenciais. Além do comércio de rua, salões de beleza, concessionárias e igrejas podem reabrir suas portas. Talvez não por muito tempo.
Campos, 01/06/2020 - Lojas se prepararam para cumprir os protocolos exigidos na reabertura do comércio em Campos - Jean Barreto
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“Entendemos a necessidade de muitos em resolver questões no comércio, mas ressaltamos que, se o fluxo de pessoas continuar grande, infelizmente teremos que recuar da decisão e fechar o comércio”, alertou Bastos.
É verdade que, em antecipação à transição para a fase amarela, de alerta máximo, a prefeitura agiu em algumas frentes para que a inevitabilidade da retomada provocasse o menor impacto possível no aumento de novos casos. Ampliação do número de leitos e testagem em massa foram o principal foco da gestão Diniz nas últimas semanas.
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“O município tem adotado medidas que contribuíram para o achatamento da curva e evitar um grande aumento em fases posteriores”, argumenta Andreya Moreira, diretora da Vigilância em Saúde. “Ainda que exista a possibilidade de aumento do número de casos confirmados, os estudos e planejamento estratégico nos mostram que não tendemos ao colapso da rede pública de saúde”.
Campos, 01/06/2020 - Locais como o mercado popular de Campos demonstram os problemas da reabertura do comércio: pouco espaço de circulação e pessoas sem máscaras - Jean Barreto
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Recentemente, a rede pública municipal chegou a 199 leitos dedicados aos pacientes com sintomas ou com confirmação de covid-19. E a intenção é testar 30 mil campistas para o vírus.
“As cidades, os países que estão passando por uma segunda onda foi por terem flexibilizado antes da hora. Campos está flexibilizando agora”, diz Felipe Quintanilha, secretário de Desenvolvimento Econômico de Campos. “Tomamos medidas lá atrás, fizemos o lockdown total quando muitos ainda não estavam fazendo porque prevíamos o crescimento da curva. A gente achatou essa curva e hoje vivemos período melhor do que vivemos lá atrás”.
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De acordo com Quintanilha, a última semana foi a melhor desde o início do crescimento da pandemia, quando o número de casos ativos (544) foi inferior ao de pessoas recuperadas (602) — e, ao que tudo indica, imunizadas para o coronavírus.
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Campos, 01/06/2020 - O movimento em ruas como a Barão do Amazonas se assemelhou a um dia normal, inclusive com o trabalho irregular de ambulantes - Jean Barreto
“Claro, não estamos livres de ter uma segunda onda, um aumento dos casos. Mas vai ser necessário conviver com o vírus. Ele vai circular entre nós até a vacina chegar. O mais importante agora será definir com vamos lidar com isso”, pondera o secretário.
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As autoridades municipais prometem intensificar a fiscalização para coibir as violações aos decretos e as novas normas da fase 3, o nível amarelo, considerado ainda grave. De acordo com Aquino, a princípio os fiscais vão agir para orientação e conscientização da população, mas podem passar a multar os reincidentes.
“Neste primeiro dia de liberação do comércio, o volume de pessoas no Centro foi muito grande, e recebemos algumas denúncias quanto ao aumento do número de ambulantes não licenciados nessa área. Vamos analisar essa questão”, disse Márcio Aquino, superintendente de Postura.
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Campos, 01/06/2020 - Lojas se prepararam para cumprir os protocolos exigidos na reabertura do comércio em Campos - Jean Barreto
Com isso, Campos parece entrar numa nova realidade antecipada pelos especialistas. A de um abre e fecha recorrente, determinado pelo avançou ou recuo do vírus pelos moradores, até que uma de duas coisas ocorra primeiro: descoberta da vacina ou imunidade de rebanho.
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“Estamos levando em conta a margem de segurança e o monitoramento que fazemos diariamente com consolidação semanal dos indicadores epidemiológicos e matemáticos, o que nos dá segurança para esta decisão e, se registrarmos piora nos indicadores, retornaremos para fases de maior isolamento”, garante Andreya, que é médica epidemiologista.