Davi Rodrigues da Silva , de 15 anos, desapareceu há 18 dias após sair de casa, em Cascadura, na Zona Norte do Rio
Davi Rodrigues da Silva , de 15 anos, desapareceu há 18 dias após sair de casa, em Cascadura, na Zona Norte do Rio Arquivo Pessoal
Por Charles Rodrigues
Há 18 dias, dona Maria do Carmo da Silva, de 41 anos, acorda cedo e, após o café, faz sua oração e sai de casa com esperança renovada para uma árdua e dolorosa missão: encontrar o paradeiro do seu filho caçula Davi Rodrigue da Silva, de 15 anos. Moradora do Morro do Fubá, em Cascadura, na Zona Norte do Rio, a dona de casa não mede esforços e faz longas caminhadas em busca de informações ou pistas sobre o sumiço de Davi.
O adolescente desapareceu, após sair de casa, na noite do último dia 26 de fevereiro. Olhando a fotografia, dona Maria, emocionada, se recorda dos últimos momentos que passou com o filho: “era uma sexta-feira, por volta das 19h. Ele saiu do banho, colocou uma calça preta, a camisa do Flamengo, calçou as sandálias, me deu um beijinho e saiu. Nunca mais vi o Davi”, relata a dona de casa. “Ele é rebelde, costuma sair sem avisar; mas, me respeita e é muito carinhoso”, completou.
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‘A vontade de rever meu filho me encoraja!’
 
Dona de casa Maria do Carmo segura a fotografia do filho Davi, de 15 anos, que  desapareceu, há 18 dias, após sair de casa na Zona Norte do Rio  - Arquivo Pessoal
Dona de casa Maria do Carmo segura a fotografia do filho Davi, de 15 anos, que desapareceu, há 18 dias, após sair de casa na Zona Norte do Rio Arquivo Pessoal
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Destemida, dona Maria do Carmo já entrou em diversas comunidades da região, muitas vezes, correu perigo, mas nunca desistiu da missão. “Quando uma mãe fica sem o filho, ela retira força do nada. Tenho medo, mas a vontade de rever meu filho me encoraja. No início, não sabia a quem recorrer. Já fui em diversos locais onde ele poderia estar. Andei sozinha, noite à fora, sob viadutos, em comunidades vizinhas, vi gente de tudo quanto é jeito, mas não encontrei o meu menino”, contou dona Maria, que tem outro filho, de 17 anos.
O desaparecimento de Davi foi registrado na 29ª DP (Madureira) e encaminhado à Delegacia de Descobertas de Paradeiros (DDPA), que está responsável pelas investigações. Em janeiro deste ano, já foram contabilizados 383 desaparecimentos de pessoas, no estado do Rio de Janeiro, conforme dados do Instituto de Segurança Pública (ISP).
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Zonas Norte, Oeste e Baixada somaram 201 casos, em janeiro de 2021
Em janeiro deste ano, os sumiços nas Zonas Norte, Oeste e na Baixada já somam 201 ocorrências, correspondendo, aproximadamente, a 53% do total de casos registrados em todo o Estado. De acordo com especialistas em segurança pública, a despeito dos sumiços de pessoas serem desencadeados por uma diversidade de fatores, o fato dos territórios citados apresentarem maior incidência de milícias, tráfico de drogas e constantes operações policiais, seria determinante para o aumento de casos, sobretudo dos desaparecimentos forçados.

‘Infelizmente, na maioria dos casos, as famílias continuam fazendo o papel da polícia’, diz ativista
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No Brasil, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, desaparecem, anualmente, cerca de 80 mil pessoas. Para Luciene Pimenta Torres, presidente da instituição Mães Virtuosas do Brasil, que agrega familiares de desaparecidos em todo o Brasil, o desaparecimento de pessoas ainda é um problema social ignorado pelas autoridades e mal gerido pela maioria das polícias.
“Apesar dos avanços e implementações de políticas públicas nos últimos anos, o desaparecimento de pessoas ainda é tratado como um problema de família, quando, na verdade, é um problema social, motivado por inúmeros fatores. São milhares de pessoas, que sofrem a dor da ausência dos entes queridos. Os desaparecimentos são responsabilidade do estado, sociedade e das instituições”, afirma a ativista.
“Infelizmente, na maioria dos casos, as famílias continuam fazendo o papel da polícia. E o primeiro atendimento nas delegacias continua precário, sobretudo, quando os policiais desconhecem a Lei da Busca Imediata e orientam as pessoas, erroneamente, a retornarem 24h ou 48h depois”, completou Luciene.
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'Mães' contestam números apresentados pela polícia 
De acordo com dados da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), o Setor de Descobertas de Paradeiros (SDP) da unidade, que investiga casos em 11 municípios, registrou, no ano passado, 810 ocorrências de desaparecimentos e encontrou 673 pessoas, correspondendo 83,3% de elucidação. Números similares foram divulgados nos casos registrados em Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá.
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A ativista, no entanto, contesta os números apresentados pela Polícia Civil, sobretudo na Baixada Fluminense. Segundo Luciene, comumente, com algumas exceções, os agentes de segurança continuam atendendo mal às famílias, desconhecendo às leis e não investigando os casos como deveriam, deixando à mercê das famílias a responsabilidade de ‘investigar’ e fazer as buscas aos desaparecidos.
“Esses dados de resolutividade de 83,3% dos casos não condizem com a realidade. Na maioria das ocorrências, são as famílias que buscam os desaparecidos. Alguns são encontrados, outros retornam por conta própria. Os familiares comunicam à polícia, que registra como caso elucidado. Contudo, são poucas ocorrências solucionadas pela polícia. Outros milhares de registros ficam suspensos e temos milhares de famílias ainda em busca dos seus entes queridos”, pondera Luciene, que há 11 anos procura pela filha desaparecida e faz da sua busca uma militância.
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