Nesta terça-feira, a Procuradoria da República denunciou o ex-governador Sérgio Cabral por formação de quadrilha, corrupção e lavagem de dinheiro
Por gabriela.mattos
Rio - A ex-primeira-dama Adriana Ancelmo se entregou à Justiça Federal, na tarde de ontem, após ter o mandado de prisão preventiva expedido pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal. À noite, ela foi levada para o Presídio Joaquim Ferreira, no Complexo de Gericinó, onde ficou em cela individual, segundo a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária. Ela receberia camisa branca e calça jeans. Adriana é acusada de lavagem de dinheiro e organização criminosa na Operação Calicute. A Procuradoria da República denunciou seu marido, o ex-governador Sérgio Cabral, por formação de quadrilha, corrupção e lavagem de dinheiro. Ele também está preso em Gericinó.
Adriana virou ré com Cabral e mais 11 pessoas, no processo que investiga rombo de R$ 220 milhões aos cofres públicos, resultado da cobrança de propinas em obras (Maracanã, Arco Metropolitano e PAC das favelas). Eles têm dez dias para apresentar defesa.
Segundo Bretas, Adriana não colaborou no processo, alegando sigilo profissional. O aprofundamento das investigações apontam que ela “ocuparia posição central na organização criminosa, capitaneada por seu marido, Sérgio Cabral”, descreve o juiz. Para os procuradores da República, Adriana seria uma das principais responsáveis por ocultar recursos recebidos indevidamente por seu marido, valendo-se para tal de seu escritório de advocacia.
Também teria adquirido ilegalmente fortuna em joias de mais de R$ 6,5 milhões. “A sua prisão preventiva interrompe o ‘ciclo delitivo’ da organização criminosa e da lavagem de dinheiro em curso, permitindo assegurar a ordem pública e a efetividade da persecução criminal”.
Adriana receberia valores ilícitos em seu escritório. Uma funcionária da Ancelmo Advogados, Michelle Tomaz Pinto, contou que entre 2014 e 2015, um operador do esquema, Luiz Carlos Bezerra, entregava, toda semana, de R$ 200 mil a R$300 mil, no trabalho da ex-primeira-dama. Cabral pode ser condenado a 61 anos de prisão e Adriana a 21. O cálculo é feito com base nas penas mínimas de corrupção passiva, lavagem e organização criminosa. Ela não responde por corrupção passiva.
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Sérgio Cabral comprava presentes de R$ 1 milhão
A investigação descobriu que, em abril de 2014, Cabral gastou R$ 1 milhão em um anel e um conjunto de brincos, ambos de ouro amarelo 18k com rubi, em comemoração aos dez anos de casamento com Adriana. As peças eram da H’Stern. E o fato, pelo visto, não seria novidade.
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Em 18 de julho de 2012, quando Adriana completava 42 anos de idade, o ex-governador também gastou R$ 1 milhão. Foram comprados um colar, um anel e um par de brincos de turmalinas da joalheria Antônio Bernardo.
Na H’Stern, a Procuradoria da República afirma que o ex-governador gastou R$ 1,7 milhão sem emissão de notas fiscais. Na mesma joalheria, a esposa, que integrava o esquema, adquiriu R$ 520 mil, também sem emissão de notas.
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A Antônio Bernardo teria todo um sistema — com codinomes — montado para o esquema de Cabral e companhia. Adriana era ‘Lourdinha’; Carlos Miranda, ‘João Cabra’; e Cabral, ‘Ramos Filho’.
Adriana adquiriu, entre 2008 e 2015, 75 joias da Antônio Bernardo, totalizando R$ 853.904. Teve até peça especial com o nome dela, o ‘Brinco Fascínio Especial — Adriana A’, comprado em 2008 por R$ 200 mil.
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Eike Batista disse ao MPF que pagou R$ 1 milhão ao escritório de Adriana
A ex-secretária do escritório de advocacia de Adriana Ancelmo, Michelle Tomaz Pinto, encarregada pelo pagamento das despesas pessoais da ex-primeira dama e de Sérgio Cabral, contou aos investigadores da Operação Calicute que só os gastos mensais do ex-governador giravam em torno de R$ 220 mil. Esse valor era usado para “contas de previdência privada, funcionários, encargos trabalhistas, médicos, terapeutas, condomínio, IPTU, IPVA, seguro de carros, consertos de automóveis, entre outras coisas”, disse Michelle, confirmando que os pagamentos eram feitos em dinheiro.
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Com relação aos cartões de crédito de Adriana, Michelle disse que as faturas variavam entre R$ 30 mil e R$ 300 mil e também eram quitadas em espécie. Entre os documentos anexados ao processo, consta declaração do empresário Eike Batista, que procurou o Ministério Público Federal, espontaneamente, para informar que pagou R$ 1 milhão ao escritório de Adriana. Segundo Batista, a escolha do escritório foi feita pela Caixa Econômica Federal, com quem o empresário pretendia captar R$500 milhões para um projeto imobiliário.
Prisão só em cela sem grade
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No início da noite de ontem, o endereço de Adriana Ancelmo era o Presídio Joaquim Ferreira, no Complexo de Gericinó, Bangu. Ao chegar, a ex-primeira-dama receberia camisa branca e calça jeans. Como advogada, por lei, ela tem direito à prisão especial em local chamado Sala de Estado-Maior. “Ela não pode ficar em cela com grade e sim numa sala ampla, com janela e banheiro”, explicou Luciano Bandeira, presidente da Comissão de Prerrogativas da OAB-RJ. Caso contrário, a Justiça será obrigada a decretar prisão domiciliar.
Até as 21h, Adriana não havia chegado em Gericinó. Às 20h22, foi para o Instituto Médico-Legal (IML) para fazer exame de corpo de delito. Na Polícia Federal, ela ficou calada, acompanhada de advogados e do enteado e secretário estadual de Esportes, Marco Antonio Cabral.