Rio - Ataques articulados por traficantes que estão em presídios de segurança máxima fora do Rio, ônibus queimados, índices criminais voltando a patamares de 10 anos atrás. A resposta do governo federal ao caos crescente na Segurança Pública do estado? O envio de apenas 100 homens da Força Nacional (FN), contigente menor do que o efetivo das menores UPPs existentes, como a do Santa Marta, por exemplo, que possui 125 policiais.
O envio de reforço foi descrito como “uma mão amiga que o presidente (Michel Temer) tem estendido”, segundo o ministro da Justiça, Osmar Serraglio, e irá somar-se aos outros 125 agentes da Força Nacional que protegem a Assembleia Legislativa do Rio e o Palácio Guanabara de manifestantes há três meses. Os locais em que os 100 agentes irão atuar ainda serão divulgados em reunião hoje entre o secretário de Segurança do Rio, Roberto Sá, e o secretário Nacional de Segurança Pública, general Santos Cruz.
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- Governo federal autoriza reforço na segurança após ataques no Rio
- Deputados assinam moção de aplausos à PM por atuação na Cidade Alta
- Justiça realiza audiência de custódia com 40 presos na Cidade Alta
- Pelo menos 40 são detidos e mais de 30 fuzis são apreendidos na Cidade Alta
- Guerra entre facções provoca intenso tiroteio na Cidade Alta
Especialistas em segurança ironizaram a medida. “Cem homens atuando no policiamento ostensivo do Rio somem, não são nada. Isso porque a gente tem que levar em conta que eles irão trabalhar em três turnos, o que cairia para 33 homens por período de policiamento, fora as folgas. Mas se for na inteligência é bastante. Tem que ver onde eles irão atuar”, disse o coronel Ubiratan Ângelo, ex-comandante da PM e especialista em segurança da ONG Viva Rio.
Além dos homens da FN, agentes da Polícia Rodoviária Federal deverão ser enviados a fim de coibir o tráfico de drogas e de armas na Rodovia Presidente Dutra, uma das principais rotas de entrada à capital fluminense. O acerto entre o governador Luiz Fernando Pezão e o governo federal para o envio da Força Nacional e da PRF já tinha sido antecipado pelo DIA na semana passada. Pezão disse ontem que não solicitou o envio de tropas das Forças Armadas. No entanto, reafirmou que “qualquer tipo de ajuda é bem-vinda no momento”. Para o envio de militares federais é necessário a decretação de uma Garantia de Lei e Ordem (GLO) pelo presidente da República, solicitada pelo governador do estado, que deve argumentar não ter capacidade para garantir a segurança. Ontem pela manhã, a Viação Regina, que teve ônibus incendiados na ação de terça-feira, alterou o trajeto de seus coletivos da Avenida Brasil para a Linha Vermelha.
O anúncio do envio da FN foi antecipado em um mês, devido aos ataques coordenados por traficantes do Comando Vermelho que tentaram retomar o controle na Cidade Alta, em Cordovil. Conforme O DIA revelou, o confronto aconteceu após o traficante Carlos Gravinni, o Rato, ter solicitado à cúpula do CV o envio de homens das principais favelas dominadas pela facção para a invasão da comunidade. Incêndios a ônibus também faziam parte do plano.
A última ação do tipo ocorreu em novembro de 2010, quando o CV incendiou 28 ônibus em represália à transferência de chefes do tráfico para presídios federais. Na época, os índices criminais eram menores que os atuais e, mesmo assim, o governo federal enviou 800 militares para uma operação no Complexo do Alemão, então quartel-general da quadrilha. A Vara de Execuções Penais (VEP) confirmou que determinou em março a permanência, por mais um ano, de Rato no presídio federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte.
Ataque à Cidade Alta foi planejado envolvendo comboios com carros
O dia seguinte ao ataque na Cidade Alta contou com operações policiais em comunidades de onde partiram os traficantes que integraram a ação. Desde cedo, a Polícia Militar realizou incursões na Favela Kelson’s, na Penha. Como efeito colateral, 2.523 alunos de escolas da comunidade foram prejudicados.
Sobre a ação de terça-feira, a Polícia Civil acredita que todos os traficantes tenham se reunido já nas proximidades da Cidade Alta, em carros. Moradores chegaram a denunciar que a reunião para a invasão foi perto de uma base da UPP da Vila Cruzeiro, mas a informação foi refutada pelo serviço de inteligência da Secretaria de Segurança Pública e negado pela PM. Somente cinco homens teriam saído da Vila Cruzeiro, em um carro.
Estas informações foram confirmadas em audiência de custódia realizada no Tribunal de Justiça. Por meio de videoconferência, os juízes Maria Tereza Donatti e Marco Couto ouviram os 40 acusados de participar da invasão e converteram a prisão em flagrante em preventiva. Todos responderão por envolvimento com o tráfico e porte de armas, como fuzis, pistolas, granadas e munições. O Ministério Público anunciou que obteve a internação provisória do adolescente apreendido na operação.
Ontem a Alerj fez moção de aplausos à ação da PM que prendeu, no total, 44 homens e o adolescente. “A PM respondeu rapidamente minimizando os efeitos do que poderia se transformar em uma grande tragédia para a cidade e sua população”. Uma moradora da Cidade Alta se recupera após ter sido baleada por um traficante durante a invasão.
Colaborou Francisco Edson Alves