Rio - Há um mês, a Favela da Rocinha, a maior da América Latina, voltava a viver dias sangrentos na disputa pelos pontos de venda de drogas. A guerra era protagonizada por dois criminosos que até então eram aliados: Antonio Francisco Bonfim Lopes, o Nem — preso em um presídio federal de Rondônia, e Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157. As autoridades demoraram a agir e, 30 dias passados, moradores ainda temem a escalada da violência na comunidade. Há dois dias não há registro de tiroteio.
Ex-segurança pessoal de Nem e seu substituto após o chefão da Rocinha ser preso, em 2011, Rogério 157 não era unânime e sua liderança era contestada. Na tentativa de colocar seus homens de confiança no comando da Rocinha, Nem acabou perdendo três de seus comparsas, entre eles Ítalo de Jesus Campos, o Perninha, apontado como a escolha de Nem para comandar o tráfico na favela. Eles foram mortos após tentar tirar 157 da liderança do tráfico e seus corpos encontrados dentro de um carro na Estrada da Gávea, em São Conrado.
Quatro dias depois, no dia 17 de setembro, a guerra estourou na comunidade com a invasão do bando de Nem, causando diversas mortes. Rogério 157 mudou de facção e conseguiu manter o controle dos principais pontos de drogas, no alto da favela. Acuada, a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha observava o vai e vem de bandidos que chegavam para guerrear, conforme vídeos que circularam pela internet.
Socorro das Forças Armadas
Sem dar conta de estabilizar o confronto entre os traficantes, a Secretaria de Segurança pediu ajuda às Forças Armadas, que mandou milhares de militares para cercar a Rocinha enquanto policiais das Forças Especiais da PM realizavam operações dentro da favela, no dia 22 de setembro, o mais violento desde a tentativa de invasão.
A Autoestrada Lagoa-Barra, que liga às zonas Sul e Oeste, chegou a ficar fechada por quatro horas. O cerco durou uma semana e, mesmo sem a prisão de Rogério 157, foi considerada um sucesso. Os militares chegaram a apoiar outras duas operações na comunidade, nos dias 10 e 11 deste mês.
Após a saída das Forças Armadas da Rocinha, os tiroteios voltaram a ser registrados na comunidade, mesmo com a presença maciça da PM, que acontece até hoje. No meio do clima de tensão, 3,3 mil crianças e adolescentes ficaram sem atendimento em creches e escolas. Unidades de Saúde também tiveram seu funcionamento interrompido.
PM segue reforçando policiamento na Rocinha
?A Polícia Militar reforçou o policiamento na Rocinha desde o dia seguinte à tentativa de invasão, no dia 18 de setembro. Desde então 27 pessoas foram presas, sete menores apreendidos e 10 homens apontados como traficantes foram mortos.
O número de apreensões de armas impressiona. Foram apreendidos 19 fuzis, três submetralhadoras, cinco espingardas calibre 12, 21 pistolas, quatro simulacros de fuzis, três de pistola e 39 granadas ou artefatos explosivos. Mais de duas toneladas de drogas também foram encontradas.
Segundo a PM, 550 policiais da UPP Rocinha, do 23ºBPM (Leblon), do Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv), do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (GEPE) e das Forças Especiais da corporação (Bope, Choque, BAC e do Grupamento Aeromóvel).
São 15 pontos de cerco e 14 pontos de contenção no interior da comunidade. De acordo com a corporação, policiais das tropas especiais e da UPP realizam o patrulhamento no interior da comunidade, enquanto a Autoestrada Lagoa-Barra está sendo patrulhada pelo BPRv (Batalhão de Polícia Rodoviária) e pelo GEPE (Grupamento Especial de Policiamento em Estádios).
- PM só observa disputa entre traficantes na Rocinha
- Moradores da Rocinha relatam novo tiroteio; motivação é guerra entre traficantes
- Polícia prende homem de confiança do traficante Rogério 157
- Recompensa por paradeiro de Rogério 157 aumenta para R$ 50 mil
- Forças Armadas voltam à Rocinha pelo segundo dia seguido
- Forças Armadas deixam a Rocinha após uma semana