Rio - Uma médica e um policial militar protagonizaram uma briga em frente à UPA Cabuçu, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, na madrugada de terça-feira. Um vídeo que circula nas redes sociais e recebido através do WhatsApp do DIA (98762-8248) mostra a confusão e a profissional de saúde recebendo voz de prisão dos policiais do 20º BPM (Mesquita).
Nas imagens, é possível perceber quando o policial diz que ela está presa, após o momento em que ela teria chamado o mesmo de animal. Uma confusão se inicia e outras pessoas tentam fazer com que ela seja solta por um dos militares que a imobiliza. "Calma, não bate nela não", pede por duas vezes a mulher que registra a filmagem.
A corporação nega agressão à médica e diz que o policial que foi ferido e desacatado por ela. Entretanto, a PM disse que o comandante do batalhão vai investigar internamente o fato. Na nota, a Polícia Militar disse que a confusão começou após a profissional se negar a socorrer suspeitos baleados em um confronto.
Segundo a PM, os policiais entraram em confronto com criminosos na comunidade Grão Pará, em Cabuçu, e três suspeitos foram baleados. Os militares socorreram o trio para a UPA de Cabuçu, mas segundo os próprios a médica recusou atendê-los, sugerindo que eles os levassem para o Hospital Geral de Nova Iguaçu, no bairro Posse.
O policial negou qualquer tipo de agressão à funcionária. Segundo a PM, ele disse que foi desacatado e ferido no rosto pela médica, que o chamou diversas vezes de "animal". O policial e os três suspeitos acabaram atendidos no Hospital Geral de Nova Iguaçu. Não há informação sobre o estado de saúde deles.
O policial militar registrou queixa contra a funcionária na 53ª DP (Mesquita). Segundo a Polícia Civil, as investigações foram encaminhadas para a 56ª DP (Posse), onde a médica foi autuada por desacato. A instituição não esclarece se os policiais também foram autuados pela suposta agressão à médica.
Procurada pelo DIA, a médica, identificada como Gisele, disse que aguarda orientação de seu advogado para se pronunciar sobre o caso. Ela disse também estar recebendo apoio do Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj). A reportagem tenta desde cedo um posicionamento da instituição, que ainda não respondeu.
Secretaria de Saúde pedirá explicações à UPA
Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde esclarece que a orientação aos profissionais é que todas as pessoas — independentemente do estado de saúde — devem ser atendidos nas unidades da rede estadual.
A SES vai pedir explicações à organização social que administra a UPA Cabuçu para saber se houve recusa no atendimento aos baleados. Após a averiguação, caso seja necessário, tomará as medidas cabíveis em relação à profissional da unidade.
A secretaria também lamentou o ocorrido e disse que acredita "que os momentos de grande estresse que fazem parte do cotidiano dos profissionais tanto da Segurança quanto da Saúde podem ter gerado a discussão que acabou registrada no vídeo."
Presidente do Cremerj: 'Agressão absurda, desnecessária'
Em entrevista na manhã desta quarta-feira ao Bom Dia Rio, da TV Globo, o presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj), Nelson Nahon, criticou a postura da PM.
"O que assistimos é uma agressão absurda, desnecessária, de um policial a uma médica de plantão numa UPA. Tanto bombeiro, quanto Samu e policiais sabem que pacientes baleados, acidentados, devem ser levados para hospitais gerais. No caso de Nova Iguaçu o Hospital da Posse", disse.
Ele lamentou os recentes episódios violentos envolvendo profissionais de saúde do Rio. "No domingo um médico foi sequestrado no seu local de trabalho, agora uma médica agredida por um policial, isso tudo na semana do médico. Hoje, dia 18, é dia do médico. Os médicos estão trabalhando assim, em péssimas condições, sobrecarga de trabalho, salários atrasados no estado, em Nova Iguaçu, em Belford Roxo, e agora tendo que enfrentar tanto a violência dos marginais quanto agressões totalmente desproporcionais", falou.