Sinott vai comandar a 3ª Divisão do Exército, no Rio Grande do Sul - Severino Silva
Sinott vai comandar a 3ª Divisão do Exército, no Rio Grande do SulSeverino Silva
Por ADRIANA CRUZ

Rio - Divergências no gabinete da intervenção são apontadas como as razões que levaram o general de divisão Mauro Sinott Lopes, braço direito do interventor, general de Exército Walter Souza Braga Netto, a deixar a chefia do Gabinete da Intervenção Federal. O posto número 2 da missão militar no Rio passou a ser ocupado pelo general de brigada Paulo Roberto de Oliveira. Nos bastidores, comenta-se que as maiores desavenças de Sinott seriam com o secretário de Segurança, general Richard Nunes. Entre elas, nomeação de servidores e até o emprego de homens do Exército em operações, como uma megaoperação que havia sido programada por Sinott, mas foi abortada por Nunes, para combater um ataque aos militares entre a Vila Kennedy e Vila Aliança, na Zona Oeste.

O porta-voz do Comando Militar do Leste (CML), coronel Carlos Cinelli, nega que a saída de Sinott seja motivada por qualquer desavença com a equipe da Intervenção Federal. Segundo ele, a mudança estava prevista desde março, quando houve a promoção de Sinott para o comando da 3ª Divisão do Exército, em Santa Maria (RS). Na ocasião, segundo Cinelli, o general Braga Netto pediu a Sinott que ficasse até a consolidação do Plano Estratégico da Intervenção, o que aconteceu no início do mês. Cinelli disse ainda que o general Paulo Roberto de Oliveira já assumiu o cargo, que acumula com a chefia de Estado-Maior do CML, onde já estava lotado. Enquanto o general Antônio Manoel de Barros está a frente da 1ª Divisão do Exército, cargo pelo qual responde desde março, quando Sinott passou a ficar só na Secretaria de Intervenção. Barros também está à frente do Comando Conjunto do CML.

Respeito à hierarquia

Militares ouvidos pelo DIA alegam que Sinott e Nunes tinham apenas opiniões diferentes, principalmente sobre operações, mas que nunca houve insubordinação de Nunes. Alegam que o secretário é muito mais novo do que Sinott e que a hierarquia no militarismo é sempre respeitada.

Em nota, o Gabinete de Intervenção explicou que a mudança foi publicada no Diário Oficial do dia 6 de junho. Nega ainda qualquer tipo de embate entre Sinott e Nunes. E acrescenta que desde o dia 20 de março, Sinott já deveria ter seguido para o Rio Grande do Sul.

O general Paulo Roberto exercia a função de chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Leste desde agosto. Natural de Curitiba, no Paraná, o oficial é oriundo da Arma de Infantaria, já comandou a 15ª Brigada de Infantaria Mecanizada, em Cascavel, e foi chefe do Estado-Maior do Oeste.

Embora o fim da intervenção esteja previsto para 31 de dezembro, alguns militares defendem a antecipação para setembro: antes das eleições. Entre as alegações, está a falta de verba.

Intervenção seria 'jogada' política
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A intervenção anunciada com pompa e circunstância pelo presidente Michel Temer, na verdade, pegou os militares de surpresa. E mais: foi vista por parte dos integrantes da Força Armada como uma espécie de 'golpe' para Temer cair nas graças da população, com o emprego de homens nas ruas. Nos bastidores, generais sustentam que as ações dos Exército estão relacionadas à Garantia da Lei e da Ordem e não com a intervenção.
De cofres vazios, sustentam que a intervenção apenas na Secretaria de Segurança é só administrativa. E que o presidente Temer tem que conviver com a realidade de que é impossível colocar quatro mil militares nas ruas para dar sensação de segurança à população porque não há verba que suportasse tais operações.
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A intervenção no Rio é rejeitada por boa parte dos generais que está dentro ou fora da corporação. E que no futuro os cariocas vão concordar com a maneira ponderada como Braga Netto conduziu a missão no Rio.
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Interventor critica governo Pezão e TCU libera gastos sem licitação
Ao falar em evento ontem sobre os quatro meses da Intervenção Federal na Segurança do Rio, o interventor, general Walter Braga Netto, fez críticas ao governo de Luiz Fernando Pezão. O militar afirmou que "não adianta ter ação e força se o estado não dá assistência social na comunidade" e declarou que as UPPs viraram 'interesse político'.
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Em outra crítica à gestão do governador, Braga Netto disse que as últimas viaturas da PM compradas pelo governo estadual "não eram robustas" para o patrulhamento e prometeu adquirir outras mais adequadas.
Como O DIA mostrou, o Gabinete de Intervenção Federal (GIF) ainda não conseguiu usar nem um centavo da verba destinada pela União de R$ 1,2 bilhão. Segundo o GIF, ainda era necessária a conclusão de licitações para compra de equipamento.
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Ontem, o Tribunal de Contas da União (TCU) decidiu que é possível a realização de contratações sem licitações durante a intervenção federal em razão de grave comprometimento da ordem pública, desde que cumpridos certos requisitos. A decisão foi tomada em resposta a uma consulta encaminhada pelo interventor.
Entre os requisitos, o TCU apontou que é preciso demonstrar que há urgência a ponto de impedir que se aguarde a tramitação regular de uma licitação. Além disso, o prazo dos contratos não pode exceder a data final para a intervenção, que acaba em 31 de dezembro.
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No evento de ontem, na Associação Comercial do Rio, o interventor falou ainda sobre o reforço no policiamento dos batalhões com o fim de algumas UPPs. A Secretaria de Segurança Pública chegou a um consenso de que essas unidades não alcançaram o resultado esperado. Até o final de agosto 9 mil policiais deixarão as UPPs da Cidade de Deus, Camarista-Méier, Fallet-Fogueteiro, Providência, Jacarezinho, Arara-Mandela, São João, Complexo do Alemão, Vila Cruzeiro e Rocinha. Algumas áreas ganharão companhias destacadas.
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