O homem que socorreu o estudante Marcos Vinícius da Silva, de 14 anos, morto no Complexo da Maré, afirmou ontem, em depoimento à Delegacia de Homicídios, que viu um blindado da Polícia Civil e o helicóptero da corporação no momento em que o estudante foi baleado. Ainda de acordo com o relato, não havia troca de tiros quando Marcos foi baleado por um tiro que atravessou seu abdômen.
Na segunda-feira, a mãe de Marcos Vinícius, Bruna Silva, irá prestar depoimento. Antes de morrer, seu filho relatou que viu um policial atirar de dentro do blindado na sua direção. O advogado da família, João Tancredo, disse que irá solicitar uma reunião com o interventor da Segurança no Rio, general Braga Netto, para falar sobre o caso. A Anistia Internacional e órgãos de Direitos Humanos irão se reunir com o chefe de Polícia, Rivaldo Barbosa, para debater as operações no Complexo da Maré.
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Nesta sexta-feira, outro estudante, que estudava na rede municipal, tinha a mesma idade de Marcos Vinícius e estava na mesma série escolar, foi enterrado após ser morto por um disparo na noite de quarta-feira, em Padre Miguel, na Zona Oeste. Criminosos passaram atirando próximo a Vila Vintém e um tiro acertou seu peito.
O corpo do adolescente Guilherme Henrique Pereira foi velado no cemitério de Irajá, enquanto o jogo Brasil e Costa Rica ocorria na Copa do Mundo. Fogos de festejos puderam ser ouvidos a todo momento.
Em cima do caixão, a camisa da rede municipal de ensino foi colocada. De acordo com parentes, Guilherme sonhava em ser engenheiro mecânico e gostava de brincar com pipas. Abalada, a dona de casa Marly Albino Pereira Natal, 48, ficou durante todo o tempo ao lado do caixão do filho. "Eu te amo tanto, meu principezinho. Por que fizeram isso com você?", dizia.
Amigos soltaram pipas em homenagem ao menino enquanto o ato ecumênico era realizado no cemitério. "Ele era apaixonado por pipa. A irmã dele, que está muito arrasada, trouxe uma pipa para deixar em cima do caixão", conta Agnaldo Cardoso, de 66 anos, vizinho da família.
Pai de Guilherme Henrique diz que DH nem o procurou
Passadas 40 horas do assassinato de Guilherme Henrique Pereira Natal, de 14 anos, morto a tiros na Vila Vintém, em Padre Miguel, a Delegacia de Homicídios (DH) da Capital ainda não fez perícia na cena do crime nem chamou pais e possíveis testemunhas para prestarem depoimento.
Na ação criminosa, outras duas pessoas, de 16 e 34 anos, também ficaram feridas. A denúncia foi feita por pessoas próximas às vítimas durante o enterro. Ainda segundo essas mesmas pessoas, parentes e amigos é que estão procurando câmeras de segurança que possam identificar os criminosos que estariam em um Fiat Pálio cinza e passaram fazendo disparos pela Rua Marechal Falcão da Frota.
"Só o PM de plantão do hospital, que fez a ocorrência, me procurou para pegar detalhes do crime. Estou esperando a Delegacia de Homicídios me procurar. Mas eles não conseguem investigar nem a morte dos próprios policiais, imagina a morte de um pobre", declarou, desapontado, o cozinheiro Roberto Carlos Natal, 50, pai de Guilherme.
A própria família já localizou câmeras na rua do crime, mas os proprietários afirmaram que só irão entregar para a Polícia. Até o final da noite de ontem, no entanto, nenhum policial havia procurado os familiares ou realizado perícia no local do crime. Procurada, a Polícia Civil não se manifestou a respeito.
No enterro, ontem, Tatiana Araújo, madrinha de Guilherme, diz que os irmãos dele, um rapaz de 17 e uma menina de 10 anos, estão inconsoláveis.
Colaborou Bruna Fantti