Operação que mira PCC no Rio cumpre 30 mandados de prisão, inclusive contra criminosos já presos - Divulgação
Operação que mira PCC no Rio cumpre 30 mandados de prisão, inclusive contra criminosos já presosDivulgação
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - A "filial" do Primeiro Comando da Capital (PCC) no Rio de Janeiro montou uma estrutura criminosa que atua de dentro do presídio de Bangu 4, no Complexo de Gericinó, onde o estatuto da facção é seguida à risca e novos integrantes são "batizados" para fazer parte da quadrilha. Nesta quarta-feira, Marcela das Chagas foi presa na operação desta quarta-feira e é apontada como a liderança solta da organização paulista no Rio, fornecendo armas e drogas para quadrilhas do Rio. Treze mandados foram cumpridos hoje.

Após racha com o Comando Vermelho (CV) na guerra pela disputa na Rocinha — que abraçou Rogério 157, a facção de São Paulo se aliou ao Terceiro Comando Puro (TCP). Objetivo não é disputar territórios, mas fornecer armas, drogas e logística para a organização criminosa do Rio.

"Estamos observando eles (PCC e TCP) desde a guerra na Rocinha e descobrimos os bastidores dela. Com isso identificamos uma aliança forte com o TCP. Essa é uma união estratégica para fornecimento de armas e drogas. Tinésio (preso em junho) era responsável por integrar essa facção paulista no Rio e ele ficava na Maré. Com a prisão dele, a Marcela assumiu o posto", disse Felipe Curi, titular da Delegacia de Combate às Drogas (DCOD).

Marcela das Chagas, conhecida como Tia, era o principal alvo da operação desta quarta-feira. Segundo as investigações, a integrante do PCC é mulher de confiança de Fábio Henrique de Farias, o Tinésio, líder da facção paulista no Rio, preso na Rodoviária Novo Rio em junho deste ano. Após a prisão dele, ela assumiu a liderança e era o principal alvo da ação de hoje.

Ela seria responsável por boa parte da negociações de drogas, armas e munições para o Terceiro Comando Puro (TCP), abastecendo diversas comunidades do estado. Chamou a atenção também durante o monitoramento dos criminosos a participação de mulheres na alta cúpula da quadrilha.

PCC batiza novos aliados no Rio

Mesmo com integrantes presos no Rio, dentro do presídio de Bangu 4, o Primeiro Comando da Capital (PCC) comanda o fornecimento de armas e drogas para aliados no Rio. Segundo a investigação da Dcod, a facção realiza uma espécie de batismo dos novos "associados". 

"Quem quer ir para o PCC precisa passar por esse batismo. Existem uma série de formalidades e regras a serem cumpridas, como mudar o vulgo, não pode ser o mesmo que tinha em outra facção. Até para se envolver com uma mulher, se ela já tinha envolvimento com outro integrante do PCC ou de aliados (TCP, por exemplo), esse cara tem que estar morto. Não pode se envolver com mulher de amigo", disse Pedro Bittencourt, delegado da Dcod. 

Além de posições estratégicas, mulheres também eram usadas como mulas para entrarem com drogas e celulares dentro de Bangu 4. Criminosos comemorando uma lei estadual que proíbe a revista íntima foram flagrados em escutas telefônicas.

"Muitas mulheres desse grupo entram com celulares desmontados e drogas nas partes íntimas. Isso dificulta muito o trabalho dos agentes da Seap e a investigação da Polícia Civil", disse Felipe Curi. As mulheres que faziam a função de levar ilícitos para a cadeia eram Thaysa Aparecida C. Da Conceição, a "Magrinha", e Daiana da Silva Rodrigues, a "Dadá". Elas estão foragidas. 

Thaysa Aparecida C. Da Conceição, a Magrinha; e Daiana da Silva Rodrigues, a "Dadá", levavam drogas nas partes íntimas para a quadrilha do PCC - Divulgação

Foram cumpridos mandados de prisão preventiva nesta quarta-feira contra Flávio Henrique Farias, conhecido como Tinésio (que já estava preso); Marcela das Chagas, a Tia; Daniel Nascimento da Silva, o DN; Everton Luiz de Souza Ribeiro, o Dentinho; Eduardo Silva Monteiro, o Bozo; Jean Cunha Soares, o Piloto; Luis Carlos Moraes de Souza; Thiago Rodrigues V. Machado, o Pastor; Thyago Andrade dos Santos; Adriana de Souza Belizario; Claudia Maria Marques Nunes; Raquel do Nascimento da Silva; Tatiane Cerqueira Fernandes, conhecida como Tia Realengo e Débora Conceição Moura.

Os indiciados responderão por tráfico de drogas, associação para o tráfico, organização criminosa, porte ilegal de armas, entre outros crimes. Se condenados, as penas ultrapassam 30 anos de prisão.

Em nota, a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) informou que, desde o início do ano, vêm realizando fiscalizações sistemáticas e aleatórias em todas as unidades prisionais, objetivando coibir a entrada de materiais ilícitos.

"Só no primeiro semestre deste ano, as apreensões de celulares cresceram 52%. Em relação às visitas, a Seap informa ainda que conta com scanners corporais, além do uso de esteiras de raio-x e raquetes. Este ano, mais de 60 visitantes foram flagradas com materiais ilícitos nas unidades prisionais e todos os casos foram encaminhados para a delegacia de área", diz a pasta no texto; 

"A Superintendência de Inteligência do Sistema Penitenciário (Sispen) está monitorando todas as ações pertinentes as organizações criminosas e não foi confirmado nenhum tipo de fato veiculado através na imprensa como 'ritual de iniciação'", completa. 

Você pode gostar