Enterro da costureira Vânia Silva Tibúrcio - Daniel Castelo Branco / Agência O Dia
Enterro da costureira Vânia Silva TibúrcioDaniel Castelo Branco / Agência O Dia
Por GUSTAVO RIBEIRO

Rio - A família de Vânia Silva Tibúrcio Lopes, de 36 anos, disse no enterro da costureira que vai processar o Estado para cobrar reparação pela morte dela. A mulher foi morta com um tiro no pescoço disparado por um policial militar que atirou contra o carro em que ela estava com o marido, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, na noite de segunda-feira, por deduzir que se tratava de uma tentativa de fuga.

O corpo de Vânia foi sepultado no Cemitério Nossa Senhora das Graças, no Tanque do Anil, em Caxias, às 16h desta quarta-feira. Os filhos, de 8 e 10 anos, viram a mãe ser enterrada.

"Vamos correr atrás dos nossos direitos. Um policial despreparado que, sem necessidade, atirou realmente para matar, e acabou matando minha cunhada. Foi uma coisa muito absurda. A gente não pode deixar assim pra lá. Tudo bem que não vai trazê-la de volta, mas infelizmente deixou duas crianças, um marido e a vida completamente abalada", disse a dona de casa Simone Prado, de 39 anos, cunhada de Vânia.

Enterro da costureira Vânia Silva Tibúrcio, 36 anos - Daniel Castelo Branco / Agência O Dia

O irmão da vítima, o motorista de coletivo Paulo César Tibúrcio, 42, disse que perdoa o PM que tirou a vida de Vânia, mas o classificou como despreparado. "O policial que fez o disparo, a gente perdoa ele. A gente sabe que a profissão dele é arriscada, mas o ato que ele fez, isso ninguém aceita", declarou o irmão.

"Eu posso dizer que ali foi despreparo do policial, porque eu acho que não tinha necessidade de eles abordarem daquela forma. Existem vários meios de fazer abordagem. Dava um tiro para o alto, ligava o giroscópio, dava um tiro no pneu... Mas foi atirar justamente na porta traseira onde o tiro entrou, pegou no encosto e atingiu em cheio o pescoço da minha irmã. E foi tiro de fuzil, uma arma de grosso calibre, uma arma que pega na pessoa e já sai estraçalhando tudo. Mas nós vamos agora procurar nossos direitos", acrescentou Paulo César.

Para a família, além da revolta, fica a saudade da mãe, irmã e mulher trabalhadora. "Vai ser difícil, porque ela é guerreira, trabalhadora. Ela tinha a confecção dela em casa. Só eu sei a luta que ela tinha com a confecção. Às vezes, quando era meio-dia e pouca, ela estava levando os filhos para a escola e eu brincava com ela: 'Já vai bater perna, né?'. E agora? Agora não tem mais isso", lamentou o irmão.

Segundo marido, PM atirou sem realizar abordagem 

Segundo Carlos Alberto Lopes Júnior, marido da vítima, a viatura estava seguindo o carro desde uma rua próxima a sua casa e atirou sem realizar uma abordagem. “O policial me pediu perdão várias vezes. Ele falou ‘me perdoa, me perdoa, é muita adrenalina. A gente trabalha na rua com muita adrenalina’. Eu respondi pra ele: ‘sua adrenalina foi usada na pessoa errada’”, conta o marido de Vânia.

“Ele falava ‘amigo, me perdoa, me perdoa, eu sou pai, tenho filho, eu não quero mais ficar na rua, eu não sou mal, foi uma fatalidade’. Eu respondi, ‘tudo bem, mas o seu filho vai estar com a mãe, e os meus?’”, desabafa.

Enterro da costureira Vânia Silva Tibúrcio, 36 anos - Daniel Castelo Branco / Agência O Dia

PM diz que policiais eram 'capacitados'

A Polícia Militar emitiu, nesta terça-feira, uma nota sobre o caso envolvendo Vânia Silva Tibúrcio Lopes, baleada no pescoço por um cabo da PM em Duque de Caxias, na noite desta segunda-feira. Através de sua assessoria, se defendeu dizendo que os policiais "estavam capacitados" e que foram induzidos a "achar que se tratava de uma tentativa de fuga" quando o carro arrancou após o marido da vítima desembarcar com a veículo engrenado.

"O veículo, conduzido pelo marido da vítima, constava como roubado desde abril e, possivelmente por esse fato, não obedeceu a ordem de parar e tentou fugir da equipe. O veículo foi perseguido e interceptado por outras viaturas em seguida num sinal luminoso. O motorista desembarcou com o veículo ligado e engrenado. O carro, em movimento, quase atropelou um dos policiais, induzindo a guarnição a achar que se tratava de uma tentativa de fuga ao bloqueio por supostos outros ocupantes. Foi quando houve o disparo", afirma a PM na nota, com base nas "primeiras informações da com base em depoimento dos policiais na Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF). 

 
 
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