Fogo se espalhou após aluno atear fogo em prova - Reprodução
Fogo se espalhou após aluno atear fogo em provaReprodução
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - Um levantamento feito pelo Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (Sepe-RJ) apontou que 25% dos funcionários da rede municipal de Itaguaí estão afastados por algum tipo de agressão. Segundo o Sepe, no total, Itaguaí tem 64 unidades de ensino, entre creches e escolas, e 3 mil funcionários. 

“Há casos de agressões verbais, psicológicas e até de tentativa de agressão físicas contra professores. Dezenas de profissionais estão fora da rede de ensino por algum tipo de problema médicos”, conta a diretora do Sepe de Itaguaí, Karine Luz. 

Karine também reclama do sucateamento da rede municipal. “Nos últimos tempos a rede de ensino está muito problemática. Não temos material básico para ensino, como: papel, quadros e livros. Existe uma carência enorme e quem paga o preço são os alunos e os funcionários”, afirma. 

O DIA teve acesso aos dados após um aluno colocar fogo em uma carteira. O caso aconteceu na escola Colégio Municipal Senador Teotônio Vilella, também em Itaguaí, na tarde de quinta-feira. Segundo a direção da escola, o fogo começou após o estudante brincar com um isqueiro enquanto a professora de Português estava virada para o quadro. As chamas se espalharam rapidamente e os alunos tiveram que sair às pressas da sala de aula onde aconteceu o fato. Houve correria e os próprios docentes tiveram de conter o fogo. Um docente inalou muita fumaça e foi levado ao hospital, mas passa bem.

Entretanto, contrariando a fala da diretora da escola, a Secretaria Municipal de Educação disse que "não foi um incidente". A pasta alega que o aluno colocou fogo na prova, em cadernos e papéis de balas e afirma que o aluno não estava brincando com um isqueiro. A secretaria não informou se o fogo foi proposital ou não.

De acordo com a Prefeitura de Itaguaí, "por precaução, orientou a direção da escola municipal a realizar o registro de ocorrência na delegacia local" (50ª DP Itaguaí). Por outro lado, a Polícia Civil disse que, até o começo da tarde desta sexta-feira, nenhum representante da secretaria ou do colégio procurou a delegacia para registrar o caso.

A diretora da escola solicitou uma reunião, nesta sexta-feira, com os responsáveis pelos alunos para conversar sobre o ocorrido. "Infelizmente foi um incidente e vamos apurar como que essa criança entrou com isqueiro dentro de sala de aula", informou a diretora da unidade, Leila Soares. 

Vanessa Domingos, de 30 anos, é dona de casa e mãe de um aluno que tem cinco anos e está no pré-ensino da Teotônio Vilela. Segundo a mulher, a escola sempre foi problemática. “Falta de tudo lá. Merenda, livros e as vidraças estão quebradas. Inclusive, há alguns meses — durante quase um mês — os alunos ficaram sem aula devido uma greve”, afirmou. “Nos últimos dias, a máquina de xerox quebrou e os professores tiveram que fazer vaquinha pra não deixar os alunos ficarem sem as provas”, completou.

Já sobre a violência, a dona de casa foi enfática. “É muito preocupante essa violência que já atinge até os espaços de ensino. Está faltando educação. Está faltando tudo", concluiu.

De acordo com a direção da escola, a sala onde aconteceu o "incidente" tem cerca de 28 alunos de idade de 12 e 13 anos que cursam o 6º ano do ensino médio. Nenhum dos estudantes se feriram. Atualmente, o Colégio Municipal Senador Teotônio Vilella — que fica no Centro da cidade — tem cerca de 980 alunos que estudam do pré ao 9º ano do ensino fundamental, entre manhã e tarde.

Ao DIA a diretora da instituição de ensino, Leila Soares, disse que o aluno — que tem apenas 12 anos — não tem histórico de problemas escolares e que "pensou que nada demais iria acontecer".

O motorista Thiago Resende, 32, pai de um aluno que estuda na mesma sala que o estudante colocou fogo em uma carteira, diz que a turma é "problemática". "Há alguns dias o meu filho fez aniversário e comprei um celular para ele. Na última segunda-feira, ele trouxe o aparelho para a escola e quando saiu para entregar uma prova, foi furtado. É inaceitável o que está acontecendo (nesta escola). Infelizmente, a diretora não consegue coordenar a escola com pulso. Fomos até a direção, falamos sobre o fato e ninguém tomo providência.

Assaltos também são frequentes

De acordo com o Sepe, além do comportamento agressivo dos alunos com professores, outro problema recorrente na rede municipal de ensino são os assaltos. A exemplo da escola Abelard Goulart, que fica no bairro Parque Paraíso, e foi roubada na última quarta-feira. Uma das janelas chegou a ser quebrada no assalto e foi consertada nesta manhã.

Já a creche Estrela do Sul, que fica em um bairro com o mesmo nome da unidade, foi vítima dos bandidos seis vezes nos últimos três meses. Em uma dessas vezes, bandidos entraram armados, por volta de 13h, durante uma reunião de pais e professores, e levaram todos os pertences daqueles que estavam no local. 

O DIA procurou a prefeitura de Itaguaí para saber quais medidas estão sendo tomadas para diminuir a violência nas unidades escolares. Em nota, a Secretaria de Educação e Cultura do município informou que "desconhece quaisquer afastamentos motivados por agressões de alunos".

"No Departamento de Pessoal da Educação, não há registros de licenças concedidas por esse motivo. Dessa forma, esta Secretaria não entende o que levou o Sepe a apontar esse quantitativo. Gostaríamos de saber, com base em que dados, o Sindicato chegou a esse número tão distante da realidade da educação na rede municipal de ensino", disse a pasta.

 

 

 

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