Rio - O lateral Rodinei, do Flamengo, esteve nesta quarta-feira acompanhando Nina Aché, sua namorada, no enterro da sobrinha Júlia, de 6 anos, morta junto com a avó após o táxi em que elas estavam ter sido soterrado na Ladeira do Leme durante o temporal no Rio. Na saída do Cemitério São João Batista, em Botafogo, onde os corpos foram sepultados, o jogador falou sobre a perda e relatou que a família está inconsolável.
Grávida de seis meses à espera de uma menina, Nina, que é irmã do pai de Júlia, deixou o cemitério amparada pelo jogador. "Eu não era tão ligado à ela, mas com certeza estou sentindo um aperto muito grande. Sabemos que o Rio de Janeiro não está fácil. Alguma coisa tem que mudar. É uma fatalidade. O táxi estava passando lá na hora, acontece de a pedra cair em cima e se perdem duas vidas importantes pra família. Os pais curtindo férias e tiveram que vir enterrar a filha junto com a avó", lamentou o atleta.
Sobre a parcela de culpa da prefeitura, Rodinei disse preferir não apontar dedos, mas afirmou que providências precisam ser tomadas.
"Eu não sou ninguém pra julgar a prefeitura, mas a gente sabe que tem muita coisa errada no Rio de Janeiro. Só nesse dia morreram 10 pessoas. Sabemos que tem que ter mudanças, dar um basta nisso. Até quando vamos perder vidas por fatalidades? Não é fácil. O Rio está em luto", completou.
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Os pais de Julia, Tatiane Neves e Philippe Assumpção, estavam de férias na Califórnia quando souberam da tragédia e voltaram ao Rio para o enterro. Philippe agradeceu aos amigos e parentes que se colocaram à disposição para ajudar a localizar avó e neta. "Eu estava longe, mas muito obrigado a quem ajudou de alguma forma nas buscas", disse o pai, logo após a filha ser enterrada. No último adeus à filha, Tatiane vestiu uma tiara de unicórnio da menina.
Amigos da família destacaram que Júlia e a avó, a astróloga Lúcia Xavier Sarmento Neves, 63 anos, estavam sempre juntas. "As duas eram muito unidas. A Lúcia era como se fosse mãe e avó ao mesmo tempo. Pelo que eu via, elas estavam sempre juntinhas. Quando a Tatiane não podia estar presente, a Lúcia fazia o papel de mãe e avó", lembrou a pedagoga Daniele Rivelo, 41, amiga da mãe de Julia.
Além de Lúcia e Júlia, o taxista Marcelo Tavares Marcelino, de 42 anos, que conduzia o carro, morreu no deslizamento na Ladeira do Leme.
Amigos criticam falta de prevenção
Amigos das vítimas criticaram a falta de investimentos e planejamento da prefeitura para desastres em temporais. Conforme O DIA publicou nesta quarta-feira, a Prefeitura do Rio só gastou 2,11% do montante disponível para prevenir tragédias como a que se viu no início desta semana.
"Isso aí é um alerta para o Rio, para o prefeito, que vai lá pra frente e fala um monte de besteiras, que não resolve nada, e a gente vê o resultado. Infelizmente, poderia ter acontecido com qualquer um de nós. A gente vê que o nosso Rio está muito despreparado. É algo assim assustador", disse Flávia Revela, 43, empresária, amiga da mãe de Júlia.
"Aquele caminho (Ladeira do Leme, onde o táxi foi soterrado) deveria estar fechado durante o temporal. Eu sempre achei aquele caminho esquisito mesmo sem chuva. Dizem também que tinham avisado, que estavam caindo árvores e pedras. E vai acontecer mais coisa toda vez que chover. São anos de descaso sem ninguém fazer nada", apontou a funcionária pública Márcia Alonso, 60, amiga da família.
"Tinha que ter não só sirenes nas comunidades, tem que avisar: 'evitem tais situações, não passe por ali'. Por que quem é que cuida dessas encostas? Quem que fiscaliza? Quem vistoria? É um erro grave a prefeitura não ter investido nada em contenção de encostas e prevenção de enchentes este ano. Tinha que mapear isso. Tem dinheiro, tem funcionário para isso", ressaltou a servidora pública Marcia Vilela, 64, também amiga da família.
Sindicato lamenta morte de taxista
Em nota divulgada por meio de redes sociais, o Sindicato dos Taxistas Autônomos do Município do Rio de Janeiro (STAMRJ) ressaltou que a categoria está em luto.
"Hoje (terça-feira), estivemos no local do trágico acidente, conversando com um parente próximo, estendendo nossos sentimentos e nos colocando à disposição para auxiliar a família nos trâmites funerários. Deixamos o contato do sindicato para que, se assim entenderem, possam fazer contato conosco para que façamos os ritos funerários. A classe de profissionais taxistas está enlutada. Tragédias como a que vivenciamos, hoje, nos fazem refletir sobre a fragilidade da nossa existência", diz trecho do comunicado.