Polícia faz megaoperação para prender 30 milicianos, dentre eles 4 PMs e um bombeiro
Um dos principais alvos da ação, o PM Rodrigo Jorge Ferreira, o Ferreirinha, acusado de atrapalhar as investigações do caso Marielle, foi preso após uma negociação
Por RAFAEL NASCIMENTO e RAI AQUINO
Rio - Policiais civis da Delegacia de Homicídios da Capital (DH) fazem, desde o fim da madrugada desta sexta-feira, uma megaoperação para prender 30 pessoas ligadas à uma das milícia que atua em bairros da Zona Oeste do Rio. Dentre os alvos da Operação Entourage, como foi batizada, estão quatro PMs e um bombeiro.
Até o momento, foram cumpridos 17 mandados de prisão, dentre elas contra quatro policiais militares. Nove deles foram cumpridos contra pessoas que já estavam presas por outros crimes.
"Essas informações foram obtidas ao logo da investigação do caso Marielle. Informações que vieram através desse inquérito e que nos possibilitou identificar esses milicianos e os diversos crimes que eles cometiam", destaca o delegado Daniel Rosa, titular da DH.
OS PRESOS QUE ESTAVAM EM LIBERDADE
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1. Rodrigo Jorge Ferreira, o Ferreirinha - Antigo liado de Orlando Curicica
2. PM Ricardo Bezerra dos Santos, o Ricardinho (31 anos), cabo lotado no 3º BPM (Méier) - Chefe do Terreirão (Recreio dos Bandeirantes)
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3. PM Leandro Marques da Silva, o Mingau, cabo lotado no 14º BPM (Bangu) - Homem de confiança de Orlando (02 da quadrilha)
4. PM Renato Marques Machado, soldado Machado - Homem de confiança de Orlando
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5. Eduardo Almeida Nunes de Siqueira (38 anos) - Clonador de carros roubados
6. Rafael Carvalho Guimarães, Merck - Clonador de veículos
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7. Fábio Conceição da Silva, Tibinha (32 anos) - Atua na Boiúna e se reporta diretamente a Orlando
8. Elton Pereira da Costa, Peppa - Atua no contrabando de cigarro
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Um dos mandados de prisão cumpridos contra quem já estava preso foi contra o ex-PM Alan de Moraes Nogueira, o Cachorro Louco, que cumpre pena no Batalhão Prisional Especial (BEP), em Niterói. Ele é considerado o fornecedor de armas do bando e o matador da quadrilha.
Os assassinos queimaram os corpos das vítimas e jogaram, no dia seguinte, na Cidade Alta, em Cordovil, para confundir a polícia, como se os traficantes da comunidade da Zona Norte tivessem sido os responsáveis pelas mortes.
MANDADOS DE PRISÃO CUMPRIDOS CONTRA PRESOS
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1. Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica
2. Ex-PM Alan de Moraes Nogueira, o Cachorro Louco
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3. Gilberto da Silva
4. Charles Dickson Pereira da Silva
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5. Ex-PM Luis Cláudio Ferreira Barbosa, Claudinho
6. Eduardo Faria Ferreira, Dudu Cerol
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7. Ubiraci Affonso, o Bira
8. Ruy Ribeiros Bastos
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9. William Balbino Lima, Balbino ou Balbi
Dos procurados que já são considerados foragidos está Felipe Raphael de Azevedo Rezende Martins, o Chel. Ele é tido como o "homem de guerra" da quadrilha de Curicica.
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Em 2012, Chel já havia sido preso pela 32ª DP (Taquara), pelo hoje chefe do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa (DGHPP), o delegado Antônio Ricardo Nunes, por envolvimento com a milícia de Jacarepaguá.
FORAGIDOS DA OPERAÇÃO
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1. Bombeiro Alexandre Vieira Borges
2. Felipe Raphael de Azevedo Rezende Martins, o Chel
Ferreirinha foi testemunha no caso Marielle e é acusado pela Polícia Federal de tentar atrapalhar as investigações. O inquérito contra ele e sua advogada, Camila Nogueira, por tentarem atrapalhar a investigação das mortes de Marielle e Anderson, foi entregue pela PF à Procuradoria-Geral da República (PGR) e tem mais de 600 páginas.
A investigação levou quase sete meses para ser concluída. A Polícia Federal quis saber se houve omissão ou fraude no processo de investigação das duas mortes. O inquérito concluiu que Ferreirinha e a advogada inventaram uma história para confundir a Polícia Civil do Rio.
Ferreirinha chegou a ser considerado a principal testemunha do caso. Na época, o PM afirmou que Orlando Curicica e o vereador Marcello Siciliano (PHS) foram os mandantes do crime. Os dois sempre negaram as acusações.
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Orlando Curicica está preso desde outubro de 2017 e atualmente cumpre pena em um presídio federal em Mossoró, no Rio Grande do Norte. O bando do miliciano é acusado de aterrorizar moradores e comerciantes do Terreirão (Recreio), Camorim e Parque Carioca/Jambalaya (Curicica) e Merck, Boiúna, Santa Maria, Mapuá, Lote 1000, Pau da Fome, Tancredo, Jordão e Teixeiras (Jacarepaguá).
INVESTIGAÇÕES
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As investigações para a operação de hoje começaram a partir de dois inquéritos policiais: um deles envolvendo a execução de Marielle e Anderson. O nome de Orlando Curicica, na época um dos suspeitos, foi apontado como responsável por vários crimes praticados por milicianos na Zona Oeste. As informações sobre sua quadrilha foram obtidas no celular dele, que foi apreendido no dia de sua prisão.
O outro inquérito que levou à ação desta sexta é sobre uma intimidação e ameaça que o grupo paramilitar fez a um delegado e um juiz.
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Os agentes estão em endereços do Rio e da Baixada Fluminense, como Ramos, Jacarepaguá, Recreio dos Bandeirantes e Bangu. Também vão ser cumpridos mandados em batalhões da Polícia Militar, dentre eles o 14º BPM (Bangu) e do Corpo dos Bombeiros, além de celas do Complexo Penitenciário de Gericinó, onde estão presos vários milicianos.
Ao DIA, o chefe do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa (DGHPP), o delegado Antônio Ricardo Nunes, disse que a Polícia Civil vai atuar com rigor até enfraquecer a milícia que está dominando várias regiões do estado.
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"Combater com rigor essas organizações criminosas é mais uma demonstração de força da Secretaria de Polícia Civil no combate às milícias. Todos os tentáculos desses grupos de transgressores serão objeto de rigorosas investigações, enfraquecendo cada vez mais essas estruturas criminosas", enfatizou.
'LEI DO SILÊNCIO'
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Durante as investigações, os policiais conseguiram uma grande quantidade de documentos que comprovam a atuação dos milicianos. O material, anexado aos inquéritos policiais, demonstra que a atividade do grupo tenta criar um monopólio das atividades econômicas clandestinamente para subjugar a população local de forma ilícita.
Os inquéritos policiais, instaurados pela DH, revelaram que o grupo paramilitar atua na exploração ilegal de serviços básicos na região, como transporte, lazer, alimentação e segurança, cobrando taxas de proteção aos comerciantes, pedágios aos trabalhadores de transporte alternativos (vans e mototáxis), além de dominar associações de moradores.
Os crimes praticados pelo bando são, em sua maioria, cometidos com muita violência, incluindo execução de testemunhas e tentativas de homicídio de autoridades responsáveis pelas investigações. Os membros da quadrilha fazem valer a "lei do silêncio" entre os moradores das regiões que atuam.
GRILAGEM
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Os inquéritos policiais comprovaram ainda que a organização criminosa conta com grande poder armado, aterrorizando e impondo uma rotina de intimidação a moradores e eventuais testemunhas.
Para manter o monopólio das atividades econômicas e a impunidade de suas ações criminosas, a quadrilha comete vários tipos de crimes, como homicídios, ameaças, torturas, extorsões, "grilagem", porte de arma de fogo, roubos, estelionato, contrabando, descaminho, dentre outros crimes.
A coordenadora do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado do Ministério Publico estadual (Gaeco/MPRJ), Simone Sibilio — que atua no Caso Marielle - acompanha as buscas na casa de um policial no Recreio dos Bandeirantes.
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As corregedorias da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros e o setor de inteligência da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), também participam da ação. A operação ainda conta com o apoio de PMs do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e policiais civis da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core).