Carro foi atingido por vários tiros dados por agente penitenciário - Montagem com reprodução de vídeo /  Redes sociais
Carro foi atingido por vários tiros dados por agente penitenciárioMontagem com reprodução de vídeo / Redes sociais
Por Beatriz Perez
Rio - O agente penitenciário que atirou contra um carro, que transportava uma família, no domingo em Realengo, disse que se confundiu. Cristóvão da Silva Nunes confessou que pensou se tratar do seu próprio veículo, que havia sido roubado naquela noite. O agente foi preso em flagrante por tentativa de homicídio, mas foi liberado em audiência de custódia na segunda-feira. O motorista do veículo atacado ficou ferido de raspão durante a ação.
O delegado titular da 35ª DP (Campo Grande), Luis Mauricio Armond, disse que o agente permaneceu no local do crime e pediu desculpas às vítimas. "Ele foi preso em flagrante por tentativa de homicídio. Fizemos a prisão, ele falou que se confundiu e um pouco depois pediu desculpas às vítimas", explica Armond.
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Um vídeo que circula nas redes sociais mostra o carro onde estava uma família que foi alvo de vários disparos. O registro foi feito por uma mulher que estava no banco traseiro e diz ter escapado da morte. 
Ela conta que há pelo menos nove marcas de tiros no veículo e aponta para um, no banco traseiro, onde disse que estava sentada. "O pior de todos: está vendo o tiro no banco? Exatamente onde eu estava. Se eu não tivesse abaixado, tinha tomado um tiro no meio dos meus peitos", narra a mulher.
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O homem que estava no veículo foi atingido de raspão no braço e socorrido ao Hospital Municipal Albert Schweitzer. A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) informou que "foi instaurado um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) para apurar o caso". O servidor foi afastado do serviço operacional e irá atuar em um setor administrativo até a conclusão das investigações, diz a pasta.
Em audiência de custódia na segunda-feira, o juiz Rafael Cavalcanti Cruz decidiu pela liberdade provisória do acusado. O magistrado entendeu que a conversão da prisão em flagrante em preventiva não se mostrou necessária, adequada ou proporcional. 
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De acordo com o inquérito policial, o veículo de Cristóvão da Silva Nunes teria sido roubado por três pessoas por volta de 20h10 de domingo. Dois dos criminosos estariam armados, e um deles estaria usando uma touca na cabeça. Após o roubo, o agente teria pedido uma carona para seu sobrinho e ambos teriam saído de carro para localizar os suspeitos e recuperar o veículo roubado. 
Por volta de 20h30, Cristóvão teria visto um veículo parecido com o seu e cujo motorista usava uma touca, e dado ordem de parada. Nesse instante, a porta do carona do veículo vermelho teria sido aberta e o condutor teria empreendido fuga, fazendo com que o agente presumisse que seria atacado pelo motorista. Ao constatar que havia confundido o veículo da vítima com aquele que havia sido roubado, Cristóvão pediu perdão à esposa da vítima. As informações estão na decisão da Justiça. 
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O juiz entendeu que a ocorrência poderia ter sido de erro de tipo permissivo no caso concreto, "o qual sempre exclui o dolo (intenção) e permite eventual responsabilização por crime culposo caso se considere inescusável o erro". O magistrado acrescenta que o fato investigado não apresenta gravidade em  suficiente para que se imponha prisão cautelar ao indiciado. 
80 tiros em Guadalupe
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O caso lembra a ação militar que matou o músico Evaldo Rosa e o catador Luciano Macedo no dia 7 de abril, no bairro de Guadalupe, na Vila Militar, Zona Norte. Os militares abriram fogo contra o veículo e disseram ter confundido a família com criminosos. Evaldo estava com a família, indo para um chá de bebê, quando se deparou, por volta das 14h30, com uma patrulha do Exército. Em seguida, o veículo foi atingido por tiros. O músico morreu e o sogro dele, Sérgio Gonçalves, ficou ferido. Os demais ocupantes, a esposa de Evaldo, Luciana dos Santos, o filho de 7 anos e a amiga do casal, Michele da Silva Leite, não foram atingidos. O catador Luciano foi baleado quando tentava ajudar Evaldo e sua família. Ele faleceu no hospital. 
A Justiça Militar terminou de ouvir em junho testemunhas de defesa dos militares do Exército envolvidos no caso. Foram ouvidas 11 testemunhas, quase todas militares. As testemunhas de acusação, incluindo a família alvejada, foram ouvidas em maio. A próxima fase do inquérito será em agosto, quando novas testemunhas de defesa serão ouvidas. A expectativa da promotoria é encerrar o caso ainda este ano.