Uso de duas máscaras não é necessário se protocolo for seguido corretamente, dizem especialistas
Vídeos que circulam nas redes sociais afirmam que uso de máscara cirúrgica embaixo de uma de pano seria mais eficiente contra novas variantes do vírus, mas médicos discordam: 'Aumenta o desconforto e faz a pessoa levar a mão ao rosto'
Aglomeração no Centro do Rio. Na foto, Avenida Passos - Estefan Radovicz / Agencia O Dia
Aglomeração no Centro do Rio. Na foto, Avenida PassosEstefan Radovicz / Agencia O Dia
Por Yuri Eiras e Jorge Costa*
Rio - Pouco mais de um ano se passou desde o início da pandemia no Brasil. De lá para cá, a população tem recebido uma enxurrada de informações - muitas delas falsas, ressalte-se - sobre dicas e protocolos para diminuir os riscos de infecção. O mais recente dos rumores é de que só o uso de uma máscara cirúrgica embaixo de outra máscara de pano poderia evitar a contaminação pelas novas variantes da Covid-19 que circulam no país. Especialistas, no entanto, discordam da ideia de sobreposição de máscara.
"A máscara cirúrgica embaixo da de pano aumenta o desconforto", avisa o médico infectologista da UFRJ Edmilson Migowski. "Quem usa máscara não tem costume. Por conta disso, leva a mão ao rosto com maior frequência do que levaria se usasse uma máscara mais confortável. Uma das fontes de contaminação mais impactantes é a mão não higienizada, contaminada, tocando olhos, boca, nariz e a própria máscara", explica. Para Migowski, o mais efetivo para diminuir o risco de infecção ainda é o tradicional protocolo sanitário: uso da máscara contínuo em locais públicos, mãos higienizadas e distanciamento.
"Acho que as pessoas podem usar a máscara de pano, com o procedimento padrão, não ficar levando a mão ao rosto. Em tese, esses vírus mutantes podem ter maior transmissibilidade. Mas repito, a gente continuar observando a não aglomeração, a higienização das mãos, e a vacinação - esta tão logo possível -, são as medidas mais acertadas. Ao lado, obviamente, de uma outra medida, que é orientar população sobre os sintomas da doença. Suspeitando enfermidade, aumentar o distanciamento. E o terceiro pilar, que é o tratamento imediato".
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Médica geriatra: 'as pessoas fingem que usam máscara'
Para a médica, geriatra e psiquiatra Roberta França, a população ainda falha gravemente no uso cotidiano das máscaras, ao usar abaixo do nariz ou se comunicar com outra pessoa sem a posição correta da proteção. Para ela, mais fundamental que o uso de duas máscaras é o uso de uma corretamente.
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"Se usássemos a máscara da forma correta e não tirássemos em nenhum momento do dia, nós não estaríamos vivendo o cenário atual. Porém, as pessoas fingem que usam as máscaras. Elas usam em todos os lugares, menos na boca e no nariz durante todo o tempo que estão fora de casa. Falam no celular, descem a máscara. Vai falar com alguém, tira a máscara. Tudo isso tem inviabilizado", afirma a especialista. Em dezembro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) endureceu e recomendou o "uso universal" da máscara, principalmente em locais públicos. A proteção é recomendada desde maio.
"Diante do cenário atual, alguns lugares já mostram que a máscara de plano simples nao é efetiva contra as variantes. Alguns lugares do mundo já se orienta a máscara cirúrgica. Não é preciso ter descarte imediato, mas precisa ter vários cuidados. Em breve, vamos realmente não poder mais usar a máscara de tecido, e ter que passar a usar as máscaras que são cirúrgicas. Trocá-la a cada quatro horas, se estiver num ambiente hospitalar, ou de muita gente. Mas as pessoas usam as mesmas máscaras de pano dias e dias, sem lavar, higienizar. A verdade é que não seguimos as medidas necessárias", completou a médica.
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Estado do Rio é o quarto com mais taxas de 'variantes da preocupação'
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) informou, nesta quinta-feira (4), que verificou variantes do coronavírus em 62,7% das amostras coletadas no estado do Rio. A publicação foi feita por meio de um comunicado técnico emitido pelo Observatório Covid-19 Fiocruz. O documento faz um alerta sobre uma dispersão geográfica das chamadas "variantes de preocupação" para todo o território nacional.
Entre os oito estados monitorados pela Fiocruz nesta publicação, o Rio de Janeiro é o quarto com o maior índice de taxa registrada das "variantes da preocupação". O levantamento também detectou alta presença desse registro nas três regiões do país avaliadas: Sul, Sudeste e Nordeste.
São três variantes atualmente detectadas pelo protocolo da Fiocruz, entre elas: P1, identificada inicialmente no Amazonas; B.1.1.7, encontrada no Reino Unido, e B.1.351, registrado na África do Sul.
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