Casal foi alertado por enfermeiro de que o atendimento poderia não acontecer
Casal foi alertado por enfermeiro de que o atendimento poderia não acontecerReprodução/Redes Sociais
Por Rachel Siston
Rio - Apesar da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Paciência, na Zona Oeste do Rio, ter ficado aparentemente vazia no início da tarde deste domingo (11), a enfermeira Regina Moreira dos Santos, de 52 anos, não conseguiu atendimento médico para o marido no local. O casal procurou a unidade por volta das 13h, porque o motorista aposentado, Wagner Santos da Silva, 58, diagnosticado com a covid-19 no último dia 31, teve um agravamento dos sintomas da doença.
A enfermeira conta que Wagner tomou os medicamentos indicados pela Unidade Básica de Saúde desde que testou positivo, e chegou a apresentar melhora, mas, entre o sábado (10) e o domingo, voltou a ter sintomas do novo coronavírus. Ela relata que ao chegar à unidade de saúde, apenas uma outra paciente aguardava atendimento.
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“A orientação da médica, era que se houvesse piora clínica, o levasse na emergência. O meu marido pode estar com comprometimento de pulmão. Eu posso comprar um soro, um equipo e hidratar, mas não é o suficiente. Até para eu hidratar, eu preciso saber se realmente tem necessidade. Ele está 'taquicárdico'. Eu que sou profissional da área da saúde, sei que um dos sinais de infecção é a taquicardia”, disse Regina.
Ao passar pela classificação de risco, conta ela, Wagner recebeu a pulseira verde, que representa risco baixo. O casal então foi alertado pelo enfermeiro de que o atendimento poderia não acontecer, porque a UPA estaria funcionando com apenas um médico neste domingo e atendendo somente as classificações amarela e vermelha.
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Unidade estava vazia quando casal buscou atendimento médico - Arquivo Pessoal
Unidade estava vazia quando casal buscou atendimento médicoArquivo Pessoal
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"Quando está cheio, entendemos a demanda aumentada e justifica realmente priorizar os casos por gravidade. Estando vazio, nada justifica o não atendimento”, se queixou Regina, que decidiu fazer uma transmissão ao vivo nas redes sociais para mostrar a unidade vazia.
“O sentimento é de abandono, de desrespeito e indignação, porque meu marido trabalhou a vida toda, contribuiu bastante e eu também, e quando a gente precisa de uma assistência médica, se vê ferido no seu direito. A saúde é um direito de todos e um dever do Estado. Eu me sinto realmente indignada com o descaso com a saúde pública”, desabafou a enfermeira.
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Regina ainda confessou que teme o agravamento do quadro do marido, porque, no ano passado, ela chegou a ficar intubada por conta da covid-19 e perdeu o pai, também vítima da doença. “Eu estou aqui para contar a história, mas o meu pai não está. O medo que eu tenho, é do agravamento do quadro do meu marido. A gente que já passou por isso, sabe quais são os sinais de gravidade. Saber que a gente não tem a quem recorrer, não tem uma assistência de saúde efetiva, dá medo”, lamentou.
Depois de esperar por cerca de duas horas, Regina e Wagner desistiram do atendimento e deixaram a unidade de saúde. Ela conta que a outra paciente que aguardava no local, também foi embora. Insatisfeita com a falta de atendimento, a enfermeira recorreu ao canal 1746 da prefeitura do Rio. Mas, até as 19h, ela não tinha conseguido finalizar a reclamação por problemas no sistema. “Nada funciona!”, se queixou. 
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Em nota, a coordenação da UPA Paciência informou que "o paciente Wagner Santos passou por classificação de risco que identificou o caso como risco verde, de menor gravidade no momento, e com prazo de atendimento de até 2 horas". Segundo a Secretaria de Saúde, "o sr. Wagner foi chamado para o atendimento antes do prazo, mas havia deixado a unidade".

Ainda segundo a nota, "vale ressaltar que, por se tratar de uma unidade de urgência, em que casos de maior gravidade são atendidos com prioridade, pacientes com quadro clínico estável podem aguardar atendimento por mais tempo".

A nota termina informando que "é importante lembrar que a Secretaria Municipal de Saúde, por meio da Empresa Pública de Saúde (RioSaúde),trabalha para a contratação de novos médicos para completar a escala de plantão no atendimento da UPA Paciência".