Estudo mostra disparidades comportamentais e econômicas entre bairros da Zona Sul e da Zona Oeste do Rio durante o período da pandemia de covid-19
Estudo mostra disparidades comportamentais e econômicas entre bairros da Zona Sul e da Zona Oeste do Rio durante o período da pandemia de covid-19Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia
Por Karen Rodrigues*
Rio - Um estudo da empresa Bateiah, composta por duas frentes de pesquisa o Informa e o Renoma, aponta uma grande disparidade comportamental em relação à pandemia da covid-19 entre moradores de bairros de alto e baixo poder aquisitivo da cidade do Rio. Segundo a pesquisa, 60,8% dos moradores de cinco bairros da Zona Sul carioca acham que seus vizinhos não respeitam as restrições da prefeitura no combate ao coronavírus, enquanto na Zona Oeste, esse percentual cai para 54,6% entre os moradores de quatro bairros com renda familiar baixa. No entanto, apenas 11,8% dos entrevistados na Zona Sul admitem ir à rua para atividades não essenciais. Já na Zona Oeste, esse percentual é de 18,9%
O sociólogo, diretor e presidente da Bateiah, Fabio Gomes, ressalta a diferença da comparação comportamental entre os bairros.
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“O que mais me chama atenção é quando a gente pergunta se os vizinhos estão respeitando. Você vê que 60% da Zona Sul diz que não e 54,7% da Zona Oeste diz que não. Sendo que a média de 15% diz que não está saindo para eventos não essenciais, mas 60% dos vizinhos desrespeitam. Você tem uma coisa curiosa que ‘a minha casa está tudo certo, mas o vizinho não está’. Tem uma proporção muito grande das pessoas que observam o vizinho, isso é uma forma de comparar o comportamento de fato das pessoas”, disse.
O contraste entre a proporção dos que dizem respeitar e os que observam nos vizinhos é gritante. De uma forma geral, independente do perfil, observa-se uma diferença significativa entre o percentual dos que não saem para atividades não essenciais, os que concordam com a Prefeitura e os que afirmam que os vizinhos não respeitam as regras.
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"Algumas pessoas estão respeitando, outras não. Por exemplo, existem restaurantes que as pessoas estão sentadas, respeitando, as pessoas estão espaçadas e tudo certinho. Mas a maioria dos restaurantes, dos bares estão lotados, não tem espaçamento entre as mesas, tem gente em pé aglomerando para poder entrar. As pessoas andando na rua, fazendo atividade física na praia não botam máscara. Por mais que esteja proibido, não está lotado, mas ainda têm pessoas indo para a praia e ficando deitadas na areia”, disse o morador do Leblon, Raphael Mariz, de 24 anos, sobre o comportamento dos moradores do bairro da Zona Sul.
Segundo a pesquisa, apenas 11,8% dos cariocas da Zona Sul dizem ir à rua para atividades não essenciais, enquanto, na Zona Oeste, esse percentual é de 18,9%. “Quanto ao hábito de saída para atividades não essenciais, o percentual dos que saem é sensivelmente maior na Zona Oeste. Entre os mais velhos a incidência de saídas não essenciais é menor”, aponta a pesquisa.
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“A população, de forma geral, nem mesmo adotou o uso de máscaras, principalmente se for para pequenos deslocamentos como ir até a esquina comprar pão. Aqui em Campo Grande existem ruas famosas por concentrarem grandes quantidades de bares e restaurantes. Ruas inteiras cheias de pessoas onde não passam carros”, contou Gustavo Oliveira, de 23 anos, morador de Campo Grande.
Saída para o trabalho
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Os dados não mostram diferença significativa da proporção de pessoas que saem para trabalhar, seja na Zona Sul ou na Zona Oeste o percentual é semelhante. Cabe salientar que o risco de contaminação com Covid dos moradores da Zona Oeste tende a ser maior, uma vez que a chance de utilização de transporte público é maior.
“É um bairro (Campo Grande) onde a maior parte dos serviços é de comércio. Então sim, a maior parte das pessoas trabalham normalmente. O fluxo só diminuiu próximo aos shoppings centers”, confirmou Gustavo.
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No Rio de Janeiro, independente da região de moradia, a frequência de pessoas que saem para trabalhar é mais intensa entre os homens. Observa-se também que quanto mais jovem o entrevistado, maior a chance de sair para trabalhar.
“Sair para trabalhar você não vê uma diferença muito grande entre os extremos, mas você observa que um pouco mais da Zona Oeste está saindo mais para trabalhar. Se você faz o corte desse comportamento em relação ao gênero, você vê uma diferença significativa. Homens saem mais para trabalhar dependendo da região. Um corte em relação à idade, você vê que quanto mais jovem, mais sai para trabalhar. A renda não explica os extremos, mas a idade e o gênero sim”, explicou o sociólogo.
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Comparação econômica
Em todos os públicos investigados no Rio de Janeiro, é destaque a sensação de que o ganho mensal familiar diminuiu. Mesmo entre as pessoas que moram em bairros de renda alta e renda baixa, a sensação de queda no poder aquisitivo prevaleceu. Na Zona Sul, 9,8% dizem que houve um aumento do ganho financeiro, já na Zona Oeste, 9,5%. Mas a diminuição do rendimento nas duas regiões teve um percentual maior de 60%.
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No caso da família do Raphael, da Zona Sul, a renda se manteve durante o período. “A renda familiar se manteve, porque minha família é médica, então mantiveram os empregos”.
A pesquisa ressalta que é tendencialmente maior a sensação de que viver ficou mais caro entre as pessoas de renda mais baixa.
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“A percepção sobre os preços, distingue poucos os públicos. Tanto a Zona Oeste, quanto a Zona Sul, disseram que realmente ficaram mais caros, eles percebem mais isso. A turma com renda menor vive mais para a subsistência. Quanto menor a renda, maior a finalidade dos recursos para a subsistência, não mais do que isso. Quando você vai para a renda mais alta, essa questão da sobrevivência já é vencida”, disse Fábio Gomes.
O diretor e presidente da empresa aponta que o impacto da pandemia da covid-19 foi muito maior nas famílias de baixa renda.
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“De qualquer forma, tem a percepção que o custo de vida aumentou, mas o que é mais gritante é que para a família pobre, a subsistência está sendo impactada, as pessoa já estão percebendo os efeitos da fome. Embora os números sejam parecidos nos dois extremos, os efeitos são mais dramáticos na população pobre. Essa comparação dos extremos no comportamental e no econômico mostra pequenas diferenças, mas grandes impactos”, concluiu.
A pesquisa de opinião pública foi realizada nos bairros do Leblon, Jardim Botânico, Ipanema, Lagoa, Bangu, Realengo, Santa Cruz e Campo Grande, no dia 30 de março de 2021. A base do cálculo amostral do estudo foram os dados do IBGE, estruturados em setores censitários. No total, 208 eleitores foram entrevistados.
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*Estagiária sob supervisão de Yuri Hernandes