Policiais militares socorrem baleados em passarela da movimentada Avenida Martin Luther King, na altura do Morro do Juramento
Policiais militares socorrem baleados em passarela da movimentada Avenida Martin Luther King, na altura do Morro do JuramentoReprodução/ TV Globo
Por O Dia
Rio - Após as 12 horas de pavor para os moradores da Zona Norte do Rio, que resultou em nove mortes, a Defensoria Pública do Rio informou que pretende pedir ao Superior Tribunal Federal (STF) que se pronuncie sobre essas ações da Polícia Militar. Em junho, O STF determinou a suspensão de ações policiais em comunidades do Rio durante a pandemia da covid-19
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Pela decisão do STF, as operações poderão ser deflagradas somente em casos excepcionais. A polícia ainda deverá justificar as medidas por escrito e comunicá-las ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, órgão responsável pelo controle externo da atividade policial.
O subcoordenador do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Rio Daniel Lozoya ressaltou o objetivo da Defensoria Pública do Rio de Janeiro. "A Defensoria pretende, em conjunto com organizações e movimentos sociais da sociedade civil, pedir ao Supremo que se pronuncie sobre o conceito de absoluto excepcionalidade, já que parece existir uma dificuldade ou uma interpretação inadequada desse conceito, então, pedir que seja um conceito mais restrito desse entendimento". 
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Outro objetivo do órgão é criar um "observatório da sociedade civil", com o intuito de acompanhar e monitorar o cumprimento da decisão do STF. "Medida que a Defensoria Pública já vem fazendo, mas entende ser necessário um acompanhamento mais próximo por parte do Supremo e com auxílio da sociedade civil".
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Lozoya também falou sobre o aumento das operações policiais em comunidades, mesmo com a restrição.  
"A Defensoria vem observando um aumento de operações policiais e da letalidade policial, especialmente a partir do mês de outubro do ano passado. Depois de quatro meses de vigência da medida cautelar emitida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou a suspensão das operações policiais, nós observamos uma redução muito significativa, da ordem de 70% da letalidade policial, no entanto houve uma reversão dessa tendência a partir do mês de outubro", explicou o subcoordenador.
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"No inicio desse ano, nós retornamos ao patamar anterior ao da decisão [do STF], com uma média de cinco mortes por dia. Se a gente for comparar com o Estados Unidos, as polícias de todo o país norte americano têm uma média de três mortes por dia, em uma população 20 vezes maior que a do estado do Rio, então, são níveis absurdos", ressaltou.
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Em nota, a PM afirmou que em nenhum desses confrontos eram operações. Nas ações realizadas no Morro do Juramento, Providência e Prazeres, os policiais teriam sido atacados.
Confronto deixa 18 baleados 
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Um vigilante, uma caixa de supermercado e um marceneiro estão entre os 18 baleados nesses confrontos. O vigilante, Denis Francisco Lima Paes, e o marceneiro, Gemerson Patricio de Souza, morreram. A caixa de supermercado Bruna Barros Viana, de 39 anos, foi atingida no pescoço, mas sobreviveu.
Bruna Barros foi baleada na noite da última segunda-feira (26). Ela foi atingida no pescoço durante um tiroteio na Rua Barão de Petrópolis, no Rio Comprido, Zona Central da cidade, próximo ao Morro dos Prazeres, quando estava dentro de uma van, retornando do trabalho. No local, a PM informou que o traficante Marcelinho dos Prazeres foi morto. Na tarde de ontem, a família informou que ela passava bem e já conseguia conversar com a família.
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Informações iniciais apontavam que ela não conseguia mover as pernas e os braços. No entanto, segundo a família da baleada, o quadro de saúde foi estabilizado e Bruna já consegue realizar pequenos movimentos. O médico informou à família que por muito pouco ela não faleceu. A bala ficou alojada em seu pescoço mas, ainda segundo os médicos, ela não corre o risco de ficar tetraplégica.
Ela foi socorrida e levada ao Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro. A caixa de supermercado estava a caminho da casa da filha de 19 anos no Rio Comprido, para o aniversário da jovem, quando foi atingida. Nesta quarta-feira, a Secretaria Municipal de Saúde informou que o quadro da Bruna é estável.
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O vigilante Denis foi baleado no Morro dos Prazeres, também na noite de segunda (26). Ele foi ferido na perna e chegou a ser levado com vida para o hospital, mas não resistiu. O trabalhador estava voltando para casa quando foi atingido. Ele deixa esposa e cinco filhos.
O marceneiro Gemerson morreu durante o intenso tiroteio entre criminosos e policiais militares, no começo da manhã de terça-feira (27), no Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, na Zona Norte do Rio. De acordo com a PM, pelo menos sete pessoas foram baleadas na região.
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Gemerson Patrício foi atingido quando passava na passarela localizada acima da Avenida Pastor Martin Luther King Jr., na altura da estação do metrô de Tomás Coelho. Ele foi socorrido para o Hospital municipal Salgado Filho, no Méier, mas não resistiu e morreu. De acordo com amigos, que prestaram homenagens ao trabalhador nas redes sociais, Gemerson estava a caminho do trabalho.
"A gente que trabalhava ali via como era perigoso porém a gente nunca espera que vai acontecer sai de lá já em 2019 e vejo que foi um livramento", escreveu um colega da vítima. Informações iniciais apontam que ele era morador de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias. Ele deixa esposa e dois filhos.
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MPRJ foi comunicado de mais de 400 operações policiais no estado
Até o inicio de abril, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) foi comunicado, desde o ano passado, de mais de 400 operações policiais realizadas em comunidades do estado, a grande maioria na Região Metropolitana. Uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), de 5 de junho de 2020, estabeleceu regras para as ações policiais em favelas. As incursões devem ser realizadas em casos excepcionais e informadas em "um período de até 24 horas após o início da operação", segundo informou o MP, em nota.
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De junho do ano passado até abril deste ano, 423 operações foram comunicadas oficialmente ao Ministério Público, que registra as ações em um documento público no portal oficial. Magé, São Gonçalo, Nova Iguaçu e Rio foram algumas das cidades com mais ações policiais no período.