Carlinhos Três Pontes e Ecko posam para o timereprodução

Por Yuri Eiras
Rio - Os torneios de peladas no campo do Sete de Abril, em Paciência, Zona Oeste do Rio, reúnem centenas de pessoas nos alambrados. Atletas amadores e até ex-profissionais batem bola aos finais de semana, com direito a troféu e narração ao vivo. Anos atrás, em tempos de menos fama nas páginas de jornais, quem dava as caras pelo Três Pontes era a dupla de irmãos milicianos Carlos Alexandre da Silva Braga, Carlinhos Três Pontes, e Wellington da Silva Braga, o Ecko. Informações de inteligência da Draco-IE (Delegacia de Repressão as Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais) apontam que Ecko tinha o hábito de distribuir premiação em dinheiro e cordões de ouro aos jogadores, numa espécie de 'bicho' do poder miliciano.
No último campeonato, mês passado, Ecko presenteou alguns peladeiros do time que representa a comunidade de Três Pontes. A distribuição de mimos valiosos, aliás, era um costume pessoal. No último sábado (12), dia da captura e morte do miliciano, a Polícia Civil encontrou um cordão de ouro que seria dado para a esposa como presente de Dia dos Namorados. 
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Polícia Civil apreendeu um cordão que seria presente de Dia dos Namorados para a esposa de Ecko - Divulgação / PCERJ
Polícia Civil apreendeu um cordão que seria presente de Dia dos Namorados para a esposa de EckoDivulgação / PCERJ
Ecko não era tão presente nos encontros de futebol, ao contrário do irmão Carlinhos Três Pontes, morto em operação policial em 2017. Carlinhos assistia e participava dos jogos pelo time amador local. Em setembro de 2016, a Delegacia de Homicídios chegou a fazer um cerco ao miliciano durante a semifinal de um campeonato, mas ele conseguiu escapar. Morreu sete meses depois, em abril. O irmão de Ecko chegou a ganhar bandeira personalizada.
Carlinhos Três Pontes ganhou bandeira - WHATSAPP O DIA
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Em um dos raros registros juntos, em 2012, Ecko e Carlinhos Três Pontes aparecem na foto posada do time, vestido sempre com o uniforme completo e mais recente do Flamengo. Carlinhos está em pé, Ecko agachado.
Carlinhos Três Pontes e Ecko posam para o time - WHATSAPP O DIA
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Segundo moradores, Ecko não era visto no dia a dia da comunidade, mas o seu poder era percebido de outras formas, como no patrocínio ao time de pelada, ou nos reservados passeios a cavalo em um rancho em Paciência. "Eu nunca o vi, mas ele tinha uma série de apelidos, então é comum que em determinados locais você ouça um nome que se refira a ele. 'O Zero mandou fazer isso', por exemplo. Zero era ele. Na verdade, Ecko é o nome mais raro dele dentro da comunidade", explica um morador.
Ecko comprou R$ 100 mil em cestas básicas
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Além da cobrança de taxas ilegais de segurança para moradores e comerciantes, a milícia de Wellington da Silva Braga, o Ecko, também investia na monopolização da venda de cestas básicas em comunidades dominadas da Zona Oeste. Uma das anotações encontradas no caderno do miliciano, morto no último sábado (12) pela Polícia Civil, revela a compra de R$ 100 mil em cestas básicas.
Agentes da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) informaram que já estavam monitorando essa movimentação. Em uma outra apuração da especializada, antes da morte de Ecko, o grupo miliciano armou um esquema de agiotagem, realizando empréstimos de dinheiro sob juros abusivos. No caderno apreendido, uma anotação de Ecko mostra que os empréstimos chegavam a R$ 50 mil para uma única pessoa.

A Polícia Civil do Rio acredita que o caderno apreendido na casa do miliciano, com cerca de 60 páginas com anotações de repasse de armamento de guerra e munições, possa ajudar no andamento das investigações da Força-Tarefa montada para desarticular os principais braços financeiros que eram mantidos pelo criminoso.
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Arsenal de fuzis e munições
De acordo com o delegado Willian Pena Júnior, diretor da Draco, Ecko tinha mais de 100 fuzis emprestados em mais de 50 comunidades do Rio. No caderno, bairros do Rio, como Santa Maria, na Taquara; Gardênia Azul; Estrada do Campinho, em Campo Grande e Belford Roxo recebiam armamento do grupo. Um dos criminosos que consta nas anotações, identificado como 'Bundão', chegou a receber de uma só vez oito fuzis com 22 carregadores, além dezenas de carregadores para outros tipos de armamento.