Secretaria Municipal de Saúde do Rio e especialista orienta população a se vacinar com o imunizante disponível no posto e reforça que todos são seguros e eficazes contra a covid-19Reprodução

Por Jorge Costa*
Rio - O chamado 'sommelier de vacina', fenômeno que ganhou espaço fora das redes sociais, pode prejudicar a campanha de imunização no Rio de Janeiro. A prática consiste em ir ao posto de vacinação e não tomar uma determinada vacina, mesmo com o fato de todos os imunizantes contra a covid-19 serem seguros e aprovados pela Anvisa. A medida não é permitida e a  Secretaria Municipal de Saúde (SMS) do Rio afirmou, em nota, que a atitude pode comprometer o processo. A pesquisadora em Saúde da UFRJ, Chrystina Barros, explicou que está é a primeira vez que tal fenômeno acontece na história e alertou que esse comportamento não tem fundamento.
A Secretaria Municipal de Saúde destacou e reiterou a segurança e eficácia de todas as vacinas contra a covid-19 disponíveis no Brasil. O órgão também orientou que as pessoas devem comparecer aos postos e se imunizar com a vacina que estiver disponível no momento, por fim, emitiu um alerta:
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“Escolher a vacina e se recusar a tomar outra porque a preferida não está disponível no momento é um equívoco que retarda a proteção da pessoa e a deixa vulnerável por mais tempo, desnecessariamente", afirmou a pasta.
A preferência de quem acha natural escolher vacinas é pela Pfizer, em detrimento dos imunizantes CoronaVac e da Oxford / AstraZeneca. Os motivos que impulsionaram a rejeição das marcas fabricadas no país são a expansão das notícias falsas sobre riscos de eventos colaterais e teorias sem fundamento sobre eficácia das vacinas. A chegada da vacina Janssen nesta quinta (24), no Rio de Janeiro, pode correr o risco de provocar um aumento deste comportamento, pois, diferente das outras marcas, esta requer apenas uma dose única. 
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A atriz Fernanda Torres foi envolvida em uma polêmica que acontece dentro dessa discussão. Ela foi até um hospital na Zona Sul do Rio de Janeiro, no dia 10 de junho e acabou deixando o local porque não seria vacinada com a dose da Pfizer. Após receber críticas nas redes sociais, ela recuou da decisão e registrou o momento em que tomou o imunizante AstraZeneca.
No município de Campinas, interior de São Paulo, também foi anunciado nesta semana em um site de vagas de emprego um anúncio para trabalho como governanta, no entanto, uma das exigências é que os funcionários interessados fossem vacinados com a Pfizer. O Ministério do Trabalho investiga o caso, que foi denunciado pela Folha de São Paulo.
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A pesquisadora do Centro de Estudos em Gestão de Serviços de Saúde do COPPEAD/UFRJ, Chrystina Barros, condenou a desinformação sobre a vacinação e destacou que o surgimento do fenômeno está aliado ao negacionismo contra a vacina.
"A vacina infelizmente volta aliada ao discurso negacionista. Em nenhum momento na nossa história nós fomos ao posto de saúde tomar a vacina da gotinha para evitar a paralisia infantil discutindo quem é o fabricante da vacina. Infelizmente a postura de pessoas negacionistas tem trazido à tona discussões que não levam a nada. Eu reitero, negacionismo não é política, mas sim negar a ciência e a vida", afirmou a pesquisadora.
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A infectologista Tânia Vergara, presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro, também reforçou que não faz sentido adiar a vacinação.

Muito mais arriscado do que qualquer evento adverso vacinal é ter covid. Portanto, não faz nenhum sentido adiar a vacinação já que é essa, até o momento, a única medida preventiva farmacológica eficaz disponível. Quanto mais cedo a pessoa recebe a vacina, menor o risco de adoecer. Mesmo quem não adoece, ou seja, tem sintomas, pode transmitir. Dessa forma a pessoa não vacinada aumenta o risco dela e das pessoas com quem convive e essas de outras e assim sucessivamente”, explicou.
Para Chrystina, a vacina é além de um direito uma obrigação e todos devem se imunizar com o que estiver disponível. Ela reforçou que todos os imunizantes são seguros, eficientes, e que nenhuma consegue evitar em 100% a contaminação da covid-19. 
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"Nenhuma vacina evita em 100% a contaminação da covid-19 e enquanto o vírus estiver circulando nas taxas que tem circulado nós temos o risco de que variantes surjam e que comprometam a eficácia de qualquer vacina. Escolher o fabricante é reforçar, tentar promover, que existe o questionamento da eficácia da vacina, quando na verdade o que a gente precisa é da ampla cobertura, vacina boa é vacina no braço, e no braço de todos nós ao mesmo tempo", disse.
Em relação a vacina Janssen, Tânia Vergara explicou que ela possui uma vantagem de ser uma dose única, sendo a única diferença destacável, mas ressaltou que a quantidade de doses que serão distribuídas é muito pequena e quem decide os grupos que receberão a vacina é o Programa Nacional de Imunização.
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"Vacinas são como qualquer medicação: não existe aquele que seja livre de efeitos adversos. A vacina da Janssen é de adenovírus, como a da AstraZeneca. É comum ter alguns efeitos colaterais leves a moderados ao receber qualquer tipo de vacina. O motivo é que seu sistema imunológico é desafiado e para combater o agente estranho ao seu corpo, provoca aumenta o fluxo sanguíneo para que mais células imunes possam circular. A febre é uma tentativa do corpo para matar o vírus. O que é importante saber é que as vacinas ensinam seu sistema imune a combater o vírus, caso você seja exposto e infectado", explicou. 
Sobre a prática de exigir que o empregado seja vacinado a partir de um fabricante específico, Chrystina Barros classificou a atitude como uma ação discriminatória.
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"É completamente fora de qualquer propósito, não ajuda em nada, não tem nenhum sentido e chega a ser discriminatório exigir que uma pessoa seja vacinada com a marca da vacina A,B ou C", explicou.
*Estagiário sob supervisão de Thiago Antunes