Policiamento foi reforçado no bairro pra tentar travar a expansão do poder da quadrilha, que vem agindo com violêcia contra moradores do local, que já foi um pacato recanto na Baía de Guanabara Fábio Costa/Ag.O Dia

Rio - Na pacata ilha de cerca de 4,5 mil habitantes, a presença do policiamento tem chamado atenção. A rotineira ação de PMs realizando patrulhamentos em Paquetá, passou a se fazer necessária não só para garantir a tranquilidade, mas também para combater o crime. Investigações da 5ª DP (Mem de Sá) apontaram que narcomilicianos estariam se instalando na região. O DIA teve acesso ao inquérito que mostra que assim como fazem nos demais bairros cariocas, os criminosos estariam monopolizando atividades comerciais e extorquindo moradores e comerciantes.
Ao longo de quatro meses de trabalho, a distrital descobriu que os narcomilicianos, ligados à facção Comando Vermelho (CV), passaram a agir em Paquetá no ano passado, explorando a venda ilegal de gás, fornecimento de água potável e serviços de internet. A ilha fica localizada no meio da Baía de Guanabara, a 17 quilômetros de distância do Centro do Rio.
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"Tem uma milícia sendo constituída lá. A questão da venda de gás, por exemplo, descobrimos que eles estão monopolizando a atividade. Estão querendo obrigar que os comerciantes tradicionais a comprarem de um depósito indicado por eles, para conseguirem lucrar ilegalmente com o comércio. Com isso, eles estão ameaçando essas pessoas e querendo obrigá-las a pagar uma taxa", explicou o delegado Bruno Gilaberte, titular da 5ª DP.
A polícia ainda investiga se a exploração dos serviços de internet na Ilha de Paquetá está sendo realizada através de uma empresa que tem como sócio oculto uma antiga liderança do Comando Vermelho no Estado do Rio.
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As investigações também revelam que os bandidos têm agido de forma violenta e coagindo suas vítimas a denunciarem seus abusos. Segundo o relatório policial, a associação criminosa local, liderada por um homem identificado apenas como Pierre, vem constrangendo os moradores da região, que temem represálias. Testemunhas que temem se identificar contaram aos agentes que o suspeito é conhecido por ser 'dono' de Paquetá e insinua estar armado.
Aumento da violência preocupa moradores
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Na saída das barcas, principal meio de transporte para se chegar à Paquetá, uma viatura da Polícia Militar se mistura às bicicletas e carrinhos que fazem passeios turísticos pelos principais pontos da ilha. Por conta da chegada de criminosos, o cenário de beleza natural e de aparente tranquilidade, agora se mistura à presença de agentes de segurança.
De acordo com a PM, desde dezembro de 2019 não há registros de homicídios na ilha. Entretanto, a Polícia Civil afirma que recentemente, corpos vítimas de morte suspeita foram encontrados nos arredores de Paquetá.
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O aumento da violência preocupa os moradores do bairro, que é conhecido por receber turistas que buscam tranquilidade durante passeios de bicicleta e piqueniques.
Nascido e criado em Paquetá, um homem, que prefere não se identificar, conta que tradicionalmente todos se conhecem no local e que os moradores da ilha têm uma relação muito próxima uns com os outros. Segundo ele, novos moradores são bem-vindos, no entanto, os desconhecidos, por vezes, podem gerar desconfiança.
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"Todo mundo aqui se conhece. Nos últimos tempos, temos vistos gente nova por aqui, que veio morar aqui há pouco tempo. Não sabemos quem são essas pessoas e isso deixa a gente preocupado. Temos medo que isso acabe trazendo o crime e a violência para cá", desabafou.
Ilha ainda é tranquila, garante morador
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Presidente da Associação de Moradores de Paquetá, Guto Pires, reconheceu que com o aumento da criminalidade em outros lugares da capital e do estado, era natural que bandidos migrassem para a ilha.
"Há 25 anos, quando troquei o Rio por Paquetá, eu dormia com a casa aberta e deixava minha bicicleta dormir na rua. Hoje, eu não deixo a casa aberta quando vou dormir. É claro que com o aumento da violência no estado isso pode respingar em qualquer lugar, então, a gente fica mais atento", declarou.
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Mas, apesar da ilha não ser mais tão pacata como era antes, o local ainda é muito tranquilo, garante Pires.
"Minha bicicleta ainda consigo deixar na rua sem preocupação. Paquetá ainda é um local seguro, onde você pode caminhar pelas ruas até tarde sem medo", finalizou.