Manchas de sangue em bar onde ocorreu chacina em Porto Velho, no Campo da Brahma, em São GonçaloDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

Rio - A Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DHNSG) concluiu que a chacina que matou quatro pessoas e feriu 7 em um bar, em São Gonçalo, tinha como um dos alvos, um ex-agiota que teria se desentendido com os criminosos. Ele já havia sofrido uma tentativa de homicídio em 2018 e na época, seu irmão foi assassinado. Ambos teriam se negado a pagar um percentual aos líderes da milícia por atuarem como agiotas na região. Em 2019, ele foi um dos sobreviventes do ataque ao bar, mas sua mulher, que estava ao seu lado, não resistiu e morreu no local. Ele contou que avistou um veículo escuro se aproximar e se escondeu quando notou alguém apontando uma arma para o local.
O ex-agiota também contou em depoimento que o dono do estabelecimento já havia sido cobrado diversas vezes antes da chacina. Comerciantes da região são obrigados a pagar taxas à milícia. Ele também disse que era envolvido com a agiotagem, mas que já tinha parado com a prática há cerca de um ano.
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As investigações apontaram ainda que a ordem do crime veio de dentro do presídio, em Bangu 9, no Complexo de Gericinó. Anderson Cabral Pereira, conhecido como Sássa, chefe da milícia local, preso, teria ordenado ao traficante Ronan Azevedo Bento, o Jogador, preso após o crime, a executar o crime. A identificação da munição também ajudou nas investigações. A munição utilizada na chacina foi a mesma de um outro homicídio ordenado pela milícia.
Anderson Cabral Pereira, conhecido da Sássa - Divulgação/PCERJ
Anderson Cabral Pereira, conhecido da SássaDivulgação/PCERJ
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Ronan Azevedo Bento, conhecido como Jogador - Divulgação/PCERJ
Ronan Azevedo Bento, conhecido como JogadorDivulgação/PCERJ
Dentro da cadeia, Sássa disse aos seus companheiros de galeria que vissem uma reportagem na televisão em que mostrava a chacina de São Gonçalo. Na época, o criminoso teria dito aos demais presos "Estão achando que só vocês fazem chacina em Itaboraí?", questionou reivindicando a autoria do crime e alegando que o irmão o teria ajudado a concretizar a ação.
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De acordo com a Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG), Ronan e Sássa irão responder por homicídio triplamente qualificado e tentativa de homicídio triplamente qualificado. A milícia liderada por Sássa conta com a ajuda da namorada do criminoso e atua nos bairros Gradim, Porto Velho, Porto Novo e Boa Vista, em São Gonçalo. De acordo com as investigações da DH de Niterói, a mulher atua na organização criminosa controlando a venda de gás da região e cobra taxas pelo serviço ilegal de segurança à comerciantes.
A DH acredita ainda que o assalto a um outro bar, momentos antes da chacina, tenha sido uma manobra para fazer com que a ação parecesse um roubo em série. Os ocupantes do veículo abordaram frequentadores do estabelecimento, levaram seus celulares e depois partiram em direção ao local onde a chacina aconteceu.

Na disputa com traficantes pela domínio das atividades criminosas, Sássa teria ordenado que Ronan executasse outra chacina, dois meses depois da ocorrida em Porto Velho, num ponto de venda de drogas da favela do Crime, no Gradim. Na ocasião, três homens morreram e dois ficaram feridos.
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Quatro mortos e sete feridos
As vítimas confraternizavam junto às famílias com churrasco, bebida e música após uma partida de futebol, em um encontro que acontece há 30 anos. Morreram a comerciante Janete Bezerra dos Santos Ribeiro Pinto, 48 anos; Fábio Rosa de Souza, 41 anos; o professor de espanhol José Luiz Caetano, 56 anos; e o pintor Valdir Pinto Oliveira Sobrinho, 61 anos. Segundo a polícia, nenhuma das vítimas tinha passagem pela polícia. De acordo com a delegada Bárbara Lomba, que comandava a Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI), quatro criminosos de coletes, possivelmente do Morro do Feijão, seriam os responsáveis pelo ataque ao bar da Brahma, onde as vítimas faziam a confraternização.
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*Estagiária sob supervisão de Thiago Antunes