Mães de pacientes do Instituto Nacional do Câncer (Inca) fazem um protesto em frente à sede da instituição, na Praça da Cruz Vermelha, no Centro do RioRobson Moreira/ O DIA

Rio - Cerca de 40 mães de pacientes do Instituto Nacional do Câncer (Inca), realizaram um protesto em frente à sede da instituição, na Praça da Cruz Vermelha, no Centro do Rio, nesta terça-feira. Desesperadas, elas pediram que a instituição não desampare seus filhos, muitos deles ainda em tratamento e fazendo uso de remédios controlados. O protesto foi motivado após as famílias receberem um aviso do Inca informando que a matrícula institucional de cerca de 400 pacientes seria desativada nos próximos dias. A denúncia já havia sido feita por outras mães ao DIA, em junho deste ano. Tratam-se de pacientes que, na visão da instituição, estariam aptos a receberem alta; no entanto, segundo as mães, a situação é bem diferente.
"Eu soube que minha filha teria alta quando vim trazer para a consulta de rotina dela. Fui informada, enquanto passava pelo corredor do Inca, que ela seria desligada em dezembro deste ano. Ela está desesperada, chora dia e noite depois que recebemos essa notícia", conta Cátia Ferreira Rodrigues, de 48 anos, mãe de Letícia Ester Rodrigues, de 22 anos. Há 12 anos em tratamento no Inca, Letícia tem uma válvula implantada no cérebro e toma remédio para controle de sódio e potássio, caso tome a dosagem incorreta, pode convulsionar.
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Mães de pacientes do Instituto Nacional do Câncer (Inca) fazem um protesto em frente à sede da instituição, na Praça da Cruz Vermelha, no Centro do Rio - Robson Moreira/ O DIA
Mães de pacientes do Instituto Nacional do Câncer (Inca) fazem um protesto em frente à sede da instituição, na Praça da Cruz Vermelha, no Centro do RioRobson Moreira/ O DIA
Cátia explica que com o desligamento dessas matrículas, os pacientes perdem o acompanhamento médico, a realização de exames e o acesso a remédios controlados. No caso da filha de Cátia, os medicamentos custam em torno de R$ 500 se comprados por conta própria. "Não tem problema em ter que pagar, eu me desdobro no trabalho e junto esse dinheiro, mas como que eu vou pagar por uma dosagem de medicamento que eu não sei quanto é? Minha filha precisa fazer exame de sangue a cada três meses e aí o médico vai ajustando. Eu preciso de um profissional para saber qual dosagem certa", diz Cátia.
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De acordo com as mães dos pacientes, elas foram orientadas a buscar uma Clínica da Família para continuar com o acompanhamento. Cátia, que é funcionária de uma Clínica da Família, explica que a orientação é equivocada, uma vez que, por experiência própria, sabe que não há estrutura adequada para o tratamento de câncer.
Cleide dos Santos, de 37 anos, mãe de Alvim Campo de Lima, de 18 anos, conta que seu filho também ficou em uma situação delicada. Alvim tem prótese ocular e necessita de manutenção frequente, mas foi orientado pelos próprios funcionários do Inca a entrar na fila do Sisreg, o sistema de regulação de vagas de exames, cirurgias e consultas em hospitais públicos, para agendar um exame. "Estamos falando de uma instituição federal que recebe apoio do governo para oferecer o suporte necessário para esses pacientes, como assim mandam a gente para outras instituições que não possuem capacidade de nos receber? É um absurdo, eles viraram as costas para a gente", se indigna Cátia.
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Uma das líderes do protesto, Cátia rebateu um argumento usado pelo Inca de que poderiam reativar a matrícula se em seis anos o câncer do paciente retornar. "Para eu saber que o câncer retornou eu preciso de exames, preciso seguir um tratamento adequado, preciso de acompanhamento, a partir do momento que esses pacientes não têm isso, como eu vou saber se voltou?", questiona.
Procurado, o Inca disse que os pacientes citados estão com a matrícula ativa desde o início de julho. "O paciente Alvim Campos de Lima esteve no Instituto nos dias 12 e 15 de Julho e têm consulta agendada no dia 17/08 para manutenção da prótese odontológica. A paciente Leticia Ester Rodrigues Gonçalves hoje (27/07), tem consulta agendada com a neurocirurgia. Nos dias 12/08, 16/08 de agosto e 01 de novembro". Confira a íntegra: 
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"O Instituto Nacional de Câncer (INCA) informa ainda que a Alta Institucional é um processo natural e automático que permite a alta segura dos pacientes que tenham terminado o tratamento oncológico no Instituto, há cinco anos ou mais, sem apresentar sintomas da doença.

A equipe médica presta atendimento individual aos pacientes e apoia os familiares até os seis meses após à alta. Os pacientes ainda podem realizar consultas médicas ou odontológicas, além de exames previamente agendados e a obtenção de medicamentos referentes à última receita. Em casos de volta do tumor, segunda neoplasia ou outro motivo justificado, os pacientes poderão ter a matrícula no INCA reativada, após o aval da equipe médica.

Em conjunto com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, os pacientes do INCA aptos à Alta Institucional serão encaminhados automaticamente para a Clínica da Família mais próxima de sua residência. Todo o histórico do tratamento no Instituto estará disponível para o médico da família acompanhar e prestar os próximos atendimentos necessários."
A Secretaria Municipal de Saúde do Rio também foi procurada para falar sobre a capacidade das Clínicas da Família em receber os pacientes do Inca. Ainda não houve resposta.
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*Estagiária sob supervisão de Thiago Antunes