Não faz muito tempo, o jornalista aposentado Edmilson Francisco, de 74 anos, só precisava pegar o parador 398 (Campo Grande-Tiradentes, via Posse), quase na esquina de casa, para chegar no Centro do Rio. Mas, assim como outras que ligavam Campo Grande à região central, a linha foi perdendo ônibus ao longo dos anos e desapareceu de vez durante a pandemia da covid-19. A viagem ficou mais cara, longa e cansativa, já que ele e milhares de passageiros precisam passageiros têm como melhor opção 770, o 771 ou uma van até Coelho Neto e, depois, o metrô.
Edmilson, acostumado a ir até o Centro com frequência para resolver algumas pendências, é um dos que adotou o metrô como alternativa. Para não depender apenas do 771, outro que teve a frota reduzida durante a pandemia, ele ainda anda quase 1km até o ponto de ônibus para ter mais opções.
"Às vezes, fico até uma hora aguardando no ponto. É um sofrimento essa condução. Deveriam aumentar o número de carros. As pessoas ficam mais tempo na condução do que no trabalho", reclamou o aposentado, que também costumava pegar o 366 (Campo Grande-Tiradentes, via Mendanha), extinto durante a pandemia. "É muito cansativo", completou.
Já a bibliotecária Evellyn Nascimento, de 24 anos, passa cerca de quatro horas por dia dentro do transporte público. Poderia ser bem menos se o 398 e o 395 (Coqueiros-Tiradentes) ainda existissem, mas, sem eles, a baldeação com o metrô ou o trem se tornou quase obrigatória no trajeto entre Santíssimo, onde mora, e o Centro do Rio.
"Os ônibus estão em péssimas condições e linhas foram extintas sem qualquer aviso prévio, como 398 e 395, únicas que faziam o trajeto até o centro. E os outros ônibus essenciais de ligação, como o 771, estão sendo retirados da frota pouco a pouco, nos dificultando a chegar ao Centro e à Zona Sul", conta Evellyn.
Com a piora gradativa no serviço das empresas, a esperança de melhora morreu há muito tempo. O que persiste nos passageiros é medo do perrengue no dia a dia ficar ainda maior depois da conclusão das obras do BRT Transbrasil, que se arrastam desde 2014 deveriam estar concluídas em 2018.
"Há uma extrema necessidade de investigação das empresas de ônibus da Zona Oeste e o porquê do sumiço de linhas importantes, A promessa do BRT pode piorar a situação se não houver uma atenção especial", alerta a bibliotecária, indignada.
Não é só na Zona Oeste do Rio que a falta de ônibus atrapalha os trabalhadores. Na Zona Norte, por exemplo, a linha 456 (Norte Shopping-Copacabana) também parou de circular durante a pandemia. Já o 457 (Abolição-Copacabana) e o 607 (Cascadura-Rio Comprido) raramente são vistos pelos passageiros.
A Secretaria Municipal de Transportes, em resposta ao MEIA HORA, apresentou alternativas. Quem pegava o 456 pode usar o 621 ou 622 e 455. Para o 457, uma opção é pegar o 650 e o 455. O 607 pode ser substituído pela baldeação 636 e 426.
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Secretaria procura soluções
Em contato com o MEIA HORA, a Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) reconheceu as limitações do sistema de ônibus em toda a cidade e disse que "tem se reunido com representantes dos consórcios em busca de melhor atendimento à população". Os itinerários e frotas de cada linha estão sendo revisados pela pasta, que lançará em setembro a licitação da bilhetagem digital, visando a melhoria do serviço.
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Segundo a SMTR, o projeto "dará ao município o controle da arrecadação tarifária e o monitoramento da demanda de passageiros em todas as linhas, por meio dos dados de GPS instalados nos novos validadores. O objetivo é garantir maior transparência financeira, planejamento com dados confiáveis, possibilidade de investimentos e melhoria dos serviços das linhas de ônibus".
Sobre as linhas de ônibus de Campo Grande para o Centro, a pasta apresentou alternativas: "em relação ao 366, os passageiros podem pegar a linha 770 com a 399. Quanto à 398, podem embarcar na 771, na 790 ou na 936 com a 399". A secretaria também lembrou da linha 397 (Campo Grande-Candelária), mas, para embarcar nele, é necessário ir até a rodoviária do bairro.